LUÍSA VAZ |
E é isto que se consegue quando se tentam medir forças sem se definir um rumo e quando se pretendem conjugar vontades inconjugáveis.
Desta vez falo do BREXIT e com o devido respeito pela vontade soberana do povo inglês que merece todo o meu respeito.
Este é o tema internacional mais actual no momento mas acima de tudo, é um não-tema. Por mais paradoxal que a minha afirmação pareça, se olharmos para o caso em questão de forma fria, vemos que não há outra opção se não a manutenção do Reino Unido na União Europeia.
Escócia e Irlanda são contra a saída bem como a maior parte dos ingleses sejam eles empresários ou não. Dow Jones só estabilizou quando as sondagens foram favoráveis à permanência e os cofres britânicos não iam aguentar o custo da saída. O único que beneficiaria com isto, por absurdo que pareça seria o gigante russo que ganharia um novo e muito apetecível mercado sem ter que obedecer às regras espartanas da União Europeia. Isto não passa portanto de uma “birra” inglesa. Uma forma de demonstrar que ainda têm algum poder e alguma voz numa Europa que procura desesperadamente um rumo mas que quer passar a ideia de que “tem tudo controlado”.
O caso inglês faz-me recorrer muitas vezes à mesma analogia: quando uma pessoa opta por se casar com outra, está disposta a aceitar tudo o que esse contracto tem de bom e de mau e quando uma das partes não quer cumprir mais as regras, usa o mecanismo da separação e cada um segue a sua vida mas até aí e enquanto durar, as regras são feitas e cumpridas na íntegra por ambas as partes. O mesmo deveria ser aplicado aqui. Há um conjunto de Tratados que define um conjunto de regras que quem quiser pertencer a este “clube” deve cumprir. Da mesma forma que quem opta por casar deve abdicar da vida de solteiro, também quem quer passar a pertencer a um grupo deve, até porque as conhece antecipadamente, estar disposto a cumprir todas as regras que subscreve e não só aquelas que lhe são mais convenientes. Isto aplica-se a todos os países-membros sem excepção.
Por mais que o caso inglês tenha as suas particularidades, monetárias, económicas, geográficas e outras que tais, se é membro de pleno direito da UE, também deve estar disponível para cumprir todas as regras sem excepção. Por pertencer à Commonwealth e por ser a Libra a moeda de referência, não adere ao Euro. Só adere aos programas que lhe convém mas contribui como “peixe graúdo” para o Orçamento da União. Vai até onde concorda, pára quando não lhe convém. Assim é fácil pertencer a um organismo supra-nacional mas não é justo nem ético nem moralmente correcto.
A permanência vai ganhar unicamente por duas razões: por que há o estigma que se um País sai da União, o seu fracasso vai ser total e porque a quase todos os níveis não convém ao Reino Unido sair. Se isto se transformará numa corrente de pressão ou manipulação de uns países face a outros ou ao sistema em geral, logo veremos.
Há, no entanto, uma importante lição a tirar daqui: a União Europeia tem que se reformar. Tem que tomar decisões de fundo e para isso precisa de líderes. Líderes com a capacidade e visão dos seus fundadores e que não tenham medo de tomar decisões polémicas. Que não tenham medo de escolher um rumo de entre os muitos disponíveis. A União Europeia não é mais os Estados Unidos da Europa. Pode optar por ser uma Confederação, pode optar por ser uma Europa dos Países, pode optar por ser uma Europa das Regiões mas não deve optar por continuar a ser uma amálgama de vontades (in)dependentes pois assim certamente o resultado será a desagregação. A União Europeia não pode continuar a estar fechada nas salas obscuras das elites europeias que a quer standartizar e anular as suas diferenças. A menos que estejamos a falar das de desenvolvimento social e económico. Essas sim devem ser anuladas mas há todas as outras que fazem da Europa um tapete de lindos bordados multilingues e multi-culturais e que alguns querem transformar numa manta de retalhos.
Se o BREXIT não se concretizar, e eu a par do GREXIT e de outros “exits” que já noutras alturas defendi mas que neste momento pondero por achar que não é o tempo ideal, ao menos que sirva para se repensar a Europa. Releiam-se os Tratados, dá trabalho eu sei mas vale a pena. Releiam-se os Princípios em quem os Fundadores basearam este conceito e o estruturaram. Repense-se! Refunde-se mas faça-se alguma coisa pois como estamos o futuro augura-se negro e isso não é bom para os ingleses, não é bom para os restantes europeus e não é bom para ninguém.
Estes momentos devem servir para nos fazer parar e pensar no caminho que queremos seguir e com quem o queremos fazer e não há melhor momento que o Agora.
Esperemos pelos resultados Sábado e veremos como vão os actuais “líderes” europeus lidar com a questão embora eu considere que vai ser mais um problema “varrido da debaixo do tapete” que todos vão esperar que desapareça depressa.
O que vale é que Sábado joga a Selecção e vai andar tudo distraído…
Sem comentários:
Enviar um comentário