sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

ENGOLIR SAPOS

Gabriel Vilas Boas
DR
Quem já não disse por uma vez: "Comigo isso não ficava assim!" ou "Eu jamais aceitaria tal situação!? Pois... quase todos!
E quase todos já tivemos que engolir muitas dessas certezas.
Com o passar do tempo fizemos por esquecer a determinação com que abordávamos as situações, as atitudes, as relações.
E por que desapareceu essa determinação implacável com que julgávamos tudo e todos, onde o mundo só tinha duas cores? Há dezenas de razões.
Cada um encontrou as suas.
No meu entendimento, cada um largou aquela pose irredutível quando percebeu o quanto gostava daqueles que o rodeavam e que também eles tinham aqueles defeitos que havíamos excomungado do nosso Paraíso.
Depois houve outro momento: quando fomos nós a meter o pé na poça. Aí o mundo ganhou outras cores além do branco e do preto e nós passámos a apreciar o cinzento. Teve de ser!
Quem não recorda, com um sorriso compreensivo, como julgava indecoroso invetivar alguém desconhecido com aqueles nomes feios e ordinários e que jamais pronunciaria? Para muitos o "jamais" perdeu-se num qualquer campo de futebol onde a frustração da derrota se confundiu com a injustiça e derrubou um dos bastiões sagrados.
Quem não achava ridícula e cega a atitude dos amigos a defender as atitudes inqualificáveis dos filhinhos e jurou que nunca se prestaria àquele papelinho? Para muitos, essa arrogância terminou quando os filhos entraram na escola, para outros foi ainda antes.
Quantos de nós não classificavam a falta de pontualidade como uma indesculpável falta de respeito? Não preciso de dizer que sobram poucos desse imenso grupo.
Não quero desmoralizar ninguém mas a ementa dos sapos ainda vai na entrada...
Os mais pesados começamos por digeri-los no trabalho, os mais indigestos nas relações pessoais.
Ficámos a conhecer o mundo do trabalho e facilmente lhe chamámos selva. E não precisámos de trabalhar em Wall Street. A conivência com os salários paralelos, a fuga aos impostos, a não partilha de informação entre colegas de trabalho... Haveria toda uma panóplia de exemplos bem mais escabrosos para citar, mas estes apanham uma imensa maioria que tem vindo a crescer. Sempre dissemos que isso não aconteceria connosco. Hoje encontramos mais silêncios comprometidos do que palavras quando abordamos o assunto.
Acho mesmo que a questão agora se coloca apenas no campo da legalidade. Recordo apenas que o início desta história nada tinha que ver com leis, mas com valores éticos.
Deixei para o fim os sapos que engolimos nas relações pessoais. Com os amigos e com a família. São os maiores. Alguns tornam-se impossíveis de engolir, mas muitos há que nos foram impostos de uma maneira brutal. Não deixamos de gostar de um amigo quando percebemos que ele fugiu ao fisco, não despedimos a nossa companheira de vários anos quando percebemos que afinal ela não gastava parte significativa do ordenado no médico, mas antes na boutique. Já nem refiro as esposas que tiveram de lidar com alguns deslizes dos maridos. "Eu era incapaz de desculpar uma traição!" Pois sim. Sempre acharam isso, até ao dia em que perdoaram. Não foi uma decisão fácil de tomar, mas tomaram-na. E viveram com as consequências disso. Com dúvidas, incertezas, claro, mas acharam que valia a pena.
As certezas absolutas nas relações, como em quase todo o resto, são tão perigosas como rasteiras. A maneira como gerimos os nossos afetos obriga-nos, muitas vezes a jogos de cintura tais que mais vale não enunciar tantas regras, para não termos de passar o tempo a incumpri-las. 
Aqui chegados, uma questão sobrevem: estamos condenados a engolir sapos? Deixamos de ter valores, ética, princípios?
Nada disso. Primeiro não há nada de errado em engolir alguns sapos. Faz parte do nosso processo de crescimento. E às vezes engolir sapos significa tãosomente admitir que o outro estava certo. Além do mais, penso que muitos sapos nascem do facto de usarmos desde muito cedo palavras como: "sempre", "jamais", "nunca." Na maioria dos casos a realidade a elas subjacente não existe.
O problema não está nos valores, nos princípios, na ética. O problema está em que somos humanos. E muitas vezes isso significa falhar uma vez... vá lá, duas! Não significa falhar repetidamente, descaradamente e muito menos sempre.

Como muitos sabem por experiência própria, aqueles com quem nos relacionamos precisam duma segunda oportunidade, porque todos eles são imperfeitos. Mas nós gostamos deles. E se em algum momento tivermos de abdicar de algo por causa de um bem maior, abdicamos e...ponto final. Tem é de ser um bem maior, porque se não deixa de fazer sentido e os sapos asfixiarão a nossa alma.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

EM SENDO CARNAVAL, AS PESSOAS, QUERENDO, DIVERTEM-SE

Alegria, ENTRUDO, que amanhã será cinza.
adágio popular

Anabela Borges
DR
Representação da consciência colectiva, o Carnaval não deixa de ser uma festa de liberdade, onde quase tudo é permitido, e se afastam preconceitos durante cerca de três dias. E as pessoas, querendo, divertem-se! Daí que, quando queremos mostrar que devemos aproveitar o melhor da vida, tomou-se o hábito de dizer, ironicamente, que “esta vida são dois dias e o Carnaval são três”.

O Carnaval serve a miúdos e graúdos.

O Carnaval é o bode expiatório dos povos, cansados da vida rotineira de um ano inteiro, verdadeiras válvulas de segurança em relação aos sistemas de poder. Sinónimo de folguedo, máscaras e largueza de espírito, o Entrudo é uma forma de dar porrada na política, destaque às problemáticas sociais, ou simplesmente criar espaço para manifestações lúdicas e festivas.

Nas Crónicas & Companhias do Minho, podemos ler: “Por isso, as máscaras, a censura popular e a moda colectiva de se parodiar toda uma existência satirizando-se, ridicularizando, causticando, virando-se, praticamente, tudo do avesso: os homens viram mulheres; as mulheres, homens e a máscara é a caricatura da própria vida local.”

Quando eu era pequenina, o Carnaval representava um dos dias mais felizes da minha vida. 

Dias antes, cerca de uma semana antes, já corríamos a macaca, na escola. 

Não é bem sabida a origem deste costume, mas o jogo era levado muito a sério. Parece-me, agora, à distância que a memória põe no tempo, a primeira manifestação de guerra de sexos que vivi. Era uma autêntica guerra entre rapazes e raparigas, devidamente incentivados pelos professores (a professora das meninas e o professor dos meninos). Eram pequenos bonecos de lã, laboriosamente feitos por nós. As meninas levavam macacos machos e os meninos levavam macacos fêmeas. As histórias mais antigas remetem para bonecos feitos de palha.

É uma tradição que se perde no tempo, muito própria da minha terra. Contam os mais velhos que os bonecos, nas formas de homem e de mulher, representavam, simbolicamente, casais, que podiam ser namorados ou não, podiam andar desavindos, aproveitando o Carnaval para esgrimir argumentos ou reconciliar-se, ou podiam andar a pedir namoro, se bem que diz o ditado: “namoro de Carnaval, não chega ao Natal”. Mas como “no Carnaval ninguém leva a mal”, a rivalidade entre sexos servia de principal pano de fundo à libertinagem linguística e às atitudes quase proibidas ao longo de todo o ano. Era assim que as raparigas exibiam o boneco e havia uma perseguição de rapazes para o esfarraparem, como forma de protesto, o mesmo sucedendo com os rapazes, estes ainda mais atrevidos, pois muitas vezes levavam a macaca para cima dos ramos das árvores e esperavam que algumas das raparigas subissem para se apropriarem dela e eles aproveitariam para lhes espreitarem as pernas.

E é assim: eu cá não gosto que o Carnaval português seja abrasileirado, primeiro porque acho infinitamente mais interessante a nossa tradição dos trapalhões, dos bombos, das máscaras, dos gigantones, dos mascaréus, que era assim que chamávamos à forma como nos vestíamos de homem, de mulher, de velho, de rico, de pedinte, sempre com roupas dos adultos para parecermos mesmo ridiculamente tolos e, quanto mais não fosse, para nos rirmos de nós próprios; segundo, porque está sempre um frio de rachar pelo Carnaval, enfim, e as meninas por ali vão a sambar de coxa grossa e pele de galinha. O samba, que nada tenho contra a sua existência, poderia sempre ser guardado para as festas de Verão, para as romarias, que temos muitas no nosso Portugal, graças a Deus, enfim. 

Hoje, eu continuo a gostar do Carnaval. Mas já não o gozo como outrora. Agora, vejo-o mais como uma espécie de despedida do Inverno e o acolhimento da Primavera que há-de estar por aí a chegar, sentimento que, no fundo está também ligado às suas origens.

Gozem, gozem o Carnaval, que a seguir vêm as cinzas e essas são as cinzas das horas, à espera de melhores dias.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

PENSAR O DESPORTO EM VILA REAL

“Vila Real, oh que linda és
Tens o Corgo aos pés, em adoração
Vila Real, como és gentil
Canta-te Cabril, beija-te o Marão.”

Alina Sousa Vaz
DR
Não é da cidade propriamente dita que nos queremos ocupar nesta crónica. Hoje, a nossa abordagem recai na tónica do DESPORTO, a sua importância no desenvolvimento de uma cidade.

Se é inquestionável a relevância do desporto para a qualidade de vida quotidiana dos cidadãos e das comunidades, também no capítulo da economia, o desporto é atualmente um sector em clara afirmação. 
Apesar de não se verificarem disponíveis muitos dados estatísticos sobre o seu contributo efetivo ao nível da estrutura económica, reconhece-se que o desporto pode potenciar o desenvolvimento local e, designadamente, a geração de emprego, quer por via do seu dinamismo próprio, quer por via da sua articulação com outros sectores produtivos como são, desde logo, os do turismo e do lazer. Como se trata de um assunto com benefícios económicos pouco evidentes a curto prazo, por vezes é descurado, ficando refém da sensibilidade de quem coordena tal sector.

Como tenho vindo a proferir noutras estâncias, o desporto eleva nomes e transmite alma a quem o pratica. O desporto fomenta sentimentos! Quero com isto dizer que a cidade de Vila Real necessita urgentemente de crescer neste âmbito de forma sólida e consistente para que as populações possam ter mais um motivo de orgulho da sua cidade. Louvemos as associações e os clubes, mas o desporto não pode crescer como se de uma casa individual se tratasse onde as atividades desportivas andam ao sabor de pequenas rivalidades que parecem não fazer qualquer sentido. A autarquia deve, sem dúvida, apoiar os projetos já existentes, mas é primordial haver coordenação e um fio condutor para um futuro desportivo promissor se consolidar na cidade de Vila Real.

É urgente um plano viável que sirva a sociedade vila-realense no seu todo e não persistir em erros que dotem a cidade de infraestruturas que sirvam poucos ou nenhuns.

Seria ótimo um jovem poder iniciar uma prática desportiva e levá-la a um patamar competitivo elevado, se assim o desejasse. Neste momento, são poucas ou nenhumas as modalidades que permitem tal situação o que indica que há um longo caminho a percorrer. Chamem os clubes, as associações, juntem os técnicos e decidam o melhor para a cidade. Só desta forma Vila Real sairá do anonimato ao nível desportivo, até lá apenas vamos dependendo da boa vontade e da carolice de alguns.   

A MUDANÇA estará para breve?


sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

CULTURA DE VIOLÊNCIA

Gabriel Vilas Boas
DR
A violência é um ícone das sociedades modernas.
Não falo do conceito clássico que habitualmente associamos a conflitos armados ou da repressão policial em regimes pouco democráticos. Não falo da violência que vemos nas ruas de Kiev ou do Cairo. Refiro-me antes a um modo de estar em sociedade que primeiro tolerou, depois aceitou e agora quase que incentiva a agressividade.
 Para muitos a violência/agressividade tornou-se quase uma estética de afirmação pessoal, um estilo de vida, um modo de “marcar território” no trabalho e nas relações.
As escolas têm cada vez mais dificuldades em contê-la entre alunos, os pais receiam falar delas aos filhos com medo de serem ridicularizados, os media assobiam para o lado. Acho que esta atitude titubeante de pais, escola e comunicação social tem que ver com a consciência pesada que todos sentem em relação ao assunto.
 A televisão cavalga a euforia de poder que a violência proporciona em tudo o que transmite: filmes, séries juvenis, programas informativos, desenhos animados. Depois, hipocritamente, procura redimir-se com debates pretensamente moralistas chamando à discussão os psicólogos, os técnicos da segurança social, os agentes da autoridade, os pais, os jovens… Jamais se questionam nem permitem que os questione
A escola sente que não vale a pena. Vislumbra tarefa hercúlea e endossa responsabilidade às famílias, à sociedade, às televisões. Promove umas palestras sobre violência no namoro, controla a agressividade no recreio e dá o trabalho por concluído. Faz de conta que nada tem que ver com o assunto, mas tem. A escola moderna promove duma maneira absurda a competitividade. Números, resultados, sucesso, rankings. Apenas isso parece interessar. E a mensagem passa claramente do diretor para os professores e destes para os alunos. Da competitividade à agressividade vai um passo muito pequeno. Se a isto juntarmos a frustração de objetivos não alcançados, depressa chegamos à violência. Que não é física, mas psicológica. Muitas jovens vivem profundamente infelizes e deprimidos com este estilo educativo moderno que fez da cultura do resultado a única coisa que interessa em educação.
Facilmente chegamos a casa e à família. Cansados, desorientados, encurralados entre televisões sensacionalistas e agressivas e uma Escola que faz o culto da competitividade, os pais não sabem como atuar. Muitos deles têm já medo dos filhos. Outros nem reparam que eles existem e bombardeiam-nos com mais violência. É o pai que bate na mãe; é a linguagem desbragada; é a exigência de resultados escolares a todo o preço; é o abandono dos compromissos assumidos; é a falta de respeito, carinho e amor entre familiares, é…
Há uma enorme guerra civil que nos destrói a alma diariamente e não permite que sejamos felizes. Por isso penso que devemos reorientar o nosso estilo de vida. Perceber para que serve, afinal, uma escola, uma família, uma sociedade. Uma família deve incutir valores, uma escola serve para ensinar e educar, a sociedade imprime coerência coletiva a um conjunto de pessoas que quer viver em comunidade. Isso não se faz segundo as leis da selva.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

DA LEITURA

Anabela Borges
DR
Podemos ir a muitos sítios, podemos viajar, partilhar espaços e emoções, mas o regresso à escola, depois de cada interrupção, tem um cheiro especial que retemos, para sempre, na memória.

A escola da minha memória cheira ao papel das sebentas e ao uso dos manuais passados de mão em mão, às aparas da madeira dos lápis acabados de afiar, aos atlas que se desdobravam do mofo guardado no tempo, e aos pedacinhos minúsculos de borracha que inundavam a sala toda, que ficavam esmagadas no meio dos livros e cadernos, colavam-se à sola dos sapatos e perdiam-se nas rasuras do soalho, de tanto se apagarem os números incorretos ou as palavras de desenho imperfeito, por força de se escrever com o primor que era imposto pela professora. As escolas são os livros. 

Há uns tempos, um senhor ancião com muita sabedoria, chamado José Hermano Saraiva, dizia que as escolas são os braços maternais. E eu achei aquilo bonito e muito verdadeiro. A Escola é feita de escrever, de dizer, de ouvir, de partilhar, de ler e de contar. E, nesse labor incessante, a Escola consegue abraçar, com os seus braços maternais muito compridos, todos os meninos e meninas, que são os seus filhos e filhas.

Quando eu era pequenina, os livros de literatura eram bastante raros, porque havia poucos e nem toda a gente tinha a possibilidade de os adquirir. E também havia muita gente que não sabia ler e que não tinha acesso aos livros e à leitura. De vez em quando, alguém me oferecia um livrinho infantil, pequeno e muito fininho – muitos deles não mediam mais do que 15 centímetros! – e eu ficava deliciada a examinar as suas poucas páginas e a observar, atentamente, as imagens, porque também sempre apreciei muito a pintura, o desenho e a ilustração. E assim me contentava em folhear, vezes sem conta, os mesmos livros, encontrando sempre um pormenor, fixando-me numa determinada palavra, descobrindo sempre uma coisa diferente, como um segredo que estivesse guardado.

Uma vez, o meu pai comprou uma coleção de livros a um desses vendedores que andam de porta em porta. Eram uns livros muito preciosos, com uma bela encadernação e letras douradas, e tinham um efeito quase só decorativo. Foi então que, praticamente às escondidas, eu ia folheando esses livros – lembro-me, particularmente, de Os Miseráveis, de Victor Hugo. Não era que eu entendesse muito das histórias que esses livros contavam, e o mais certo, se me vissem a lê-los, seria dizerem-me, prontamente: “Esses livros não são para a tua idade, porque têm palavras muito difíceis para tu entenderes. Pousa-os, para não se estragarem”. E, quando eu podia, lá voltava a pegar neles e mastigava as palavras, soletrava-as, tentava dar-lhes um sentido próprio, assim descobrindo e aprendendo sempre uma coisa diferente. Isso! Como um segredo.

Hoje, a minha vida não faria sentido sem os livros. Por isso, leiamos, leiamos muito para enriquecermos como indivíduos e como nação.

Os livros são segredos de papel, que só são desvendados quando os abrimos e os deixamos falar. Agora, silêncio: vamos ouvir o que este livro tem para dizer.    


quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

PARE, ESCUTE E OLHE: REINVENTE-SE A ANTIGA LINHA DE COMBOIO VILA REAL – RÉGUA.

Alina Sousa Vaz
DR
Lembro-me como se fosse hoje! O encerramento da linha de comboio Vila Real- Régua deixava atónitos todos aqueles que tinham nascido e crescido a ouvir o barulho do motor da locomotiva. A sinfonia barulhenta fazia parte das suas vidas e o som sempre fora perfeito por entre vales e montes.

Naquela noite, as vozes gritavam bem alto e de corações apertados, os manifestantes surgiam em grupos provenientes das aldeias de Penelas e Povoação transformando a estação de Carrazedo no foco de atenção dos telejornais nacionais. O cordão humano debatia-se na defesa do comboio que mais parecia ser, no escuro da noite, um monstro carente de proteção. 

- Não ao fim da linha!!! - Não ao fim da linha!!! – gritavam as vozes incansáveis que impediam a passagem da última locomotiva que fazia a viagem de regresso à Régua. Todavia, aquelas palavras levaram-nas o vento e o encerramento da mesma foi uma realidade, com base que o percurso não tinha segurança! 

Este percurso era fantástico! Fiz este percurso dezenas de vezes durante a minha meninice. Por aqui ia ter com a família que morava em Penelas e na Povoação e muitos dos amigos iam de viagem ao Porto, a Lisboa, para o mundo! Nas descidas, o comboio acelerava à velocidade de 50 km à hora. A subir ou em plano, o normal eram uns vinte a trinta à hora! Os 24 km de Vila Real à Régua percorriam-se em cerca de uma hora, com seis apeadeiros. As populações que não tinham transporte próprio, os estudantes das aldeias, os soldados faziam o alvoroço e davam alegria às terras vinhateiras.

O sonho de ver a linha ativa foi esmorecendo e após a retirada dos carris toda a luta caíra por terra. Os autocarros começaram a circular por entre as estradas estreitas e a solucionar os problemas dos habitantes mais isolados dos centros citadinos.

E a antiga linha? Que é feito hoje dela? 

Mudam-se os tempos mudam-se as necessidades. O percurso da antiga linha foi reinventado pelos atletas amadores dos desportos da natureza. Caminheiros e amantes da BTT exploram o itinerário outrora percorrido pelo comboio. Da linha só resta os apeadeiros que dão nome às localizações e as famosas placas: ATENÇÃO AOS COMBOIOS, PARE, ESCUTE E OLHE. Proibido o trânsito pela linha. Atualmente, a proibição coloca em ironia aquelas palavras. A linha é uma afirmação cada vez mais sólida dos exploradores e a paisagem vai ganhando ao longo dos tempos nova vida e dinâmica. Algo se perdeu, mas muito se pode vir a ganhar. Haja orientação e interesse político para a reabilitação deste trilho. As paisagens convidam a cada fim de semana gente nova que dão enfâse ao turismo rural promovendo a região. É hora de agir! Recupere-se de forma turística a antiga linha de comboio Vila Real-Régua. Todos juntos conseguimos!

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

A SORTE SAI SEMPRE À CASA

Gabriel Vilas Boas
DR
O Euromilhões fez ontem dez anos. A notícia passou suave pela imprensa e pelas redes sociais. Tempo de fazer balanço e refletir sobre alguns dados estatísticos do jogo que envolve milhões de euros todas as semanas. 

No que diz respeito a Portugal, a grande conclusão é que os portugueses gastaram o dobro daquilo que ganharam. As notícias dizem que os portugueses “apostaram o dobro”. Sempre adorei estes malabarismos linguísticos dos jornalistas quando falam do jogo. Um vício terrível. Segundo alguns viciados em várias dependências, o pior de todos os vícios.

Quando verificamos alguns dados destes dez anos de euro-ilusões, verificamos outros dados curiosos: entre os nove países que aderiram ao Euromilhões não está a Alemanha. Por que será? Mas estão Portugal, Espanha, Irlanda (através do Reino Unido). Entre os nove magníficos estão também Luxemburgo e Suíça, nada mais, nada menos do que dois dos países onde a emigração portuguesa é mais forte.     

E os portugueses nem se podem queixar muito de grande azar ao jogo. “Investiram” nove mil milhões de euros em dez anos e tiveram um retorno de 50%. Estão a par da Espanha no número de primeiros prémios obtidos e só um pouco abaixo dos franceses. No entanto, a França ou a Espanha têm cinco ou seis vezes a população portuguesa. E, sobretudo, qualquer um desses países vive(u) uma situação económica muito mais favorável do que Portugal. 

E quem aposta no jogo de sorte e azar? O rico? O pobre? O remediado? O rico não tem porquê, o pobre não tem dinheiro, o remediado não tem juízo mas tem ilusão e ganância para dar e vender. Novecentos milhões de euros/ano significa que gastamos 17,5 milhões de euros por semana no Euromilhões!!! Nunca vi nenhum fazedor de opinião perguntar o que poderia o povo português mudar na sua vida quotidiana se aplicasse esse dinheiro nas suas necessidades! Isso não interessa nada. The show must go on, quer dizer, o jogo tem de continuar, se possível aumentando sempre de nível. 

Talvez porque nunca joguei, o vício do jogo sempre me foi difícil de entender. Como o vício do álcool ou do tabaco. Todos eles legais, todos eles importantíssimos para esta economia hipócrita que faz vida à custa da desgraça alheia. Mas estas são as regras e só joga quem quer. O azar é que querem muitos, por isso perde-se muito. Todas as semanas. 

E por que jogam tanto os portugueses? Não me parece que sejam mais viciados que outros povos, como os ingleses que apostam por tudo e por nada… Para mim é uma questão de mentalidade e de ilusão. 

O que é tipicamente português é a mentalidade. É uma marca distintiva lusitana pensar-se que a vida se resolve com a lotaria ou o Euromilhões. Desejamos ardentemente ultrapassar todos os nossos problemas económicos assim e apenas trabalhamos nessa solução. Acreditamos nisso todas as semanas. O Euromilhões é o nosso D. Sebastião quotidiano, o herói que nos redimirá de toda uma existência mísera e mesquinha. A realidade, o bom senso, a estatística, já nos provou o contrário, mas nós recusamos a sentença alemã. Recusamos porque a ilusão é a mais doce mentira da vida. 

Precisamos dela para viver, para ter objetivos, para desejar. O dinheiro que o jogo promete permite-nos alcançar, concretizar objetivos materiais e concretos… mas não nos permite viver de maneira sublime. 

Essa prova só chega quando finalmente chegamos ao palácio da ventura de que falava Antero de Quental e vemos que ele estava vazio, silencioso e escuro.

A vida não se ganha com o jogo mas pode perder-se nele.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

O LONGO INVERNO

Velho, velho, velho 
[…]o inverno
Eugénio de Andrade

Anabela Borges
DR
Este é o Inverno das nossas vidas.

Talvez que os dias nem sempre se esgotem no passar das horas, pois que os instantes que as preenchem pairam num vazio de incertezas como acontece no primeiro dia de Inverno. E o Inverno prolonga-se de forma incessante, e essa delonga dita o nosso amor e o nosso humor, o nosso aconchego e o nosso frio, o que nos preenche a ideia de espantos e desencantos sisudos, o nosso vazio.

O Inverno, para lá da vidraça, pode ser lindo, ter a sua graça: as folhas, que não se sentem observadas, rodopiam, levitam e balançam, numa estranha dança; a água, que é do tempo muito antiga, não se vendo controlada, salta, desce, encharca, respinga.

E o rio que corre, solitário, leva a fúria das nossa vidas, indiferente a tudo o que o cerca, indiferente ao frio do inverno dos nossos corações. Leva o infortúnio dos nossos dias, os medos secretos que queremos esconder, e o desejo incontido dos dias claros. O rio lava as almas dos bichos, arrasta restolhos de tudo... restolhos de nós.

O Inverno sobressalta-nos e encanta-nos, mas é de um encanto que não sabemos explicar, é o espanto de nos sabermos pequeninos, impotentes e enfermos perante o poder da Natureza, que detém as rédeas das nossas vidas como ninguém.

Vento, chuva, frio, neve… pois é um incómodo e deve ser um respeito, deve. Mas, para lá da vidraça, podem ter a sua graça. O inverno visto da janela pode ser uma cena bem apreciada, curiosa, bela.

Mas a Primavera, quem esconde o seu desejo mais profundo de ver as luz nos caminhos, nos dias de primavera? A primavera da vida e a Primavera do sol, pássaros a largar beirais e flores a romper perfumes e cores, onde apenas reinavam lamaçais.

Está visto. Estou melancólica por causa do longo inverno das nossas vidas.

E viva o Dia de São Valentim também.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

UM PODER DE QUE NINGÉM FALA

Gabriel Vilas Boas
DR
Ao longo dos tempos, mas em especial durante o século XX, a mulher tem vindo a ganhar um poder merecido na sociedade, na política, na cultura, na economia, nos direitos. Espanta que o processo tenha sido longo, mas ainda está muito longe de estar concluído na Ásia ou em África. É natural que elas falem dele com orgulho, porque, infelizmente, tiveram de o conquistar, como é natural que os homens assobiem para o lado, procurando alijar e disfarçar uma culpa histórica. 

Orgulhosamente, as mulheres ufanam-se das posições que vão ganhando nos cargos públicos, nas empresas, nas organizações. Sublinham as mudanças sociais e mentais que a sua independência económica trouxe. Normalmente costumam acrescentar que o fizeram com o celebérrimo toque feminino e sem abdicar da família ou da vida afetiva. Não falam dos custos da operação como não falam como lhes doem os pés ao andar de saltos altos. Enfim, é um orgulho com toque feminino…

O que me interessa destacar é outra realidade: elas mudaram a face da economia. Não me estou a referir aos cargos de chefia que já ocupam nem à paridade de salários ou aos empregos que desempenham. Também não quero significar que elas são excelentes a gerir o orçamento familiar, ideia muito pueril e masculina. 

Quando eu digo que as mulheres mudaram a economia quero dizer que elas transformaram radicalmente a estrutura económica ocidental. Caminhem por uma cidade e vejam a quantidade de negócios que dependem grandemente do consumo feminino. Passeiem por um shopping a várias horas do dia e observem quem anda às compras. Agora reflitam na quantidade de shoppings que existem, por exemplo, em Portugal. Pensem nos custos de arrendamento e manutenção dum espaço comercial, onde é necessária uma faturação acima dos dez mil euros mensais. 

Façamos ainda o seguinte exercício mental (e académico, porque isto jamais acontecerá): durante um ou dois meses, as mulheres deixavam de fazer as suas habituais compras (excluo aqui os supermercados, por razões óbvias). Seria o desespero total para 80% dos comerciantes e um tsunami na economia real. Não voltaríamos a falar da sexta-feira negra de Wall Street, porque o paradigma mudaria. 

Acrescento ainda um outro dado: se elas o gastam é porque elas o ganham. E fazem circular o dinheiro. E isso é bom para a economia. Muito bom, aliás. Daqui facilmente se conclui que as mulheres não só mudaram a cara da economia, como a lideram, ainda que não tenham muita consciência disso. O que não é mau de todo…

Curiosamente não constituem um grupo de pressão a nível económico. Não fazem lobby. Há o grupo da restauração a querer reduzir o IVA, o pessoal do golfe que já tem iva reduzido, os patrões das transportadoras irritados com os impostos excessivos, os agentes desportivos que lamentam os balúrdios que pagam ao fisco e até os escritores, pintores e atores dizem que vivem na indigência porque os impostos lhes tiram público. Não existe o loby das sapatarias, das bijutarias, das cabeleireiras ou do pronto-a-vestir. Se existisse, seria poderoso. 

E quando as mulheres tiverem a plena consciência da sua relevância na economia dos países e o assumirem sem constrangimentos, a sociedade terá padrões bem diferentes dos atuais.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

AS FACES DO “FACE” (AOS DEZ ANOS DE EXISTÊNCIA DESTA REDE SOCIAL)


Apoiar causas, reagir a medidas do Governo ou comentar a vida de figuras públicas. A rede social criada por Zuckerberg a 4 de Fevereiro de 2004 é hoje um pouco como o "café da esquina".
 Jornal Público, JOÃO PEDRO PEREIRA

Há pessoas que se incomodam muito com o que os outros publicam no Facebook. E eu não entendo
Anabela Borges
DR
(bem) porquê.

Isto, no fundo no fundo, é uma espécie de coletividade. E cada um de nós deverá assumir a sua postura face aos interesses na utilização desta comunidade de povo que é o FACEBOOK. Sabemos que nem todos partilham, gostam, comentam, ou publicam temas e imagens do nosso agrado. Mas isso seria impossível de acontecer, no Facebook como na vida.

Eu vejo mais ou menos três tipos de facenautas:
Os que passam praticamente despercebidos, espreitando os outros por detrás das cortinas como vizinhas bisbilhoteiras. Não comentam, não “gostam”, não publicam, nem partilham…não fazem nada, só espreitam, mas andam por lá, num voyeurismo irritante; quase ninguém dá por eles, mas, ao que parece, são muitos.  

Há os que têm como objetivo mostrar / promover / divulgar ações, atividades, assuntos de cariz profissional ou não, pessoal ou não, familiar ou não.
Por fi, os que, basicamente, convivem (nos moldes que a plataforma permite) com amigos, virtuais ou não, pendendo mais empatia para uns do que para outros, como é natural no Facebook como na vida.

Eu só sei que não me enquadro, seguramente, no primeiro grupo, mas esses são tão livres de andar por lá como são todos os outros, à partida.

Quando vejo publicações que não aprecio, simplesmente NÃO AS APRECIO. Quando me aparecem à frente, deixo que me passem ao lado. Nisso, temos de admitir, o Facebook é muito prático: se gosto, GOSTO; se quero comentar, comento; se quero dar a conhecer, dou; se não quero, não dou; partilho só o que quero… Se não gosto mesmo nada, SOU LIVRE – normalmente, ignoro.

E não me indigno. Eu só me indigno quando me fazem comentários impróprios. Nesse caso, procuro assegurar que não voltarão a repetir-se.

Se as pessoas partilham o que gostam, “chavões”, frases feitas ou não, se apelam à religião, se partilham momentos pessoais ou profissionais, se dão erros ou não dão erros… O que importa? As pessoas têm o direito de serem felizes, no Facebook como na vida.


Mas isto sou só eu a pensar, que isto, quer queiramos quer não, anda tudo ligado.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

OS GÉNEROS LITERÁRIOS CULTIVADOS POR ANTÓNIO CABRAL: UM HOMEM DURIENSE

Alina Sousa Vaz
DR
Como havíamos dito no final da última crónica apresentada a público, António Cabral, enquanto escritor, deixou um legado incontornável que em muito contribuiu para o enaltecimento da Cultura Popular Transmontano-Duriense. O património imaterial da região ficou, assim, com uma riqueza inegável, pois através da sua obra diversificada, ao nível de géneros, podemos verificar as características ímpares que tão bem traduzem a problemática da ruralidade, muitas vezes em contraponto com a vida na grande cidade.
Desta forma, António Cabral, enquanto etnógrafo e dirigente do Centro Cultural Regional de Vila Real, teve uma ação importante, pois ao fazer uma recolha exaustiva dos jogos populares contribuiu para que nenhum dos aspectos ancestrais e tradicionais dessas manifestações desaparecesse.
Relativamente a este assunto, o estudioso considerava que era de extrema importância o contributo dos grupos folclóricos ou etnográficos, como lhe prefere chamar, já que nas atuações pelo país e pelo estrangeiro promovem e dinamizam a cultura da região ao levarem consigo os trajes típicos, os apetrechos que caracterizam as vivências das suas gentes, quer no trabalho, quer no lazer.
Por sua vez, enquanto dramaturgo, António Cabral considera “O teatro a arte da palavra em ação”. (…) “é sem dúvida uma das melhores formas de retratar e questionar a humanidade e de proporcionar um autêntico prazer artístico às multidões” (…) “ Numa palavra o teatro é fundamentalmente jogo – o jogo da vida”. (Cabral S/d: O jogo e o tempo).
A título de exemplo, consideremos a peça “Virá um dia virá”, onde o dramaturgo denuncia as injustiças sociais para com o pequeno agricultor e camponês duriense, pois na hora de venderem os produtos são aqueles que apresentam maior dificuldade no regatear o preço. António Cabral evoca através de uma cantiga, logo no início da peça, a necessidade de uma determinada ação da sociedade para que as coisas mudem:

 (Cantiga)
O que é preciso na vida
É adivinhar o futuro,
Fazê-lo dar umas voltas,
Ter-lhe o freio bem seguro.

Ter-lhe o freio bem seguro,
Pô-lo de patas pró ar
E pôr as coisas no sítio
Em que deviam estar.

Em que deviam estar,
Não no sítio em que estão.
Para isso, meus amigos,
Só com a revolução. (Cabral 1977: 102-103)

Ao nível da ficção, António Cabral, tem, também, como inspiração o quotidiano da região do Douro. Por exemplo, no romance A noiva de Caná retrata-se a história de uma mulher de espírito forte e de sedutora beleza. Ela encarna o próprio espírito da quinta, com a rotação do trabalho das vinhas: a poda, a sulfatação, a vindima, o esmagar do mosto, até ao copo concentrado de sol e de fraga, doce, celestial e ao mesmo tempo terreno como a vida e a morte.

Como poeta mantém com os outros homens um pacto de união, pois através da sua arte e da sua voz mostra uma consciência solidária cantando com e para o seu povo, as dores, as lágrimas e angústias do Douro humano. Segundo o poeta, a região do Douro/duriense é “o paraíso do vinho e do suor” fortemente marcada pelo rio Douro, que lhe corre nas veias com todo o seu caudal de sofrimento, mas também de esperança. Este sentimento revela-se no trabalho árduo dos “homens de camisas empastadas” (Cabral 1999:13) que de sol a sol redram “videira a videira,/ pegados à enxada,/ comendo poeira”(Cabral 1999:47).


Assim, não será por isso exagerado dizer que António Cabral é por direito próprio uma voz do Património Imaterial duriense, um poeta da paisagem humana e natural da região do Douro, um homem que, pela escrita, soube, de modo original, deixar para a memória futura a importância cultural do Douro.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

“ATÉ SER PRIMAVERA” LANÇADO EM AMARANTE NO PRÓXIMO SÁBADO



Anabela Borges, escritora amarantina
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Primeiro livro da inteira autoria de Anabela Borges, “Até ser Primavera” surge como uma antologia de dez contos onde impera o desespero da condição humana, a dar lugar à esperança na primavera da vida.
Até que ponto as coisas mais simples podem fazer alguém voltar a agarrar-se à vida, ou os mistérios inexplicáveis levam a desistir dela? Como se faz da intriga um modo de vida, ou se vive na cegueira de não ver o que está mesmo à nossa frente? Como justificar um aborto voluntário, ou viver com alguém que te faz a vida num inferno, como aguentar a perda daqueles que mais amamos, ou entender a saudade arrebatadora no fado do amor, como perdoar, ou gerir arrependimentos? São histórias que, há muito, te acordam o sono, te preenchem as memórias e te povoam os dias inquietos, para ler e refletir. Vale a pena acreditar na primavera da vida.
Apresentação pública na Biblioteca Albano Sardoeira,
sábado, 8 de fevereiro, 16h00
Este livro surge como o resultado da atribuição do prémio melhor conto da coletânea Ocultos Buracos, da Pastelaria Studios Editora, e inclui o conto vencedor.

Anabela Borges, em perfil

Anabela Carvalho Borges de Sousa Lopes nasceu a 22 de janeiro de 1970 em Telões, Amarante. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, na variante de Estudos Portugueses, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Anabela é professora do Ensino Básico e Secundário.
Confessa que sempre gostou de ler, de escrever, de cultura e das artes em geral. “Não consigo situar no tempo uma influência direta na minha escrita, mas vou contar uma história engraçada: nos anos 80 (era eu adolescente) participava nos concursos de poesia da rádio Emissora Regional de Amarante; venci o concurso por quatro vezes consecutivas, que era subordinado a temas variados e no qual participavam pessoas mais velhas que eu e com mais “bagagem” literária. Os poemas eram divulgados na rádio e havia prémios. Um dia, um tanto ao quanto tímida com a situação, e já ocupada com a minha entrada para a faculdade, deixei de participar. O poema mais antigo que tenho registado data de 1984, e foi redigido numa aula de Português. De uma forma geral, os professores sempre me incentivaram a escrever e o meu professor de Literatura do secundário era, sem dúvida, muito exigente e “puxou” muito por mim”, desabafa a escritora.