quinta-feira, 30 de junho de 2016

FERREIRA PINTO, EMBAIXADOR DA CRUZ DE CRISTO EM AMARANTE

FERREIRA PINTO
Ferreira Pinto, ou o embaixador da Cruz de Cristo em Amarante.

CRÓNICA DE HÉLDER BARROS
Esta imagem reporta-nos ao ano de 1986/87, no Estádio Municipal de Amarante, ainda pelado, com a bancada de sócios primitiva e cheia de adeptos alvinegros, para assistir a um (Amarante F.C. 2 vs Paços de Ferreira 1), na categoria de Juniores. Pode-se ver a configuração inicial dos bancos de suplentes, em que víamos o jogo abaixo do plano horizontal do campo, daí o banco improvisado em cima... e lá está, o Mr. Ferreira Pinto, de camisola azul, mas azul com a Cruz de Cristo, como ele faz o favor de nos lembrar sempre que nos encontra. Ao meio o Ferreira, é assim que gosto de lhe chamar, O Sr. Manuel sempre elegante, à direita; o magricela de risca ao meio sou eu; ao meu lado o Quim de Figueiró, que era o guarda redes suplente do Henrique de Vila Chã; o Oliveira de Gatão à direita do Ferreira; do lado esquerdo, temos o Guedes de Bustelo ao lado do Zé Carlos de Codessoso, Celorico de Basto.

Aproveito esta fotografia que guardo com saudade, para homenagear, ainda que de forma humilde, o Mister Ferreira Pinto. Não sendo natural de Amarante, o Ferreira é imanente a Amarante; acho que ninguém consegue dissociar o Ferreira, de Amarante. Anda pelas ruas da cidade sempre com um riso malandro, quase ninguém passa por ele sem o saudar, metendo-se com ele, e a sua simpatia irradia pelas ruas da nossa cidade, conferindo mais alegria aos dias que vão passando.

Agora que tenho o privilégio e a honra de conviver mais com ele, pois na qualidade de avô, lá vai esperar pelos netos à porta da Escola, como eu vou levar e trazer, os meus filhos. Os anos parece que não passam por ele; nem mais gordo, nem mais magro, sempre com o mesmo olhar atento e malandro, pouca coisa lhe escapa. Parecendo distraído e alheado das coisas, pouca gente passa imune às suas picadelas futebolísticas, atacando preferencialmente, os portistas, como eu... e lá lhe lembro que sou da mesma cor, azul; mas ele diz sempre que falta a Cruz de Cristo, para o azul ser maior.

Em Amarante, não conheço mais ninguém, que seja adepto do Belenenses; mas o Clube da Cruz de Cristo tem cá um excelente embaixador... foi com alegria que o revi durante este ano letivo, ao toque das campainhas da Escola EB1 + J de Amarante, orgulhoso e até vaidoso com as vitórias do seu Belenenses, que regressou de forma brilhante à primeira divisão; e o Ferreira faz questão de lembrar isso a toda a gente! E sempre cuidadoso e atento aos seus netos!

Mas voltando lá para o ano de 1985, quando ingressei nos Juvenis do Amarante F.C. e em que conheci este ser humano maravilhoso. Eu, um moço de Fregim que não conhecia quase ninguém da então vila, resolvi ir aos treinos de captação do Amarante F.C., a conselho do falecido Mr. Chantre, com quem jogava aos Domingos de manhã, no Campo do Estradinha, bem junto à partilha com Fregim. O Snr. Chantre, grande mestre de futebol, dizia que o meu pé esquerdo era muito bom, na sua bondade e simpatia, claro está!

O Ferreira tinha uma forma singular de nos observar, como se não estivesse a olhar para nós e não precisava de cadernos, para escrevinhar... ele olhava, atento aos pormenores, quer técnicos dos atletas e, nas suas reações, físicas ou psicológicas. Era um Treinador da Velha Guarda, de “antes quebrar que torcer”. Cheguei ao clube sem “Escola”, jogava puro, sem saber marcar, agarrava-me muito à bola e tinha a mania que era o Futre... para mal dos meus pecados.

Ele, sempre com o seu apito na boca, quando eu fintava o primeiro, o segundo e não passava a bola, dizia ao Lando da Estradinha, ou ao Paulo Amor, ou ao Filipe “Rei Preto”, dai-lhe, atirai-o ao chão, que ele assim aprende a passar a bola. Eu, na minha inocência, ficava a pedir falta e dizia o Ferreira: “agora levanta-te e vai atrás dela”... ou então, se estava mais impaciente, parava a jogada e obrigava-nos a levantar a cabeça para colocar a bola nas pontas, sempre bem definidas, no seu 4-3-3 clássico. E então lá ia o Juary de Padronelo, ou o Guedes de Bustelo, ou o Artur de Felgueiras, em grandes correrias a tentar apanhar os nossos lançamentos de longa distância...

Todas as terças feiras tínhamos palestra, onde sem apontamentos, tudo de cabeça, o Ferreira nos apontava o que fizemos de mal e o que deveríamos fazer para melhorar; isto de forma meio zangado, meio gozão, onde troçava com as nossas falhas, mas se nos ríamos era o bonito: zangava-se o Ferreira e transformava-se num leão, a chamar-nos à razão... tinha um estilo muito próprio de interagir connosco, mas sempre, com muita amizade. 

Depois era tareia pela certa, nada de bola, mas mesmo assim abria-nos o apetite juvenil, levava o saco das bolas para o meio do campo e aquecíamos bem com os seus exercícios de elasticidade e força, depois corríamos meia hora e, subíamos a superior e descíamos até quase cair para o lado... mas antes de cairmos, punha-me sempre o Paulo Amor, Paulo Rato, ou o Coluna da Lomba, às costas, e nós, quais rangers sempre a subir e descer, senão tínhamos que o ouvir...

Claro que eu era novo naquelas andanças e ia para frente da fila com o Rolando da Estradinha, lá ia aguentando, mas ficava todo “roto”; o Jaime Cerqueira, ou o machado vinham lá atrás a ver-nos correr... espertos! Não admirava que durante os jogos da primeira fase estivéssemos empatados ou a ganhar por uma bola de diferença ao intervalo, e acabávamos o jogo goleando os adversários, na segunda parte. E o Ferreira chegava ao balneário, com o Sr. António massagista a rir-se, e dizia-nos: “Estais a ver, era preciso era cansá-los!...”

Muito havia a dizer sobre a “Escola de Vida” que adquirimos com o Ferreira que, no seu Ford Amarelo, andava às sextas e sábados a ver se encontrava o Paulo Rato, ou o Filipe, os mais noctívagos. Uma palavra para os nossos diretores: o Sr. Ramiro já falecido, o Sr. Manuel, o Sr. Matos e o Grande Eng. Fernando Ribeiro, que era quase um Pai para nós, sempre a ver se estávamos bem, algo que o Armandinho, por certo, lhe transmitiu...»

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