DANIELA MOREIRA |
O problema do excesso de peso é uma realidade cada vez mais frequente na Medicina Veterinária, sendo, inclusivamente, o problema do foro nutricional que aparece com maior frequência na prática clínica.
A obesidade consiste num considerável aumento do teor de gordura corporal do organismo. A obesidade nos nossos animais é um factor de risco de extrema importância para o desenvolvimento de diversas patologias, reduzindo de forma bastante evidente a sua esperança média de vida.
Os principais problemas originados pelo excesso de peso são o esforço suplementar que é exigido por parte das articulações e ossos do animal, o que predispõe ao aparecimento de problemas osteoarticulares. São também afectados os órgãos internos, nomeadamente o aparelho cardiovascular, tornando o animal mais susceptível a problemas cardíacos e/ou respiratórios.
A obesidade pode ocorrer em animais de todas as idades, sendo, contudo, mais frequente em animais de meia-idade, sobretudo entre os 5 e os 10 anos. Os animais que vivem unicamente dentro de casa (principalmente no caso dos gatos) e os animais esterilizados têm um maior risco de se tornarem obesos, caso a alimentação não seja adequada ao seu estilo de vida.
É importante estarmos atentos aos primeiros sinais de excesso de peso ou obesidade nos nossos animais, para que seja possível atuar o mais precocemente possível. Os principais sinais são uma acumulação excessiva de gordura corporal, incapacidade ou intolerância ao exercício físico (são animais que se cansam muito) e uma condição corporal acima da média. Este último parâmetro é facilmente identificável pelos proprietários, avaliando a zona das costelas do animal: se as costelas forem facilmente palpáveis (mas não visíveis), o animal estará com uma condição corporal adequada; por outro lado, se não for possível palpar as costelas, devido à camada de gordura acumulada, então o animal terá excesso de peso e deve ser avaliado.
São várias as causas de obesidade. O principal motivo é um balanço incorreto entre a ingestão calórica e o seu gasto, isto é, a ingestão de um maior número calorias do que aquilo que o animal consegue gastar. A obesidade também se torna mais frequente em animais mais velhos, pelo facto de se tratar de animais que, naturalmente, terão uma menor capacidade de se moverem. Para além disso, a ingestão de uma dieta de má qualidade (rica em gorduras e pobre noutros nutrientes essenciais) ou a oferta frequente de recompensas muito calóricas ou de comida caseira (restos de alimentos) são também factores de risco para o desenvolvimento desta condição. Algumas raças, e indivíduos em particular, poderão ter uma tendência de origem genética para a acumulação de peso. Finalmente, não podemos também descurar que obesidade poderá ter a sua origem numa determinada patologia (como, por exemplo, o hipotiroidismo ou o hiperadrenocorticismo), pelo que a avaliação médico-veterinária do animal é fundamental.
O diagnóstico de obesidade inicia-se com a medição do peso do animal e pelo cálculo da sua condição corporal. Através do controlo médico-veterinário do animal, em que se avalia, por palpação, a zona das costelas, zona lombar, cauda e cabeça, estabelece-se uma determinada condição corporal que, posteriormente, é comparada com os padrões estabelecidos para a raça. Considera-se que um animal tem excesso de peso quando tem um peso corporal 10 a 15% acima da condição corporal ótima; se esse valor for igual ou superior a 30%, o animal é considerado obeso.
A obesidade deverá ser, de facto, encarada como uma doença e, portanto, deverá ser resolvida com acompanhamento médico-veterinário. Ao contrário do que se verifica nos humanos, os animais não conseguem, por si só, diminuir a ingestão de alimentos nem tão pouco escolher a sua alimentação. Por isso mesmo é fundamental que os proprietários tomem consciência do problema do animal, das suas consequências nefastas, e que sejam uma parte ativa no seu processo de resolução.
Não basta diminuir a quantidade de ração que diariamente se fornece ao cão ou gato; o animal continuará com fome e, além disso, estaremos a promover a perda de massa muscular e não só de gordura corporal, que é o principal objetivo. O seu médico-veterinário é o profissional adequado para aconselhar uma ração específica para a perda de peso, elaborando um plano personalizado de alimentação e exercício físico para ser implementado, de acordo com as necessidades específicas de cada animal. Deverão ser eliminadas as recompensas calóricas e substituí-las por alternativas mais saudáveis.
Para além disso, a promoção do exercício físico é um parâmetro também importante. Tratando-se de animais que, na sua maioria, são sedentários, é contraindicado iniciar um plano de exercício intenso, uma vez que poderá ser contraproducente. Pode iniciar-se, por exemplo, pela promoção de passeios mais longos, jogos específicos, utilização de bolas dispensadoras de comida (em vez de colocar a comida nos comedouros) ou, no caso dos gatos, colocação da comida num estrato mais elevado, para obrigar os animais a gastarem alguma energia na busca da comida.
A perda de peso, do mesmo modo que se verifica nos humanos, não acontece de um momento para o outro, exigindo dedicação e mudança de hábitos, não só dos animais, mas sobretudo dos proprietários. É, no entanto, exequível e, após a perda de peso, é notório o ganho em saúde e vitalidade que esses animais adquirem.
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