PAULO NETO |
O comissário é uma entidade fundamental da vida público-política portuguesa.
É geralmente um profissional apagado de uma qualquer área onde nunca sobressaiu nem demonstrou grande competência. A maior parte das vezes sofre amarguradamente uma qualquer frustração. Gosta do poder, gosta do reconhecimento, gosta da adulação, da subserviência. No fundo, um pouco à sua imagem, geralmente de adulador rastejante. Vive em redor dos partidos políticos. Tenta sentar-se à mesa dos decisores. Concorre a qualquer lugar autárquico. Até a terceiros secretários de uma Assembleia. Tem que mostrar disponibilidade. Garra. Empenho. Denodo e, principalmente, estoico espírito de sacrifício, embrulhado em costaneiro de missão.
Depois, um dia, no Parnaso, lá se lembram que ele existe e nomeiam-no para um qualquer sobrante cargo de decisor político. E aí vêm as desgraças, as calamidades, o desacato ou desagravo. O senhor ou a senhora, doutor ou engenheiro, por vezes ambos os “estados”, vê-se repentinamente rodeado de uma corte de carreirista-dependentes que lhe dizem de cinco em cinco minutos que ele é o maior e se não existisse, como alertava Brecht, o sol nasceria ao contrário.
Néscio e frequentemente dado à idiotice, o narciso deslumbrado, começa a deixar de ficar perplexo para acreditar no coro unânime das virgens do serralho.
E de súbito, percebe-se gestor categorizado, talhado para o lugar, despido da farda medíocre de uma vida e aperaltado na gravata sintética faz-de-contas-que-é-Hermès.
Passa a gestor do cochicho. De seguida, a administrador das comezainas e beberragens.
Sem pensar, nunca, no partido que serve como medíocre aio, a quem começa a desacreditar, a pôr em causa, a empenhar no seu crescente descrédito; desacreditando na directa proporção, porque as pessoas sabem e nas suas costas dizem: é do partido tal; só lá têm gente desta...!
É a vida.
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