sexta-feira, 28 de março de 2014

NÃO TE LIXES PARA O LIXO

GABRIEL VILAS BOAS
DR
O lixo é um assunto que não interessa a ninguém. É feio, cheira mal, dá náuseas. É até de mau tom falar dele. No entanto, ele existe… e todos os dias. 

Por ano, cada português produz mais de 450 quilos de resíduos domésticos, ou seja, mais de um quilo por dia. É certo que a média dos países da União Europeia é superior (492 quilos), mas o lixo dos outros nunca impediu o nosso. 

O grande problema do lixo sempre foi o que fazemos com ele. Nós depositamos em aterros mais de metade do nosso. Só reciclamos 12%, ou seja, cerca de cem quilos. Já os outros europeus atingem uma taxa de reciclagem de 27% dos seus resíduos.

A primeira conclusão a que chego é que ainda reciclamos muito pouco. Não porque não haja meios, mas porque não estamos para aí virados. É um problema de mentalidade, mas em breve a nossa mentalidade vai custar-nos uns bons euros a mais ao fim do mês. E não havia necessidade! 

Há poucas semanas, conversando com um familiar emigrado em Londres, fiquei a saber que cada proprietário/inquilino paga uma espécie de imposto camarário de cerca de 300 euros mensais. Quando lhe perguntei que serviços justificavam essa verba, respondeu: “Basicamente, vêm buscar o lixo uma vez por semana! E enquanto não chega esse dia, temos de guardar o lixo dentro de casa!” E acrescentou que há localidades onde essa recolha se faz duas vezes por mês. E cobram 300 euros (ou mais) por isso. Em Portugal, temos contentores e ecopontos, por isso não temos de guardar o nosso lixinho dentro de portas. A recolha é feita com mais regularidade e pagamos por isso cinco ou dez euros. Em breve, as regras mudarão, até porque as empresas municipais de recolha e tratamento do lixo são financeira e economicamente deficitárias. 

Não demorará muito para que o lixo seja um negócio muito lucrativo, porque ele é tão desprezível como incomodativo. Em Nápoles, a máfia domina o negócio e obrigou, há uns anos, o governo italiano a ceder aos seus caprichos; Margaret Tatcher teve de enfrentar a crise do lixo e a sua popularidade ficou ao nível de… lixo. 

É sabido que os aterros não são eternos e muito menos imensos. Nenhuma população os quer por perto, mas continuamos a produzir lixo como nunca. O que não deixa de ser cómico e trágico, estando nós na era do digital e da síntese. 

A solução é obviamente produzir menos lixo e apostar na reciclagem, como atitude padrão. Reciclar ou compustar. É a única medida inteligente e económica viável. 

Desta vez não podemos dizer que não há condições. Elas existem e em quantidade suficiente. O que não existe é uma mentalidade capaz. Ora a mentalidade constrói-se na escola e em casa. Leva anos a implementar, mas vive dos pequenos gestos e hábitos. E os hábitos crescem com exemplos. 

Ao contrário do pensamos, o ambiente que respiramos constrói-se. E ainda que não seja pelas melhores razões, não permitas que o lixo te lixe a vida.

quinta-feira, 27 de março de 2014

SOMOS NADA

ANABELA BORGES
DR
Nós não somos nada.
Andamos neste mundo a correr atrás de tantas coisas, a acumular coisas, a passar por cima de coisas, a olhar para tantas coisas e a caminhar por tantos caminhos. Mas, na realidade, na corrida, muitas vezes, apenas chegamos onde já estávamos; no acumular, não juntamos nada de substancial, meros objectos, materiais que não nos acrescentam importâncias à personalidade, não nos enriquecem psicologicamente, nem nos tornam melhores pessoas; no passar por cima de coisas… ah, deixamos para trás tantas pequenas coisas que nos fariam muito mais felizes e aos que nos rodeiam; no olhar para as tantas coisas que cruzam o nosso dia-a-dia, não “vemos” o que realmente importa; e no caminhar por tantos caminhos, depende dos caminhos que escolhemos fazer. A vida é feita de caminhos, encruzilhadas e caminhadas, cabe a cada um mudar de direcção se estiver a prejudicar os outros. É uma questão de humanidade.
  
Também me debato, muitas vezes, com o pensamento de como seria importante cada um preservar a sua individualidade, na globalidade em que teimam em conduzirmos. Desde sempre que penso que, se te confinas a um grupo, empobreces. Não é um grupo que te define nem as suas ideologias, porque, a um dado momento, começa a faltar-te a individualidade. Tens de ter os teus ideais, que podem diferir, em muito ou em pouco, dos ideais do grupo. De modo algum, deves fazer dos ideais de um grupo o teu modo de vida.

A vida é esta travessia: atravessas um oceano: durante semanas, apenas vês o horizonte, perfeito e vazio. Dia a dia, vives tolhido pelo medo que te acerca, tempestades, monstros marinhos, doenças, ganhas medo àquela imensidão. E o medo cresce tanto que tens de aprender a contê-lo dentro de ti, retê-lo, até que se concentra no centro da tua barriga, e dói. Segues: estudar mapas, rever rotas, observar as estrelas, rezar por bons ventos. E manter a esperança é importante, uma esperança que se quer cristalina como a água, ainda que seja frágil como o teu barco.
Começas a ver. De início, não passa de uma névoa no horizonte, que te confunde os sentidos. Então, esforças-te por ver melhor, ver por meio de um reduto de esperança. Daí a nada, parece-te ver um borrão, uma mancha como numa aguarela, uma sombra que se desenha acima da linha da água, ao longe. Durante um dia e outro e outro, uma miragem. Tu pensas, “névoa apenas”, tu pensas, “quem sabe, a aproximação de uma tempestade”. Mas a mancha alastra lentamente no horizonte, ganhando forma, até que certo dia permites-te acreditar. Atreves-te a sussurrar a palavra “terra”. Certo dia, vês uma gaivota e enches-te de esperança, pensas que estás a aproximar-te da terra, mas esqueces-te que pode ser apenas uma gaivota perdida em alto-mar, como tu. 

Embora constantemente sejamos convidados a usar a força, a vida também requer muita sensibilidade de nós. A essência da vida está em compreender como as coisas funcionam.
Muitas vezes, rimo-nos para esconder o terror da nossa mortalidade.

Todos sonhamos coisas na vida, mas nem sempre os sonhos acontecem como desejaríamos.

Resta a cada um saber seguir com sabedoria, perseverança e determinação no mistério insondável da vida.

quarta-feira, 26 de março de 2014

ENSINAR É PROMOVER ENCONTROS

ALINA SOUSA VAZ
DR
Quando lemos com vontade, sem escolhas de gêneros textuais, lemos simplesmente pelo gosto e o prazer de ler, conseguimos aflorar a emoção, a inteligência e até a graça escondida. Daí a grande importância do ato de ler. Lemos para nos informar, para pesquisar, para conhecer e porque não para sorrir! Daí a temática de hoje rodear o sentimento tornando o texto até um pouco piegas.

A universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro está em comemoração e não há melhor momento de palavrear acerca dos alunos, aqueles que enchem as ruas do campus universitário, os corredores dos edifícios, as salas e bares com a sua alegria eufórica própria da idade. A cor que transportam nas suas vidas jovens ajuda a colorir cada estação que veste e despe de uma graciosa beleza natural a UTAD, uma das universidades mais bonitas do país.

Os alunos de quem vos quero falar são aqueles que sem darem conta ainda me preenchem enquanto profissional do ensino, neste caso do ensino superior. Ser professora é tentar contribuir para que os estudantes imaginem, criem, inventem, analisem e possam dessa forma efetivar uma aprendizagem de qualidade. Ser professora é tentar formar cidadãos que não tenham medo de se colocar diante de uma situação que não lhes é satisfatória, criticando, opinando, impondo-se de forma correta usando o poder da palavra. Ser professora é ensinar-lhes a diferença da expressão “à vontade não é à vontadinha”, pois só desta forma conseguirão ser eles próprios sem nunca contrariarem a regra apropriada de uma sala de aula. Ser professora é ser um tudo…mas principalmente é ensinar-lhes a sonhar e a nunca desistirem!

Os alunos de quem vos quero falar são aqueles que, mesmo com o passar do tempo, nos tocam com demonstrações de apreço, não por determinada matéria que lhes tenhamos ensinado, (que dizem sempre que gostaram, por vezes por simpatia) mas pelas trocas de experiências, reflexões e orientações. Esta abordagem enfatiza os determinantes culturais, históricos e sociais da condição humana, permitindo pressupor, segundo Luria (1979) que “a grande maioria dos conhecimentos e habilidades do homem se forma por meio da assimilação da experiência de toda a humanidade, acumulada no processo da história social e transmissível no processo de aprendizagem’. Daí, o sucesso da aprendizagem dos estudantes depender muitas vezes e em grande parte da forma como mediamos essa informação, da objetividade e da utilidade que consideramos que o aluno lhe vai dar, e neste ponto, para mim, reside a chave de todo o mistério.

Os alunos de quem vos quero falar não são apenas números mecanográficos, são fonte de inspiração! Eles são ar fresco, renovação de ideias e as suas criações são sublimes! Adoro ler o que escrevem, os blogues que criam, as empresas que fundam, os estudos que procuram e os trabalhos que executam, imprimindo-lhes sempre qualidade e glamour! Adoro os seus sorrisos, por vezes tímidos mas conquistadores, quando procuram e não desistem estando sempre atentos à primeira oportunidade. Adoro quando acredito na rebeldia e mais tarde se revela em algo de bom. Adoro!

Disse que o texto seria piegas, mas com orgulho os vejo evoluir e a imprimir nos seus percursos o ensino construtivista que beberam outrora nas interações sociais e intelectuais no percurso universitário, porque Ensinar é promover encontros! 


sexta-feira, 21 de março de 2014

TER FILHOS DEIXOU DE ESTAR NA MODA


GABRIEL VILAS BOAS
DR
Há dois atrás, enquanto conduzia, ouvi na TSF o seguinte dado estatístico: “em 1974, o número de filhos por casal era de quase três; em 2014, é muito pouco superior a um.”Os dados são da Pordata, uma autoridade no que concerne ao tratamento estatístico da população portuguesa. 

Esta é uma tendência demográfica que não surpreende ninguém em Portugal. Todos tínhamos esta ideia, apenas não conhecíamos os números do desfalque. 

Há quarenta anos atrás, Portugal era um dos países da Europa ocidental com uma taxa de natalidade mais elevada, hoje é uma das taxas mais modestas quanto a nascimentos. 

Estes são os quarenta anos em que vivemos em democracia e em liberdade; as quatro décadas em que escolarizámos a população; em que modernizámos o país, em que criámos creches, infantários, escolas, universidades. Foram os anos do desenvolvimento, do aumento da esperança média de vida, da melhoria dos cuidados de saúde… e os portugueses deixaram de ter filhos. Há mais de um terço dos casais que não tem sequer um filho. 

Por que acontece isto? 

Acho que por três grandes razões: os portugueses (especialmente elas) mudaram a sua posição ideológica quanto a ter filhos; as condições económicas e de estabilidade no emprego degradaram-se nos últimos quinze anos vertiginosamente; aumentou o nível de condições mínimas que cada casal coloca a si próprio para concretizar o desejo de ser pais. Ou seja, temos menos filhos porque a mentalidade mudou, estamos mais pobres e instáveis no emprego e somos mais exigentes com aquilo que queremos para os nossos filhos. 

A maioria das pessoas acha que as questões económicas justificam grandemente este brutalmente abaixamento da taxa de natalidade. Pois eu acho que justifica muito pouco. Há quarenta anos atrás vivia-se muito pior, ganhava-se menos e tinha-se mais filhos. 

O que mudou foi a mentalidade e o grau de exigência material dos casais para se permitirem ser pais. 

Hoje ninguém tem filhos e “depois logo se vê”. A esmagadora maioria daqueles que projetam ser pais querem ter a certeza quase absoluta que conseguem proporcionar aos seus filhos um nível de conforto elevado, uma educação académica superior, uma vida sem grandes preocupações durante, pelo menos, duas décadas. A isto acresce a ideia que tais condições “pró” criatura que há de nascer não devem implicar nenhum sacrifício eterno para os candidatos a progenitores. 

Sobra ainda uma outra causa. Para mim, a mais determinante. Mudou a mentalidade, mudaram os costumes, mudou a estrutura social. 

Ter filhos deixou de ser o desejo irresistível de quase todas as mulheres portuguesas. Numa sociedade em que os casamentos ou as uniões de facto duram cada vez menos, em que as quebras de compromissos quanto ao sustento de filhos comuns são assustadoras, em que a mulher se emancipou fazendo o dobro do trabalho por menos dinheiro, a Mulher percebeu claramente que os filhos eram comuns mas era a ela que cabia a sua educação. E silenciosamente disse: “Não, muito obrigado! Sozinha, é muito difícil e não estou disposta abdicar de mim para viver em exclusivo para os filhos.”

Claro que o desejo de ser mãe continuará a encantar irresistivelmente muitas mulheres. No entanto, o materialismo, o desencanto da fugacidade e falta de compromisso de muitas relações e a sedução duma vida pessoal e profissional mais ativa, tornou-as pragmáticas. E os filhos não se fazem de pragmatismo, mas de compromisso, Amor pelo outro e de paixão pela vida.

quinta-feira, 20 de março de 2014

FESTIVAL DA CANÇÃO (FESTIVAL DA REINAÇÃO)

ANABELA BORGES
DR
Gosto muito do mês de Março. Março é um mês muito mimoso e cheio de esperança. Quase tudo cabe em Março: o dia do Teatro, da Poesia, da Árvore, da Floresta, do Pai, da Felicidade, da Primavera. 

Em Março cabe uma primavera inteira. Muita gente faz anos em Março, pelo menos muita gente que eu conheço. É bom viver, a cada ano, o Março das nossas vidas. 

Em Março usa ser também o Festival da canção. E isso, que ao longo dos tempos sempre foi um motivo de festa, cada vez mais tem vindo a tornar-se num atropelo de Março, um encontrão no mês, a dar-lhe um abanão e a deixá-lo sobressaltado. O festival tornou-se na extensão dos programas de festas e romarias de domingo à tarde, um entretenimento de baixo custo. Hoje não existe programa em direto sem uma linha de valor acrescentado.

Quando eu era pequena, nos pós 25 de Abril de 1974, toda a gente via o Festival da Canção. Era motivo de conversas, alegrias, um acontecimento popular de grande impacto junto da população portuguesa e europeia. 

O festival era um acontecimento. Havia sempre o factor novidade, era uma lufada de ar fresco, ditavam-se as modas do panorama musical, mas também o estilo da época trespassava pelas melodias e roupagens dos festivais. E nós queríamos vestir como os cantores, usar os penteados dos cantores e cantávamos durante muitos meses, as canções dos festivais. Aliás, como é sabido, muitas das canções ficaram para sempre gravadas nas memórias dos que seguiam os festivais. Eu e os meus amigos de infância fazíamos o nosso festival, com tudo improvisado, tudo a que tínhamos direito: o estilo, o palco, o apresentador, o júri.

O festival era um filho pródigo da liberdade. 

Infelizmente, hoje, vai tudo em sentido contrário, vamos embalados numa mediocridade que nos é impingida. A cultura está doente. Não me venham dizer que dão ao povo aquilo que o povo quer. Não dão! Dão-lhe o que há de pior em matéria cultural. As pessoas são o que são, não nos subestimemos. Se nos derem boa música, bons livros, boas exposições, bons filmes. Se se cultivar – é isso a cultura – o gosto pela qualidade, desde sempre, desde a infância, cada um terá na sua mão (sobretudo na cabeça) o poder de fazer opções. Não há investimento na cultura. Muitos de nós sabemos que não há interesse em cultivar as pessoas culturalmente, em desenvolver cultura. 

A vitória da canção pimba-pimba-pimba neste festival da canção revela muito bem ao que estamos reduzidos em termos culturais e, moralmente, muito em baixo. As pessoas ligam para linha de valor acrescentado e as televisões ficam todas satisfeitas com a indolência a que a cultura está devotada. 

Assim vão as “águas de Março”.

quarta-feira, 19 de março de 2014

AMOR SOLIDÁRIO EM VILA REAL

ALINA SOUSA VAZ
DR
Todos sabemos que existem vários tipos de amor. Não há forma ou medida certa para o sentir. Sente-se e pronto, cada um ao seu jeito, extravasando, por vezes, os limites de qualquer entendimento.
Porque não há ninguém que, mal ou bem, não tenha amado alguém, todos entenderão o sentido das palavras de hoje.

Vila Real, numa tarde de sábado solarenga, saiu à rua e fez juz a um dos mais lindos tipos de amor. Aquele que se chama AMOR SOLIDÁRIO! Os amigos, os amigos dos amigos da família da Joaninha abraçaram a tarde levando as mãos cheias de tampinhas e ajuda cheia de afetos bons!

Naquela tarde de sábado, não esteve apenas visível a qualidade de ser solidário e um sentimento de identificação em relação ao sofrimento de alguém ajudando de alguma maneira. Naquela tarde de sábado houve ensino-aprendizagem. Aqueles pais ensinaram-nos a relativizar os apelidados problemas, ensinaram-nos a instruir os nossos próprios filhos, ensinaram-nos a estimar os valores humanos. O que se aprendeu foi tanto que as crianças especiais acabam por ter um papel importantíssimo na sociedade: a valorização do verdadeiro sentido da vida! E neste contexto, a palavra solidariedade, com origem no francês solidarité, remete também para uma responsabilidade recíproca. Todos em conjunto temos obrigação de apoiar as pessoas que integram a sociedade, fazendo com que elas, também, sejam felizes. 

Cada um ao seu jeito pode fazer mais e melhor, basta querer aprender e soltar as amarras do preconceito e da desinformação.
Se historicamente, as pessoas com deficiência eram sacrificadas porque a sociedade as consideravam um peso, hoje, fala-se de inclusão social, conceito que parece cair no esquecimento daqueles que governam. Mas, nós não nos esquecemos do que outrora disseram. Não nos esquecemos do discurso de posse do Primeiro-Ministro a 21 de junho de 2011, onde proferiu que “não podemos querer uma sociedade que abandona os seus pobres, que ignora as pessoas com deficiência, que não socorre os seus aflitos, que esquece os seus emigrantes, que rejeita os que procuram o nosso País para trabalhar e viver, que desampara os seus idosos, que se fecha aos seus desempregados. Ninguém será deixado para trás. O valor incomensurável da dignidade da pessoa humana obriga a que haja uma preocupação com o auxílio aos mais vulneráveis e uma justa repartição dos custos e sacrifícios associados à superação da crise e ao próprio projeto de mudança orientadora da política do Governo.” Palavras bonitas diria eu!!!

Atualmente, a verdade é outra. A escassez de apoio às famílias é uma realidade. Palavras levam-nas o vento, há que fazer mais e melhor. É urgente agir! As pessoas com deficiência sofrem por dois motivos: primeiro pelas suas limitações físicas, se a pessoa não consegue andar, ver, ouvir e outras deficiências e sofrem, também, se a sociedade não for solidária podendo desenvolver outras patologias.

Alguém pensou que amanhã podemos ser nós a precisar deste apoio? Ninguém está livre de um fatal acidente que nos remeta para uma cadeira de rodas. Acham que estou a ser dura de mais? É importante que a sociedade pare, pense, reflita sobre esta questão. Não falo de deficiência, mas falo de dignidade, ética e de um país realmente justo para com estas pessoas que sofrem e precisam de apoio financeiro. 

Em Vila Real existiu amor! Amor que outras “Joaninhas” precisam! Este amor é de todos nós…o AMOR SOLIDÁRIO!.

sexta-feira, 14 de março de 2014

ROTINA OR NOT ROTINA?

GABRIEL VILAS BOAS
DR
Quando em pleno século XIX, a revolução industrial toma conta da Europa e a máquina ocupa a vida das pessoas, um novo conceito sociológico inicia o seu reinado: a rotina.

Este conceito começou no emprego mas rapidamente tomou conta da vida das pessoas. Primeiro, nos processos mecânicos que tiranizaram o trabalho dos indivíduos, depois no estilo de vida que foram obrigados a levar e finalmente naquilo em que a vida pessoal e afetiva de cada um se tornou.

Quando cada um de nós se deu conta que a rotina tinha chegado à sua vida pessoal, a rotina deixou de ser um bem indiscutível. Passou a ser analisada, questionada, criticada.

Contudo, não devemos negar a evidência: a rotina fez e faz muito pelo ser humano. Rentabilizou-lhe o tempo, organizou-lhe a vida profissional e social, ajudou-o no seu crescimento, tornou-o confiante e confiável. Os seus méritos são inúmeros e não são descartáveis. Além disso, toda a rotina tem a sua beleza. Há uns meses atrás li um poema, dum autor desconhecido, muito elogioso para a rotina que não resisto a citar:

“A ideia é a rotina do papel
O céu é a rotina do edifício
O início é a rotina do final
A escolha é a rotina do gosto
A rotina do espelho é o oposto
A rotina do jornal é o facto
A celebridade é a rotina do boato
A rotina da mão é o toque
A rotina da garganta é o rock
O coração é a rotina da batida
A rotina do equilíbrio é a medida
O vento é a rotina do assobio
A rotina da pele é o arrepio
A rotina do perfume é a lembrança
O pé é a rotina da dança
Julieta é a rotina do beijo
A rotina da boca é o desejo
A rotina do caminho é a direção
A rotina do destino é a certeza”

O problema é que a rotina não é aplicável a todas as dimensões da nossa vida. E quando deixamos que a nossa preguiça ontológica nos capture, permitimos que a Rotina se instale na nossa vida íntima e afetiva. E aí começam os problemas, ou melhor, as frustrações.

O primeiro erro que cometemos é deixar que a Rotina colonize a nossa liberdade. Richard Bach dizia que para se viver feliz era necessário sacrificar-se a rotina, mas isso quase nunca era um sacrifício fácil. Até porque a rotina traz sempre a garantia do resultado alcançado.

A solução é fazer novos caminhos, permitir-se perder-se, quebrar a rotina, visto que ninguém encontra um atalho sem se perder antes.

As pessoas não são rotina. São feitas de sentimentos, de emoções, de problemas, de diferenças. Em muitos momentos, a déspota rotina que escolhemos para a nossa vida não autoriza que vejamos os outros deste modo. Infelizmente apenas reparamos nisso quando a rotina dos outros nos mostra o vazio mecânico em que nos tornámos.

Quando nos acomodamos à rotina deixamos de viver, perdemos, pouco a pouco, o pulso de nós mesmos, deixando o nosso processo de crescimento à mercê das influências e das circunstâncias alheias. Hábito e rotina têm um inacreditável poder para desperdiçar e destruir.

Em muitos casos, a rotina tira valor às coisas. Talvez por isso, a rotina seja hoje citada como uma das causas mais fortes da separação dos casais. Isto acontece porque na rotina, as pessoas criam padrões repetitivos, enquanto na incerteza, os indivíduos têm instintos inovadores. E o instinto é uma das mais importantes regras de sobrevivência…

Talvez por isso tenha medo do tédio e da monotonia, da “mesmice”, da rotina. Sinto-as como um desperdício de vida, uma desistência, uma anulação.

Gosto de percorrer caminhos desconhecidos, tenho simpatia pela inovação, pois é através das novidades que o mundo gira.

Sei bem que a rotina faz parte da vida, mas isto não quer dizer que os nossos atos tenham de ser feitos na mesma sequência. É necessário ter capacidade para nos surpreender.


Se o ser humano fosse para viver de rotina, no lugar do cérebro teria um chip.

quinta-feira, 13 de março de 2014

A CEGUEIRA (PEQUENA REFLEXÃO)*


O pior cego é aquele que não quer ver.
Adágio Popular

ANABELA BORGES
DR
Já aqui tenho abordado temas semelhantes, como quando referi a ideia que nos foi apresentada por Saramago de que é preciso sair da ilha para VER a ilha.

“Com os olhos bem abertos, em que devemos nós concentrar-nos, com tantas distrações em volta? Tanta dispersão?”  
“Como o fado: a música sentida na dor imensa, na desilusão, no amor e na perda – não sonhes mais, porque vais sofrer de novo. A nostalgia, a dor das coisas passadas – a saudade: escrevi o teu nome no vento, convencida de que o esquecia, na folha do esquecimento. Pois é, mas o vento traz tudo de volta.”
“Sentes o vibrar da cidade através da mão encostada ao vidro da janela.
Não há dúvidas de que vês claridades várias, sombras várias, vultos vários, objetos vários. Mas parece que tens andado a ver tudo desfocado.” 
“Deixaste de perseguir o sonho da infância e agora reparas no tédio incessante e entorpecedor da vida que tens. Olhas à volta e reparas (porque agora começas a ver) na panóplia de lixo humano que te rodeia. Não podes ficar a assistir à vida como tens feito até aí.

O homem está desenvolvido em castas, separado por categorias, por assim dizer. Isso faz com que cada um seja um ser individual, específico, criado para um determinado fim: uns, para serem os olhos e os ouvidos; outros, para serem os músculos e os tendões; e outros ainda, os cérebros. Entre eles, há os pensadores e os predadores, e há os que apenas passam. E o mundo precisa de todos eles. O fim de nós pode ser o fim de tudo. Cada um de nós dá significação ao Universo.
As forças que moldam o nosso mundo são superiores a todos nós. Quando rebenta uma catástrofe, cada homem age de acordo com a sua natureza. Alguns ficam tolhidos pelo terror, alguns fogem, outros escondem-se, e alguns consertam as asas e procuram planar, com a ajuda do vento, acima da tempestade. 
O que fazes tu numa tempestade, perante a possibilidade de morrer? Voas ou enredas-te na tua própria teia?” 
“E ao reparares melhor nas pessoas, verás que são capazes de proceder a atos comuns, aos quais já não te lembravas de prestar atenção: de ler tabuletas, de elaborar expressões corporais e faciais – porque há toda uma linguagem corporal paralela à linguagem verbal –, de manter conversas inteiras com os olhares. Ao deparares-te com isto, os teus olhos quererão dominar a tua forma de ver o mundo, mas talvez não estejas em condições de confiar inteiramente neles, porque é difícil veres o mundo tal como ele é. É difícil, mesmo quando vês um simples ramalhete de flores, por mais belo e real que te pareça, porque estás a vê-lo com as tuas emoções, as tuas cores, o teu tato e os teus odores, de forma distorcida.
Todos vemos aquilo para onde olhamos, mas a nossa maneira de ver é afetada pelo que sabemos, pelo conhecimento que temos das coisas e das pessoas. Daí que muito do que vês à tua volta pareça não fazer sentido. Talvez que subitamente percebas que eras alguém sem visão, até aí. Eras cego e não sabias.”
“Há pessoas que nasceram para serem cegas, literalmente falando, e isso pode ser uma maldição, como pode ser uma bênção.
A maioria das pessoas vê só o que está à sua frente. Algumas apenas precisam de fé para acreditar e outras precisam de evidências. 
Nem toda a gente precisa de olhos para ver o que realmente importa. Com os olhos, podes ver os teus maiores receios, mas se os fechares é que consegues entender a verdadeira cegueira humana. Por vezes, ver de olhos fechados pode ser a salvação.”  
Mas talvez seja hora de abrir os olhos.

*Este texto contém citações de um texto da minha autoria, publicado na antologia de contos ATÉ SER PRIMAVERA, devidamente isoladas por aspas. 

sexta-feira, 7 de março de 2014

CUIDA DE MIM QUE EU NÃO CUIDAREI DE TI

O que custa mais na velhice? Objetivamente, é a doença ou a falta de saúde, como eufemisticamente
GABRIEL VILAS BOAS
DR
gostamos de dizer. Subjetivamente, é a tristeza. 

Dirão muitos que a segunda deriva da primeira. É só uma parte da verdade. A mais funda das tristezas que um velho pode enfrentar é perceber que ninguém quer tratar de si, que é um empecilho. Quando a tristeza lhe invade a alma já não lhe interessa nada que a doença o vença. E isso é uma tragédia. E toda a gente sabe que não há redenção nas tragédias. 

Li, há poucos dias, que as unidades de cuidados intensivos cobrem apenas cinquenta por cento das necessidades dos utentes. Infelizmente o número é bem maior se falarmos de afeto, carinho, atenção.  

Os últimos anos marcaram uma viragem enorme na relação das sociedades com os seus velhos. As pessoas duram mais, os afetos duram menos. Ficamos sozinhos muito tempo. Quando a doença nos apanha, reparamos que ninguém nos ampara e desabamos emocionalmente.

Os velhos são atirados para a arrecadação da vida à espera que as circunstâncias, a oportunidade e a coragem os atirem definitivamente borda fora da aventura da vida que termina de maneira angustiante. E eles assistem a isto tudo lúcidos. Conseguem imaginar o que sentem? Eu não consigo, porque a dor, a maldade, a ingratidão, a tristeza têm uma profundidade tal que nunca quis explorar. 
Mas não adianta nada fechar os olhos ou olhar para lado. Eles estão aí. Precisam de cuidados continuados. Daqueles que dão em lares, casas de saúde, Misericórdias… e daqueles que se dão com a presença, com o olhar, com as mãos e com os lábios. 

Embora não saibamos, nós (adultos, jovens, crianças) também precisámos de lhos dar. Não pela razão egoísta e interesseira de precavermos o nosso futuro. Necessitamos de os sentar na nossa sala e ouvirmos a sua voz lenta e arrastada para não perdemos a humanidade. 

A conversa do “não tenho tempo” ou “não tenho casa para isso” é em muitos casos uma treta conveniente, destinada a calar a consciência. 
Obviamente sei que a maioria de nós não tem as condições físicas e médicas para ter uma pessoa acamada em sua casa. Não nego que as exigências da vida moderna consomem quase todo o nosso tempo. Mas sei que é possível (até por experiência próxima) proporcionar aos velhos que estão num lar, num hospital, numa instituição, algumas horas de convívio semanal com família. Para eles faz toda a diferença. Eles esperam por essas horas com a ansiedade dum jovem que aguarda a namorada à porta do cinema. Precisamos de fazer tão pouco para os fazer felizes!

É verdade que muitas vezes nos parecem aborrecidos, que o seu entendimento já não é famoso, que são obstinados nas suas teimosias, que estão desfasados da realidade… Todavia, convém não esquecer que foram eles que escreveram os primeiros capítulos da nossa história, convém lembrar que foram eles que financiaram o argumento. O nosso filme só terá um fim feliz se tiver memória. Dizia Aristóteles que ela (a memória) é a escriba das almas. 

Eu acho que uma memória que perde o afeto já não é memória, é um computador.   

quinta-feira, 6 de março de 2014

DIA INTERNACIONAL DA MULHER (NEM É BEM UMA QUESTÃO DE IGUALDADE)

ANABELA BORGES
DR
Este ano, o tema das Nações Unidas para a comemoração do Dia Internacional da Mulher, que se celebra a 8 de Março, levanta-se sobre esta singeleza: “Igualdade para as mulheres é progresso para todos”. Pois é, sem dúvida. Mas dou comigo a pensar que isto não será bem uma questão de igualdade.

Dizem alguns que a celebração do Dia Internacional da Mulher tem como origem as manifestações de mulheres russas por melhores condições de vida e trabalho e contra a entrada da Rússia czarista na Primeira Guerra Mundial. Mas parece que a ideia de celebrar um dia da mulher já havia surgido nos primeiros anos do século XX, nos Estados Unidos e na Europa, no contexto das lutas de mulheres por melhores condições de vida e trabalho, bem como pelo direito de voto. 1975 foi designado pela ONU como o Ano Internacional da Mulher e, em dezembro de 1977, o Dia Internacional da Mulher foi adoptado pelas Nações Unidas, para lembrar as conquistas sociais, políticas e económicas das mulheres.

Ora, para mim, só faz sentido existir um Dia Internacional da Mulher se for para lembrar que o mundo está entregue a mãos e cérebros masculinos e o quanto muitas mulheres sofrem, diariamente, a toda a hora, a todo o instante, como se não se fossem seres com o direito de viver a vida com respeito e dignidade. Igualdade para muitas coisas, sim, concordo, tem de ser, é importante: no direito às condições de trabalho, a salários dignos, no apoio nos cuidados básicos de saúde, na maternidade, no direito ao voto, em inúmeras situações, certamente. Tudo muito bem. Mas é uma questão de respeito e dignidade. Estou certa de que as mulheres não buscarão, na totalidade, a IGUALDADE, com os homens. Mulheres e homens são diferentes na sua essência e a evolução das espécies ditará se assim deverão permanecer. EU NÃO QUERO SER IGUAL AOS HOMENS. EU QUERO É QUE AS MULHERES SEJAM RESPEITADAS E TENHAM UMA VIDA DIGNA EM TODO O MUNDO. Quero que cada uma tenha o direito de ser feliz, de lutar por uma vida melhor, uma vida onde caibam os seus sonhos e projetos. 

Atualmente, a celebração do Dia Internacional da Mulher tem vindo a perder o seu sentido original, adquirindo um carácter festivo e comercial. Ora, isso, para mim, não tem qualquer valor. Ponto final.

Tenho muito orgulho em ser mulher e muita sorte, apesar de tudo, por ter nascido no país onde nasci. 
Se quiserem fazer deste dia uma data mais feliz, em vez de dizerem “Feliz dia da Mulher”, pensem em como poderão contribuir para melhorar as condições de vida das mulheres que sofrem no mundo, por todo o género de discriminação.

Um abraço a todas as mulheres.

quarta-feira, 5 de março de 2014

CARNAVAIS TRANSMONTANOS: A SINGULARIDADE DE PODENCE E DE LAZARIM

ALINA SOUSA VAZ
DR
Começo por dizer que não percebo porque insistem em carnavais de imitação. Não percebo as horas de trabalho gastas em prol de cortejos onde o samba e os corpos seminus teimam, contra natureza, combater o frio arrepiante do nosso inverno rigoroso. As interrogações proliferam-me o espírito. Porque não pode sair um corso adaptado às nossas características culturais onde a alegria reine por entre os que desfilam e os que assistem? Porque não podemos ter carnaval folião sem estarmos condicionados pelo frio gélido dos aguaceiros típicos desta altura do ano?
A título de curiosidade, sabiam que o carnaval brasileiro, aquele que adoramos imitar, chegou ao Brasil através das festas de bailes que ocorriam em França e dos carnavais de Itália (Veneza e Roma), no século XVII? Estas festas foram sofrendo ao longo dos tempos alterações e adaptações tendo em conta o clima e folclores típicos do país, dando origem à atual excentricidade e conhecida pela luxúria.
Não pretendo criticar a dedicação dada às atividades de preparação, sou adepta de carnavais e de todos os corsos que proliferem a alegria nos espíritos das populações, porém imprima-se cunho próprio!
A juventude é original na hora do retrato da caracterização. Permitam-lhes agarrar tradições ancestrais e cunharem o carnaval de forma singular. Não somos só um povo triste marcado pelo fado e saudade. Somos, também, um povo divertido que muito pode ajudar os seus concelhos no desenvolvimento turístico.
Contudo, Carnaval singular é o das terras transmontanas. As festas dos mascarados no nordeste transmontano resistiram à passagem do tempo e são, hoje, uma marca de identidade cultural. Ícones relacionados com cultos antigos, ornamentos das personagens e ritos do mais profundo esoterismo remetem para uma presença da cultura pagã nos nossos dias.
Podence, freguesia do concelho de Macedo de Cavaleiros, celebra um dos carnavais mais conhecidos em Portugal pela sua autenticidade. Os protagonistas são os rapazes que, mascarando-se, transformam-se de caretos. Convém destacar nestas figuras a riqueza dos seus fatos: são confecionados com lã, cerca de 24 novelos, à medida de quem o veste, em teares tradicionais. As correrias constantes destas largas dezenas de caretos pelas ruas, durante o domingo e terça-feira de Carnaval, constituem o seu ritual específico. Usam um volumoso molho de chocalhos à cinta para com eles “chocalhar” as mulheres com uma certa violência. Os malignos mascarados lançam-se ao assalto das moças e, encostando-se a elas, exercitam uma dança um tanto erótica, abanando a cintura e fazendo embater os chocalhos que trazem pendurados contra as ancas das vítimas. Este gesto erótico representava a desejada fecundação das mulheres. As máscaras dos caretos de Podence são quase todas de latão, algumas de cabedal, o que permite aos jovens esconderem, na totalidade, as suas identificações. As suas formas desinibidas são, também, fruto do vinho que se vai bebendo, e os facanitos, os mais pequenos, assim que vestem um traje, bebem logo um copito. E as mães não se zangam, pois é o Carnaval de Podence.
Em Lazarim, uma aldeia do concelho de Lamego, também o entrudo tem vida. Ainda restam artesãos que por esta altura se dedicam à execução de máscaras de madeira lixadas e talhadas pelas navalhas e serrotes de vários tamanhos, tendo sempre ao lado uma enxó e a pedra de afiar. Trabalho moroso pelos seus pormenores, as figuras mais típicas do entrudo de Lazarim são o diabo e a senhorinha, mas os artesãos da aldeia também tiram da madeira de amieiro polícias, reis, máscaras com bichos e máscaras de bichos como o porco ou o canguru. A festa pelas ruas de Lazarim começa ao domingo, com gaiteiros, bombos e carros alegóricos. As máscaras, essas, só saem à rua nas terças-feiras de Carnaval pelas 14h30, 15h00, durando a folia até à noite, acabando com caldo de farinha e feijoada para todos. Pelo meio são lidos os testamentos no Largo do Padrão. A tradição aguça ainda a curiosidade dos que assistem, pois os rapazes descobrem os podres e os defeitos das raparigas no ano que passou e vice-versa. O que a pessoa for é dito. O mal que tiver vem à rua. Mas o povo não se zanga, aceita tudo, pois é dia de brincadeira.
Outras são as aldeias transmontanas que vivem destas singularidades promovendo todos os anos a chegada de turistas curiosos destas tradições, muitas delas com raízes nos povos celtas. A originalidade traz mais visitantes e os hotéis esgotam-se na região. De que se está à espera? Gastar dinheiro sim, mas não em imitações!