sexta-feira, 17 de junho de 2016

O REFERENDUM DA MORTE

RUTE SERRA
Com o argumento que desde o referendum de 1975, os britânicos não se pronunciavam sobre as vantagens do seu País pertencer à União Europeia, considerando não só que a Europa de 2016 difere substancialmente da existente àquela data, mas também que as intenções iniciais seriam de natureza comercial e não política, Cameron prepara-se para inquirir britânicos, irlandeses e membros da Commonwealth residentes no Reino Unido, do seguinte modo: Should the United Kingdom remain a member of the European Union or leave the European Union?

O plebiscito de dia 23 de junho resulta em grande medida do descontentamento generalizado dos britânicos relativamente às atuais políticas da UE, em especial ao nível da imigração, e das suas consequências diretas e indiretas. Afirmar que a xenofobia está a marcar o compasso desta dança, pode ser demasiado, mas resta a desconfiança, mitigada, tão só, pela fraturante divisão do povo relativamente ao sentido de voto. Cameron, em momento adagio desde finais de 2015, apresentou em fevereiro de 2016, emarabesque, aos líderes europeus, a primeira investida constritiva com relação às matérias de soberania, política de imigração e benefícios estatais, governança económica e competitividade, alcançando porém, apenas franjas do inicialmente exigido.

Vozes dissonantes ecoam, sobre as vantagens e desvantagens do Brexit. O líder da Organização Mundial do Comércio, em entrevista ao Financial Times, evoca que a saída do Reino Unido da UE custará aos consumidores britânicos 12 mil milhões de euros em tarifas de importação adicionais. O ministro da economia britânico vaticina um rombo de 39.000 milhões de euros nas finanças públicas do Reino Unido. Reputados historiadores alertam para o perigo do tradicional isolacionismo britânico. Por outro lado, conservadores e militares pugnam pela saída, na defesa da autonomia do Reino Unido.

Apresentando o “out”, uma vantagem de sete pontos percentuais, em relação ao “in”, certo é que uma eventual saída do Reino Unido da UE seria a primeira farpa, na agremiação de Estados Europeus (desvalorizando o ocorrido em 1982 com a Gronelândia, território dinamarquês, que após referendo, abandonou a UE, adquirindo o estatuto jurídico de Estado associado), com consequências obviamente desconhecidas para os envolvidos, apesar dos estudos e projeções entretanto apresentados.

E lá vamos, entretanto, assistindo ao cabriole de Cameron, afincado na sobrevivência política, na defesa pelo “in”, enquanto aguardamos que as lágrimas que Schauble prometeu, caso o “out” vença, não nos alaguem ainda mais.


PS: Após a redação da presente crónica o Mundo conheceu o homicídio bárbaro perpetrado contra Jo Fox, deputada do Partido Trabalhista inglês, na sequência dos acalorados momentos de campanha que antecedem a data do referendum. Lamentamos naturalmente o ocorrido, motivado pelo ódio sobre quem apenas cumpria o seu nobre dever.

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