segunda-feira, 13 de junho de 2016

DA ARTE E DO ARTISTA

(À Artista Plástica Margarida António)

ISABEL ROSETE
A obra, se Obra de Arte realmente é, jamais se nos apresenta tão-só como mostração ou exemplificação de tal ou tal, mas como o des-velamento primordial da Verdade do Ser, ausente de véus opacos, de máscaras dissimuladoras ou de malabarismos ludibriantes. É pura transparência, dádiva genuína em matéria-forma-gesto, erguendo-se como Diálogo aberto no Aberto desde o acto da sua criação processual até à sua exposição pública, quando tornada comunicante perante os seus observadores pensantes, quando tornada meio de comunicação privilegiada das entranhas do seu criador, assim sendo, a um tempo, alma individual-universal.

O autor da obra, se Artista realmente é, dá-se como aquele ente singular, entre o comum das criaturas, capaz, sendo ele o único, de des-florar essa Verdade originária que põe em obra e torna a obra Obra de Arte, porque vê o invisível, porque escuta o inescutável, descortinados para além da trivialidade do olho e do ouvido do vulgo, das gentes dispersas e sem identidade própria ou assumida, entrando, contrariamente a essoutros, nos domínios do in-habitual, ele, o Artista, igualmente o profeta, o arauto, o mensageiro centrado no seu tempo, mas transpondo-se, em direcção determinada e consciente, num tempo outro em múltiplas visões-de-mundos ainda não anunciadas aos olhos míopes e às orelhas moucas.

Assim é a Arte de Margarida António, presente e vindoura; assim é a Artista Margarida António nas suas séries picturais “Life Stile in Douro, “Dance in Douro”, “Reflexos in Douro”, “Ego in Pieta”, “Born and Life”, “O Espírito da Matéria”, “Emoções”, “Sublimações”, “Metamorfoses” ou em “Planetrismo” no “Amor em mim” - que é, conjuntamente, o amor pelo outro -, conjugando, na perfeição, o espírito da Arte com a Arte da vida que é Vida em Arte na quadratura cósmica, mantendo-se com/entre a Terra e os Homens, o Céu e os deuses. Re-unindo a Arte da Pintura com a Arte da Dança, qual Degas vivo incarnado, impregnada de intensa e fina criatividade, exibe cenas de bailado sob fundos cromáticos de cornucópias multicolores, giratórias no centro do Tudo: a Alma perene co-habitante num corpo efémero, mas que com ele jamais se desfaz.

Aí está a Bailarina em comunhão com os seus outros símbolos denotativos: corpo estilizado na ascensão azul da Eternidade; borboletas etéreas, voos intermináveis, liberdade(s) sonantes e a liberdade declarada per si pela Artista, que o nosso mesmo desejo ilustra em aspirações inúmeras, distintas e indistintas, de todas as colorações, em salientes gestos (a Pintura também é gesto), em escritas pictóricas, tal-qualmente poéticas e poiéticas no êxtase de criação, em imagética de espontaneidade/improviso plantada nos múltiplos rostos bordados na aura do planetarismo, no mais sagrado núcleo: a Família.

Van Gogh, Kandinsky, Miró, para além de Degas e de outros Artistas da consagrada Grande Arte, são referências de fino gosto da igual Grande Arte de Margarida António, dada em geometria(s), no figurativo e no não figurativo. Conquanto, sempre um viso próprio, uma identidade singular em cada uma das suas obras, a da nossa Artista/Ser-Humano visionário de todos os horizontes, palcos, cenas reias e possíveis, entre letras e sendas de um punho erguido nas rédeas de um cavalo solto, auto-liberto no fundo dos campos imaculados cobertos de estrelas, que realmente brilham, por entre flores viçosas, que verdadeiramente nos inundam com o seu cristalino e majestoso cheiro.

A Arte de Margarida António prima pela abastada diversidade de temas/motivos, pela versatilidade plástica, pelo talento genuíno, atributos únicos daquelas escassas almas, como a sua, que merecem a categorização de Artista. Segue na Arte e na Vida, que nunca se dissociam, o nobre e significativo lema humanitário:

«Vai, vai, vai por esse mundo além; vai, vai, vai e não temas ninguém!
Vai, vai, vai nesse teu amor; vai, vai, vai e faz o mundo melhor!»

Este lema é, de igual modo, o imperativo dessa Grande Arte - consagrada arqueologicamente há milénios - incorporado no espírito e na obra da nossa Artista, na qualidade ímpar da sua essência própria: a Arte, a Obra de Arte, é manifesto, mensagem, apelo, revolução e inquietação perante as atrozes maleitas deste mundo in-sano; também beleza, harmonia e paz, em missão cultural, social-cívica, humanitária na sua “HUMANITAS”.

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