quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

O AMOR NÃO É O DIA 14

RAQUEL EVANGELINA
Da próxima vez que a minha crónica sair será, em princípio, mesmo na mouche no dia dos namorados. E para não estragar o dia com o meu romantismo exagerado (já vos disse que sou irónica?) despacho já este assunto hoje. O que significa o dia para mim? Nada. Absolutamente nada. Podem achar que isto é conversa de solteirona ressabiada mas não é. Podia ser mas não, não é. Eu explico o porquê de não me dizer nada. Gosto de receber presentes? Gosto. Gosto de dar presentes? Também. Aliás confesso que até me dá um certo gozo a ver a cara da pessoa quando é surpreendida com algo que não estava à espera. E isto vale para namorados, amigos e familiares. Gosto bastante de pensar no que oferecer, de preferência algo diferente e de ver a reação da pessoa que não estava nada à espera. Agora é obrigatório ser no dia 14? Não. Não é muito melhor receber algo inesperado num dia que supostamente não tem nada de especial para ser comemorado? Uma mulher não se sente mais valorizada quando num dia qualquer tem um presente à espera que a faz ver que a pessoa se lembrou dela sem ser num dia que a televisão, as ruas e toda a gente nos lembra que somos “obrigados” a oferecer algo? Peço desculpa a todas aquelas pessoas lamechas que neste dia só vêm corações. Não tenho nada contra elas… Juro! Mas para mim o amor não é isso.

O amor não é o urso de peluche com aquele coração enorme a dizer “I love you”. O amor não é ir jantar fora naquele dia porque toda a gente vai e também temos que ir. O amor não é declarações lamechas em textos de metro e meio nas redes sociais com foto fofinha e depois andar a mandar mensagens ao jeitoso ou à jeitosa que temos como amigos virtuais a ver se quer tomar café connosco. O amor não é o consumismo exagerado que nos entra pelos olhos dentro nas próximas duas semanas na publicidade da TV e nas montras das lojas. O amor é outra coisa.

O amor é estar juntos quando tudo corre bem mas principalmente quando as coisas correm mal. É olhar para uma pessoa, perceber os defeitos dela e mesmo assim não a querer trocar por alguém que, aparentemente, nos parece melhor. É querer muito abraçar alguém e no minuto seguinte só apetecer dar-lhe uma bofetada porque nos irritou. (Vá isto pode ser agravado por eu ser de um signo bipolar). É ficarmos contentes e orgulhosos com as vitórias da pessoa e tentar dar ânimo quando as derrotas o desanimarem. É saber que um “Fica bem” e um “Cuida-te” vale mais que todos os corações a dizer I love you que são oferecidos. (Aliás alguém me explica em que tipo de decoração numa casa de uma pessoa adulta é que aquilo fica bem?). E acima de tudo o amor não é algo que se é manifestado a 14 de Fevereiro. Se querem manifestar nesse dia óptimo. Mas é para continuar ao longo dos tempos. Não é dar um presente nesse dia, ir jantar fora e depois andar a faltar ao respeito, desprezar e não mimar ao longo dos outros 364 dias.

Acreditem que não tenho nada contra o dia. A sério que não. Tenho é contra a ideia de que neste dia é que deve ser tudo dito, que se deve parecer bonito e o resto dos dias que se lixe. Já passei dia dos namorados solteira, já passei dia dos namorados a namorar. As vezes que fui jantar fora foi com amigas. O que até tem a sua piada porque quando somos só duas passamos por casal. Qual a diferença? Nenhuma. Nunca recebi rosas nesse dia, fora desse dia já. Até gosto de flores mas são presentes que não duram. É irónico no dia do amor receber algo que passado uns tempos murcha não? È que se nos dá para interpretar o presente como a metáfora do sentimento da pessoa deprimimos…

Agora a sério. Amem, amem muito. Querem oferecer rosas, ofereçam. Querem fazer textos de metro e meio e propagar ao mundo o quanto gostam de alguém façam. Querem oferecer ursos pirosos mas extremamente românticos ofereçam. Mas façam disso um ato recorrente. Não façam disso apenas a celebração do São Valentim. E se não há cara-metade para celebrar o amor não se preocupem. Há amigos, há família e acima de há aquele amor bastante importante… o amor próprio! Portanto celebrem o amor. É importante que ele seja celebrado. Mas façam-no sempre.

A RAPARIGA QUE QUERIA CORRER (NA 1.ª PESSOA)

ELISABETE RIBEIRO
Três meses e quinze dias distam entre o último dia em que corri até ao dia 20/01, dia de tentar regressar aos treininhos. Sim, leram bem, foi uma tentativa, dado que, em determinados movimentos quotidianos ainda sinto um incómodo na zona lombar (lado direito) que vai impedir que treine tão cedo.

Retrocedendo um pouco nos acontecimentos. Em outubro passado fiz uma ressonância magnética à zona lombar para descobrir a proveniência da dor que me acometeu nos últimos treinos que tinha feito.

Pelo que o médico resumiu, correr estava fora de questão até tratar esta lesão. Segui para fisiatria. Após análise foram-me prescritas 20 sessões de fisioterapia (comparticipadas). Quando as iniciei comecei logo a revirar os olhos. Um fisioterapeuta para 4/5 pessoas??? Como é possível? Bem, é possível, mas o certo é que durante as 20 sessões foi mais do mesmo (TNS, magnetos, ultra sons e ginásio) mãozinhas, que era bom e provavelmente mais eficaz, nem vê-las. Poucas melhorias senti. Terminei as sessões com uma sensação de tempo perdido. Não passei de um número e a qualidade de tratamento e profissionalismo foi pior que as temperaturas do inverno na Sibéria.

Voltei a falar com a Fisioterapeuta que me tem acompanhado. Admirou-se por nem sequer terem feito um tratamento de massagem. Pois, nem um em 20. Recomecei a fazer tratamento com ela. Para terem uma ideia, no fim da 1ª sessão, deixei de ter dores na zona da virilha, pois era uma mazela que também me perseguia. A 2ª sessão incidiu mais na zona lombar, mais precisamente na lesão assinalada a vermelho no relatório. Essa zona, (L5-S1) entre a 5ª vértebra e a sacro (a articulação sacro-ilíaca é a maior articulação do corpo humano e faz a conexão entre a base da coluna vertebral (osso sacro) e os ossos da bacia (ilíacos)) é a que me tem dado mais problemas. 

Para verificar o seu estado, e com indicação da Fisioterapeuta, fui fazer um treino breve e leve.

20 de janeiro, 10.30h, nevoeiro, temperaturas a rondar os 5 graus, equipei-me e escolhi um trajeto tranquilo e plano. Estava verdadeiramente emocionada por voltar a correr. Senti aquele formigueiro típico da ansiedade, mas, em simultâneo, de alegria.

Após um bom aquecimento de 10 minutos, comecei a correr. A sensação foi deliciosa. As pernas responderam muito bem. A respiração estava coordenada. Pensei fazer 30 minutos bem calminhos. Quando cheguei aos 15 minutos comecei a sentir tensão na zona lesionada. Tentei correr sem me defender e mais devagar. Aos 20 minutos a dor aumentou e caminhei uns 100 m. Retomei a corrida mas a dor veio mais forte e irradiou para o grande glúteo. Parei ao fim de 24 minutos de treino. Acreditem ou não, tive vontade de chorar. Mas em nada ajudava. Regressei a casa e e fiz uns bons 15 minutos de alongamentos. Não senti mais dores. Contudo, o problema está lá e necessita de continuar a ser tratado. 

Resumidamente, participação em provas, não é para tão cedo. Ou então treino de andarilho. Todavia, arranjarei sempre forma de estar em algumas como espetadora. :)

SER MÃE TRABALHADORA NOS NOSSOS DIAS

MÁRCIA PINTO
Enquanto mãe, sair de casa para trabalhar e deixar os filhos numa ama ou na creche é sempre um problema. Além de assumirmos a culpa porque de alguma forma estamos a "abandonar" a família, algumas mulheres sofrem para conseguirem organizar o tempo da melhor forma.

Contudo, a vida moderna não pode, ou pelo menos não deveria, comprometer o vínculo afetivo entre mãe e filho. O tempo de dedicação aos nossos filhos pode até diminuir, mas a qualidade não.

Não entanto, não é suficiente estar no mesmo ambiente que ele. É preciso dedicarmos esse tempo à criança, demonstrando que queremos fazer parte da vida dele, conhecer as suas necessidades e angustias, o que fez ao longo do dia e ajudar nas tarefas escolares

Assim, há algumas crianças mudam de comportamento por se sentirem abandonadas pela mãe. Começam a demonstrar desinteresse pelas coisas e por vezes até provocam problemas na escola.

Deste modo, quanto mais novo é a criança, maior a necessidade da presença da mãe pois, quando inicia a fase escolar, entre dois e três anos, começa a criar o “seu mundo”, a criar laços com os amigos e professores. 

Apesar disso, esse novo mundo não compensa a ausência da mãe, apenas faz com que a criança fique mais entretida.

Normalmente, as mães chegam a casa e têm muitas coisas para fazer: algum trabalho que ficou por terminar, cuidar da casa, do marido. Mas mesmo assim, ela tem que ter tempo para se relacionar com os filhos.

Muitas vezes, para colmatar a ausência, algumas mães evitam repreender os filhos, justificando essas atitude com o facto de que passa o dia todo fora e que não quer prejudicar este curto período com medidas repressoras. Isso é errado! Independentemente do tempo que passamos com os nossos filhos, é necessário educá-los! Dar tudo e não mostrar limites não é educar, não é ajudar no bom desenvolvimento das crianças. A mãe tem que dar mimo e afeto, mas também tem que impor limites.

Educar é saber dizer ``Não``, quando necessário, e ``Sim`` com o olhar porque educar mais do que repreender, é abrir o nosso coração aos nossos filhos para assim reforçar o nosso vínculo. Mais do que a quantidade de tempo que passamos juntos, o importante é o que fazemos com ele!

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

VISTOS GOLD E O CRESCIMENTO ECONÓMICO

RUI CANOSSA
Se calhar já todos ouvimos falar dos famosos vistos Gold. Mas, estaremos preparados para essa estratégia? “Os super-ricos já não estão apenas a gastar o seu dinheiro em aviões a jato privados, iates ou hotéis, também estão a esbanjar em segundos passaportes”, revela o “Business Insider”. De acordo com o relatório “Second Citizenship Survey 2017”, produzido pela CS Global Partners, “cerca de 89% dos inquiridos gostaria de ter um segundo passaporte. E 34% disseram que estão a ponderar investir numa segunda nacionalidade”.

Outra conclusão do relatório é que “cerca de 80% estariam dispostos a investir ou doar 5% do respetivo salário anual para manter uma segunda nacionalidade, mais do que gastam na renda mensal da habitação”. Não por acaso, há pelo menos 24 países que conferem a sua nacionalidade “a pessoas que invistam em negócios, imobiliário ou títulos do Governo”.

A publicação “Business Insider” compilou uma lista de 17 países onde é possível adquirir segundo passaporte ou “residência de elite”, entre os quais Portugal, na 8ª posição da tabela (ordenada de acordo com o preço da transação). Nas sete primeiras posições (ou seja, onde os vistos de residência ou de cidadania são mais caros) destacam-se Nova Zelândia, Chipre, Austrália, Canadá, Bulgária, Espanha e EUA.

No que respeita a Portugal, os “vistos gold” têm um preço mínimo de 350 mil dólares. “O programa de ‘vistos gold’ em Portugal oferece a investidores não europeus um caminho veloz para uma permissão de residência válida”, destaca a publicação. Esse primeiro “visto gold” é válido por um ano e pode ser renovado duas vezes, em intervalos de dois anos. “Após seis anos de residência permanente, os requerentes e as suas famílias podem obter um segundo passaporte em Portugal, candidatando-se à cidadania portuguesa.

Para André Jordan, mais conhecido por ser o “pai” da Quinta do Lago da requalificação de Vilamoura: “Temos atualmente um grande desafio para Portugal, que é internacionalizar o país através do imobiliário. Nesta fase de grande procura, desenvolver imobiliário dirigido aos mercados externos é vital para a economia portuguesa e a maior fonte de receitas que o país pode ter”.

Os impostos sobre o património renderam 2.440 milhões de euros em 2017. É o valor mais alto desde, pelo menos, 2005. Imposto de transações foi o que mais cresceu, à boleia do boom no imobiliário que se prevê vir a crescer 10% este ano o que me leva a questionar, agora que atravessamos o melhor momento de sempre no setor, se nos aproximamos de uma nova “bolha imobiliária?

O SOM DA ALEGRIA

ELISABETE SALRETA
Pela ponta do pé sentia a vibração das cordas retesadas até à exaustão.

Com os olhos fechados, cega para o mundo, tentava que o bater do seu coração seguisse o compasso da música.

Só então soltava-se e deixava o seu corpo voar pela sala, naqueles braços que a seguravam e nem a pareciam tocar.

Aquele tempo tinha a duração de um compasso, e era nesse tempo que a história tinha lugar.

Esticava os dedos do pé a sentir o chão e a deixar que a vibração subisse pela sua perna, devorasse o seu corpo milímetro a milímetro, numa obsessão escrava.

Sim, era escrava daquele ritmo. Era a sua fome, a sua cede e transformava-se no ar que necessitava de respirar.

E o ritmo continuava tomando conta de tudo, transformando o tempo na sucessão de notas que perfazem a música.

Deitava a cabeça para trás e sentia o vento que lhe levantava os cabelos, misturando o seu perfume com o ar.

Já não se agarrava, pois confiava cegamente no seu par. Tinha as pernas presas como se fosse um abraço. Chegava para se sentir segura.

Quando já estava tonta de tanto rodopio, manifestava a sua vontade de sair da pista. Mas a música voltava e a dança continuava.

Depois fugia, cambaleando, desnorteada com o volteio. Descansava, alisava o vestido, e voltava o olhar vazio no sentido da música. Pensava voltar, mas sem forças, dava apenas um passo, sem que o par notasse e a voltasse a levar aos céus, ao som daquela música e a voltar a voar.

Mia dança ao colo da sua amiga, seguindo a música apoiada nos seus braços.

Outras vezes, sozinha, deambula pela casa sem ter destino, acompanhando a música que se espalha. Percebe-se o ritmo de que gosta mais. Cada um dos meninos gosta de um ritmo diferente e demonstram prazer ao escuta-los. São todos diferentes, mas nenhum é indiferente ao ritmo, à vibração a que chamamos música.

SUPER NANNY (S)

REGINA SARDOEIRA
Vivemos um tempo fértil para a abordagem de um número ilimitado de temas: o problema é a liberdade sem limites outorgada a qualquer um. Exactamente. A liberdade pode ser um problema.

Todos podem falar, escrever, comentar, dar opiniões, apresentar - se como testemunho; em princípio, essa prolixidade não seria perniciosa e, obter contributos vários sobre assuntos candentes, tenderia a enriquecer o mundo. Mas quando tudo se mistura e nenhuma conclusão válida é possível extrair da rede intrincada das perspectivas - que não da dialéctica - e parece mesmo que o confronto ou a posição A ou B ou ainda a C são levadas ao cume e as demais desprezadas ( ou o compromisso ), instala - se uma espécie de caos, a tender para o vazio.

Vejamos o tão propalado tema do desocultamento da privacidade familiar, no contexto do qual os pais abrem as portas a uma especialista em educação e a uma equipa de filmagem, para televisão, com o objectivo de patentear aos espectadores os respectivos problemas. Tais problemas dizem respeito ao que, em princípio, é tido como privado já que incide sobre o método educativo usado pelos pais com os filhos, expondo, (alegadamente ) sem filtros, o que ocorre no dia a dia, portas adentro.
Vi, por acidente, um pequeno excerto de um desses programas. Obviamente que considerei absurdo tudo aquilo a que assisti. Obviamente que me pareceu um despropósito filmar as birras - apresentadas como autênticas - de uma criança de tenra idade. Obviamente que os conselhos e instruções da especialista me soaram inoportunos e decerto inoperantes. 

Aparentemente, os pais acederam a entrar nesse programa, permitindo a exposição de si próprios e da sua família, tendo como objectivo resolver o seu problema, em concreto, e, através de espectáculo - porque um programa de televisão é sempre espectáculo -, mostrar a outras famílias, em idêntica situação, como resolver os seus dramas. 

A primeira questão que me ocorreu foi a seguinte : que contrapartida monetária recebem esses agregados familiares para, desse modo, "venderem" a sua intimidade? Efectivamente, eles possibilitaram a realização de um espectáculo, a ser exibido por um canal de televisão; e esse espectáculo tornou-se um produto - comercializável, portanto. Alguém acredita que, elevados à categoria de actores, esses pais e essas mães abdicaram do respectivo cachet? Que abriram as portas das suas casas, mostrando todo o seu interior e todos os seus hábitos, expondo - se e aos seus filhos, nas suas fraquezas, sem daí retirarem dividendos? 

Podem garantir-me que sim, que eles estavam animados de pura boa vontade e nenhum constrangimento, na medida em que queriam ajudar o mundo, elevando - o, pouco lhes importando servir de cobaias. Tenho muita dificuldade em acreditar nestes sentimentos e, a menos que a capacidade manipuladora dos órgãos de comunicação social e dos especialistas seja extremamente eficaz, custa - me crer que cedam, sem exigir contrapartidas - se elas não forem já um pré -requisito.
A exploração da imagem dos filhos pelos pais é um fenómeno clássico. 

Lembrei-me, a propósito, do pequeno actor Macaulay Culkin ( "Sozinho em casa" 1 e 2) cujo sucesso, quando era criança, se apagou bruscamente, no início da adolescência. Dizem que abusou de drogas e de outros vícios, perdeu a beleza da primeira infância e retirou-se dos filmes. Mas parece que a história teve ainda outros contornos (segundo o próprio ): o pai obrigou - o a entrar nos filmes, apropriou - se do seu cachet milionário, o filho teve que levar a cabo um litígio para tomar posse da fortuna...enfim, todos os problemas decorrentes da apropriação da imagem do filho em proveito próprio, com consequências mais ou menos trágicas para o jovem, tão promissor quando era criança. (Esta é uma perspectiva sobre o caso, colhida em informações avulsas, cuja veracidade absoluta não tenho como provar.).

Logo, estes pais que deste modo abusam dos filhos, com a agravante de mostrarem deles um lado muito desfavorável, têm, sem dúvida, em vista uma recompensa. Não acredito que os mova, tal como afirmam, apenas o amor pelos filhos ou a necessidade de resolver problemas para que se sentem incapazes, muito menos a generosidade de servir de exemplo para outras famílias. 

Se vivessemos numa sociedade perfeita, decerto uns casos poderiam contribuir para ajudar na resolução de outros idênticos e patenteá-los traria um benefício comum. Mas estas crianças e estes adultos, assim sinalizados, fazem parte de um colectivo onde as misérias expostas servem para gáudio daqueles que as observam . Estes pais e estes filhos ficam marcados com sinal negativo - e para sempre.

Não avaliei as supostas qualidades pedagógicas do programa; mas não me parece necessário. Por muito que queiram garantir que as cenas gravadas fazem parte da vida real daquelas pessoas e que a presença de estranhos no meio familiar não prejudicará o fluir autêntico da dinâmica habitual, é por demais evidente que não é assim que funciona. As crianças tenderão a alterar o comportamento, em função das câmaras e de um estranho que lhes fala; e os próprios adultos o farão. 

Paradoxalmente, há pedagogia neste tipo de programas: porque a pedagogia, basicamente definida como sendo todo o processo de educação, pode estar presente em qualquer lado.

Vejamos. 
Uma criança que observa os defeitos dos seus pais, pode aprender com eles, tanto ou mais do que com as virtudes e conselhos. Vendo que, nesta ou naquela situação, o pai ou a mãe procedem mal, ela pode fixar esse comportamento e evitá -lo cuidadosamente. Conheci uma rapariga cujo pai teve a vida marcada pelo alcoolismo e ela, desde muito jovem, prescindiu de beber qualquer bebida alcoólica, como indicação, dada a si própria, de não seguir o caminho do pai.
Um jovem, compreendendo que o seu professor é incompetente, que não dá as lições de modo compreensível, pode exigir dele, com perguntas contínuas e dúvidas persistentes, que se esforce ou se demita. Esse jovem está a exercer pedagogia em si e no professor e, eventualmente, na escola toda.
E assim por diante. 

Suponhamos, então, que essa especialista - a "Super Nanny ", título e modelo importados, como tantos outros - não passa de uma fraude (ela ganha, também, o seu cachet) e que grande parte dos conselhos e orientações que dá às famílias, não surte qualquer efeito. O espectador, assistindo ao programa, com sentido crítico, pode guardar - se de os seguir ou enveredar por outros caminhos, caso esteja a pô-los em prática por conta própria. 

Logo, este programa que, aparentemente, exterioriza problemas familiares de relação e comportamento entre pais e filhos terá sem dúvida uma vertente pedagógica - se nos dispusermos a abrir - nos para ela .
O problema da exposição mediática e não consentida, expressamente, pelas crianças em causa é outra das questões equacionadas pelos detractores deste programa. Dizem que as crianças têm direito à preservação da imagem, não podendo, segundo a lei, ser alvo de devassa. Os pais não são donos dos filhos, eles são indivíduos autónomos, dotados de personalidade e com direito ao respeito.
Contudo, e em primeiro lugar, se os filhos não são pertença dos pais, por que razão são eles que autorizam ou não autorizam toda a sua actividade civil, quer se trate de uma viagem, de uma visita de estudo, da publicação de uma fotografia ou mesmo da utilização do seu nome, para efeitos úteis? Permitir ou não que o filho tenha esta ou aquela actividade, mesmo que seja da sua vontade ou interesse, não será a manifestação de uma pertença efectiva em tudo semelhante à propriedade? 
Logo, as crianças e jovens até atingirem a maioridade civil, são, de facto, propriedade dos pais e apenas o bom senso paterno poderá preservar a sua imagem e garantir que não corram riscos. E só o fazem até um certo ponto, já que as crianças não crescem numa redoma, são enviadas para o mundo em tenra idade e aí submetidas a múltiplas influências. 

Logo que evoco os pruridos exarados em múltiplos comentários negativos em relação ao citado espectáculo televisivo, por utilização indevida da imagem das crianças, transformadas em cobaias, penso que uma enorme hipocrisia subjaz a tanta revolta. Esses, que assim criticam violentamente um modelo que escolhe patentear dificuldades educativas, exibindo sem máscaras as crianças e os pais, no seu quotidiano, são os mesmos que publicam no Facebook, por exemplo, fotografias e vídeos dos seus filhos: ou porque acabaram de nascer, ou deram o primeiro passo, ou pronunciaram a primeira frase, ou cantam e dançam com virtuosismo, ou tocam piano...e há aquela mãe que não hesitou em engalanar a sua filha de tenra idade e mandá - la fotografar em múltiplas poses...e logo, logo conquistou o título de "a menina mais bonita do mundo "!

Podem retorquir : mas afinal, os pais fazem isso para realçar as qualidades dos filhos e por isso eles devem estar - lhes gratos, mais tarde! Neste caso...é o contrário que acontece.
Mas, pensemos : o assunto será, deste modo, linear?

Se fosse, o pequeno actor Macaulay Culkin, bonito e inteligente, que ainda entra nas nossas casas por alturas do Natal, jamais teria razão para lutar com o próprio pai que o transformou em lenda! E as pequenas raparigas que, nos anos 50/60 do século passado, vindas das aldeias, após completarem a escola primária, "servir" para casas abastadas a troco de um magro salário que entregavam aos pais na totalidade, jamais teriam qualquer hipótese de tornar-se mulheres equilibradas e bem sucedidas na vida!

A questão é complexa e, por isso mesmo, não pode ou não deve ser tratada de modo ligeiro.

O programa em questão foi cancelado por ordem do tribunal. Imagino que este facto tenha provocado, igualmente, reacções contraditórias. Considero esta decisão irrelevante quando são mantidos e exibidos, prolixa e diariamente, conteúdos televisivos aberrantes, manipuladores, francamente anti - pedagógicos a todas as horas do dia. Falo de telenovelas, programas de entretenimento, concursos, reality-shows, (pseudo) debates, praticamente todo o conteúdo da programação, incluindo a publicidade. Esses programas são vistos por toda a família e, muitas vezes, em família. A maior parte deles deveria igualmente ser cancelada, a bem da saúde mental da sociedade em geral e das crianças em particular. 

De modo nenhum me ocorre defender o agora cancelado programa "Super Nanny": até a sua designação me repugna, aquele "Super " como se a especialista tivesse poderes sobre - humanos e a palavra "Nanny ", importada do inglês. Mas toda a especulação em torno do formato e a onda de comentários expressos que fui lendo, nauseada, aqui e ali, me patentearam a hipocrisia social dos pais, que são contra, mas permitem que os seus filhos adoptem, em público, os comportamentos mais lamentáveis, perante a sua passividade, dos falsos moralistas que criticam aqueles pais em concreto por exporem os filhos e depois publicam as fotografias dos seus em redes sociais por onde circula toda a gente, a ignorância ou a pactuação relativamente aos exemplos colhidos pelos filhos e por eles próprios na imensa abjecção que hora a hora é a oferta televisiva nacional e internacional.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

PSEUDOGOTA

FÁTIMA LOPES CARVALHO
A pseudogota é muito semelhante à gota no entanto os cristais que se depositam nas articulações são de pirofosfato de cálcio diidratado e na gota são cristais de urato. É uma perturbação caracterizada por ataques intermitentes de dor e artrite causados pela acumulação desses cristais.
A doença geralmente surge em indivíduos de idade avançada e afeta de igual modo homens e mulheres; a longo prazo pode causar degenerescência das articulações afetadas.

CAUSAS E SINTOMAS
A causa da pseudogota é desconhecida, pode manifestar-se em pessoas que sofrem de outras doenças nomeadamente as que apresentam níveis elevados de cálcio no sangue em consequência de um aumento da produção da hormona paratiróideia (hiperparatiroidismo), ou uma taxa de ferro elevada nos tecidos (hemocromatose) ou ainda níveis baixos de magnésio (hipomagnesémia). Os sintomas variam amplamente.
Esta perturbação pode ser confundida por vezes com artrite reumatóide devido à dor e rigidez crónicas e persistentes nas articulações dos braços e das pernas. A pseudogota manifesta-se em articulações do joelho, pulsos ou em outras articulações relativamente grandes. As fases agudas são geralmente menos graves que os da gota, pois por vezes não é manifestada sintomatologia dolorosa entre um ataque e outro; existindo indivíduos que apresentam grandes acumulações de cristais e não exprimem dor em qualquer momento.

DIAGNOSTICO E TRATAMENTO
O diagnóstico estabelece-se através de colheita de líquido das articulações inflamadas e esse líquido ao ser analisado apresenta cristais de pirofosfato de cálcio. As radiografias também apoiam o diagnóstico dado que os cristais de pirofosfato de cálcio (ao contrario dos cristais de urato) não deixam passar os raios X e aparecem como depósitos brancos na radiografia.
Em geral o tratamento pode interromper as crises agudas e prevenir novos ataques mas não pode evitar a lesão das articulações afetadas.
Frequentemente são administrados anti-infalamatórios não esteroides (AINE). Ocasionalmente drena-se o excesso de líquido articular e injeta-se uma suspensão de corticosteroide na articulação para reduzir a inflamação. É de salientar que não existe tratamento eficaz a longo prazo para extrair os cristais.

NO FACEBOOK

RITA TEIXEIRA
Não! Fazer o resto da caminhada, no tribunal da vida, é deveras doloroso para manter aquela força de vontade, aquela garra, que me caracterizaram como vencedora, nas batalhas contra a doença. Neste tribunal, sou uma pessoa com pouca credibilidade e, como tal, não tenho nenhuma hipótese de defesa. Nestes julgamentos sou caracterizada como alguém mesquinho, sem consideração pelos outros e uma fraude. Optei por não publicar mais nada. Assim o decidi, assim o fiz. Destaco alguns comentários , que revelam o quanto difere a minha personalidade e a de quem me conhece tão bem.

"Por favor Rita não deixes de escrever os teus mágnificos textos bem como a tua história de vida,não mudes agarra que existe em ti,és um grande exemplo para todos nós.Não deixes de ser a mulher guerreira, lutadora e Grande escritora que és bjos gosto muito de ti"
"Rita. Please don't give up. You are one of most loving person in a very hard position. I love to read what you are written in fb. ( hope you understand my bad english.)💖💖💖"
"Rita, só tens que continuar a ser quem és, pois agora que também eu, não estou bem de saúde, preciso de ler o que escreves, por isso não me faltes agora."

"Rita! As agruras da vida, por vezes, levam as pessoas ao desespero e a dizerem coisas que verdadeiramente não sentem. Tua vida é difícil e a dos que convivem diariamente contigo também. Estou seguro que os afectos se vão impor e tudo passará. Nós precisamos de ti no face! O teu exemplo de vida, de luta, de superação, bem como dos que te acompanham, faz falta a esta sociedade desumanizada.É uma forma de nos sentirmos perto de ti, atenuando um pouco os remorsos pela pouca atenção que te damos. Desistir, nunca! Bjos"
Rita Teixeira
"Ritinha, não sei quais os motivos para tomar uma medida tão drástica, mas por favor não nos prive das suas elogiosas e alentadoras mensagens. O Carnaval está próximo e não será completo sem a sua a sua importante presença. "Abraceijos"

domingo, 28 de janeiro de 2018

A RELATIVA IMPORTÂNCIA DOS ANIVERSÁRIOS

LÚCIA LOURENÇO GONÇALVES
Pois é, mais um ano se passou. Com o passar dos anos, esta data foi perdendo parte da importância que já teve. Não que a questão da idade me preocupe, afinal o passar dos anos faz parte da vida. É a vida! Apenas o considero um dia como outro qualquer…

Mas se voltar no tempo, encontro imensas diferenças. Em criança, os anos não passavam, cada doze meses pareciam vinte e quatro. Em criança tinha uma necessidade urgente em crescer! Os dias de chuva eram aborrecidos, os de sol também, as conversas dos adultos “uma seca”, enfim, boa parte do meu pensamento centrava-se no tempo que não passava! Ansiava por crescer, crente que faria alguma diferença.

E apesar de todo o envolvimento que faz parte do processo de crescimento, o tempo teimava em não passar. E neste “lento” caminhar, os dezoito anos chegaram, e não senti nada de diferente, a não ser a consciência que, para o bem e para o mal, a partir dali seria a única responsável pelos meus atos, nada que, porém, me preocupasse.

E as manhãs continuaram a amanhecer à mesma hora, e as noites a terminam quando o dia chegava ao fim. E a não ser ter tomado as rédeas da minha própria vida, e decidir o que fazer dela, nada mudou! E então, já envolvida no mundo dos adultos, o tempo cronológico perdeu a importância.

E nova responsabilidade chega. O que fazer do futuro? A juventude é uma fase mágica, afinal, à nossa frente estão todas as possibilidades em aberto…. os vários caminhos à nossa frente… Mas transporta também a, por vezes difícil, escolha de opções!

A vida deixa de ser vivida em câmara lenta e transforma-se num redemoinho, no qual o tempo se escapa por entre as horas dos dias…

E de repente a pressa em fazer anos, dilui-se no tempo, perde-se no limiar dos dias que se sucedem um após o outro. Na vida que não dá sossego, porque não se compadece da necessidade de a viver de forma correta e sustentável.

Os dias parecem menores, de tão envolvidos estamos no processo de viver. Um ano começa e de seguida já estamos na Páscoa, férias e Natal. Assim, num ápice! E entretanto, já há também uma família a cuidar, e todas as tarefas e responsabilidades que lhe são inerentes… E os anos agora já passam a voar!

E é nesta fase do pico da maturidade que, contradição das contradições, muitas vezes começamos a dar valor às pequenas coisas que em criança nos aborreciam e desvalorizávamos, logo agora, que nem sempre temos tempo para as apreciar tanto quanto gostaríamos.

E os aniversários sucedem-se! Mas ainda bem que sim, sinal que estamos cá e temos a oportunidade de viver mais um ano junto dos que amamos, mais uma ano de oportunidades de fazer planos… Sim, porque planos fazem-se durante toda a vida.

E ainda bem que hoje, exatamente hoje, completo mais um aniversário. Para o ano logo se vê, mas hoje não é dia de pensar nisso, apenas de o viver!

O AUTOCARRO DAS DEZANOVE

LUÍS VENDEIRINHO
Éramos seis, à luz mortiça do candeeiro. O sem-abrigo, com o esqueleto embrulhado na pele macilenta e enrugada, vasculhava nos sacos algum tesouro. Dos quatro garotos, um deles, o mais franzino, via a vida por trás de uns óculos redondos, e ia-se deixando embalar na brincadeira dos amigos. O mais encorpado de obesidade, loirito, respondia aos pontapés dos demais na mesma moeda, e aos insultos, enquanto disputavam um telemóvel: “faz um directo no Instagram”, dizia um deles. Não me pareceu que a palavra escola fizesse parte do léxico de qualquer um deles. Quando se abriu a porta do autocarro, fui a única alma a empunhar o passe, eu que não aderira nem ao Instagram, nem à delinquência precoce na minha infância, abrigado no livre arbítrio com que fui abençoado. O caixa-de-óculos, se tivesse sorte, pensei eu, talvez pudesse vir a trocar as voltas à sorte, talvez virasse cientista ou mangas-de-alpaca. Os demais contagiaram-me uma tristeza que me foi envolvendo ao longo do caminho. Entrou um cego noutra paragem, uma mãe que dizia palavrões enquanto conversava com a filha, entraram muitos velhos, mulheres rudes que iam trabalhar nas limpezas, imigrantes, gente aliciada pelos publicitários, pelos candidatos da política, escumalha que ria sobre as anedotas que a miséria humana inventa. E dei comigo a matutar na utilidade da liberdade e da democracia, se fazia sentido a minha honestidade como cidadão, até que o meu lugar foi invadido pelo bafo de um peido anónimo. Foi quando, na minha solidão, olhei pela janela e vi o néon de uma sex shop, a estátua mal iluminada na praça, e o luar que vinha a despontar sobre a cumeeira. O autocarro das dezanove lançava, pelo escape, a culpa pelo aquecimento global, levava à boleia mistérios que eu resolvia na minha ignorância, era o palco onde a realidade se aplaudia e vaiava, o sítio ambulante que ludibriava mapas, era o sem-abrigo, os meninos que, sem o saberem, já iam a tribunal, os sonhos do cego, a fome das mulheres, o céu dos imigrantes, a malícia dos poderosos. Até que chegou o momento de eu os abandonar, prisioneiro daqueles escassos dez minutos, e saí. Na volta do resto do meu caminho, ainda olhei o cimo da rua, mas o autocarro já tinha dobrado a esquina. Gostei do cientista, possa a vida assim fazê-lo, como me soube bem provar um naco desse manjar chamado fome, da intimidade com um pedaço do povo.

sábado, 27 de janeiro de 2018

PERÍCIAS MÉDICAS

ANTONIETA DIAS
O rigor nas Perícias Médico Legais está implícito na definição de perito, cujo conceito irei definir neste artigo, bem como a responsabilidade que lhe é imputada quando exerce esta nobre função.

Nestes últimos anos temos vindo a assistir a uma vivência pouco habitual no âmbito não só da realização das Perícias efetuadas por alguns médicos, designados como peritos e que exercem funções nos Gabinetes Médicos Legais e nalgumas Delegações, que de fato em nada dignificam o desempenho que era esperado para que fosse considerada uma profissão de bem.

Na minha experiência como Perita Medico -Legal, de longa data tenho constatado as maiores aberrações que me deixam deveras desolada e que em muitos casos deveriam ser ate alvo de auditorias pelo prejuízo que causam aos sinistrados que ficam profundamente prejudicados e ate nalguns casos são humilhados.

Certo é que ser perito obriga a ser competente, rigoroso, responsável, isento, sabedor e justo.

A Medicina Legal é uma especialidade medico-jurídica em que os conhecimentos técnico-científicos são fundamentais para ajudar na decisão judicial.

Sendo por isso entendida como a aplicação dos conhecimentos médicos ao serviço da justiça.

E esse o contributo esperado por quem decide e pretende que os conhecimentos médicos-científicos funcionem como um precioso auxiliador de interpretação na execução dos dispositivos legais no âmbito da ciência médica aplicada ao Direito.

A Medicina Legal no Direito do Trabalho, no Direito Civil e no Direito Penal e de extrema importância para a interpretação dos laudos, das perícias e dos exames que irão servir de fundamentação nas decisões judiciais.

Assim o Perito Medico tem uma enorme responsabilidade no desempenho das suas funções, tendo obrigatoriamente de exercer a sua atividade, com isenção e liberdade.

Acresce ainda que terá de ter Sabedoria para poder exercer a atividade de Perito Medico – Legal.



Sou do tempo, em que existia exclusividade para o exercício da atividade pericial e em que a formação continua a que era obrigado a manter e pelas sucessivas avaliações que lhe eram feitas o deixavam sem qualquer possibilidade de usar os seus conhecimentos e a sua atividade pericial que não fosse ao serviço da Medicina Legal.

Este fato contribuía para a credibilidade e para a confiança que lhe era depositada como um profissional conhecedor, isento e justo na sua avaliação pericial.

O fato de ser Perito Médico-legal representava o Pilar da Justiça para o sinistrado e para a decisão dos Magistrados.

A Perícia funciona como meio de prova elaborada por técnicos competentes com a finalidade de esclarecer a Justiça e levar o conhecimento científico ao Juiz a fim de o auxiliar em seu livre convencimento em que o Perito Médico se obriga a declarar perante a justiça isenção, habilidade, fidelidade, veracidade e sigilo profissional.

Só pode exercer a função de perito quem possua conhecimentos técnico científico na área, seja uma pessoa idónea e que esteja livre de compromissos com terceiros, o que quer dizer que não pode ser perito quem estiver comprometido ou seja familiar, amigo íntimo ou inimigo capital de uma das partes.

Importa ainda referir que quem desempenhava funções nos Tribunais e mais tarde com a restruturação e criação das Delegações e dos Gabinetes Médio Legais o desempenho das funções de peritos era sempre em regime de exclusividade.

Obviamente que por uma questão de isenção um perito Médico-legal não deve estar a representar a Justiça, exercendo o cargo na Medicina Legal e servir também como perito representante da Seguradora ou do próprio sinistrado (quando executa uma perícia no âmbito privado).

Sem prejuízo de compreender o papel do Perito da Seguradora, o sinistrado tem que sentir que a Medicina Legal tem uma função de fiel da balança.

Quando assistimos a casos como este: em que o perito da Medicina Legal consegue atribuir um valor de incapacidade inferior ao que foi atribuído pela Companhia Seguradora, ou por um outro Perito que exerce funções e nos Gabinetes ou Delegações da Medicina Legal, a sua decisão irá naturalmente suscitar muita confusão no poder de decisão judicial, deixando o sinistrado completamente descrente, desprotegido e indefeso.

Nestas circunstâncias as Perícias Médicas serão inúteis e as Juntas Médicas só servirão para desperdiçar os dinheiros públicos, pois não acrescentam mais nada e até colocam em causa a idoneidade de quem cumpriu de forma seria e justa a sua função de Perito 



Quando um Perito que tem o dever de avaliar o Dano Corporal na sua globalidade se encontra a presidir uma Junta Medica em representação da Medicina Legal junto do digníssimo Magistrado e dos seus colegas Peritos aí presentes declara que “eu só sei da minha especialidade de …não sei avaliar mais nada”, o conceito de Perito fica colocado em causa, descredibiliza a função de Perito Médico-legal, não cumpre as suas funções de Perito porque os seus conhecimentos abrangem apenas a sua especialidade medica e não a de Avaliação do Dano Corporal na sua globalidade.

Importa por isso para o bem da Justiça que sejam revistas todas as juntas Médicas em que existam incongruências entre o que é avaliado numa perícia de Avaliação do Dano Corporal e o resultado final da incapacidade que é atribuída ao sinistrado.

Se isso não for conseguido na minha opinião deverão acabar com as Juntas Médicas porque serão inúteis.

PASCAL TEIXEIRA DA SILVA, EMBAIXADOR DE FRANÇA EM LISBOA

MANUEL DO NASCIMENTO
Pascal Teixeira da Silva foi o primeiro diplomata francês de origem portuguesa com funções de Embaixador de França em Portugal. Com apenas cinco anos de idade, o seu pai, português, chega a França. Pascal Teixeira da Silva, formado da ENA (Escola Nacional de Administração) em França, com o diploma do IEP (Instituto dos Estudos Político de Bordéus) é destacado para a embaixada de Bona (Alemanha) depois em Moscovo, antes de ser nomeado em 1997, Primeiro Conselheiro (adido da missão francesa) para representar a permanência da França junto da Organização das Nações Unidas em Nova Iorque. Em 2001, é nomeado ao cargo de diretor adjunto das Nações Unidas e das Organizações Internacionais junto da Direção Geral dos Negócios Estrangeiros Políticos e Segurança do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Em 2005, é nomeado diretor da Estratégia junto da direção Geral e da Segurança Exterior (DGSE) do ministério da Defesa. Em 2010, com a idade de 52 anos é nomeado Embaixador de França em Lisboa. Do decorrer da Primeira Guerra mundial, a França tinha perdido mais de um milhão de homens, portanto, a França precisa de mão-de-obra, nos anos 20, o seu avô António Teixeira, partiu para França. Em 1933, o seu avô chamou a mulher e filho, José para Bordéus. José frequentou o seminário dos padres, onde esqueceu a sua língua materna. Quando deixou o seminário José casou-se com uma francesa, e, em 1957, nasce Pascal Teixeira da Silva, onde cresceu praticamente afastado da comunidade portuguesa, além de manter alguns contactos com alguns primos em Portugal. Em casa só se falava francês, tendo esquecido a sua língua materna, que a aprendeu mais tarde, tal como eu, que tentei aprender o português, quando estava num estágio no Brasil. Pascal Teixeira da Silva, tem dois filhos; o mais jovem encontra-se em Lisboa, aprende o português no Liceu Francês, e o mais velho encontra-se em Paris, também aprende o português “o português é uma cultura portuguesa, e faz parte da nossa história” diz Pascal Teixeira da Silva. Se na família Teixeira, em França, não ouve mulheres “porteiras”, o meu pai ainda conheceu a dureza e o trabalho árduo.

ANIMALICÍDIO

SUSANA FERREIRA
O PAN a 4 de Janeiro debateu em Assembleia da República o código penal no que diz respeito à criminalização dos maus tratos a animais. O partido tentou reforçar uma proposta, que já tinha sido apresentada na sessão legislativa anterior e que não acolheu o apoio dos restantes grupos Parlamentares. Mas na altura os animais eram consideradas coisas, atualmente está em vigor uma conjuntura legal diferente. A proposta apresentada baseia-se nas 5 liberdades: 1) Livres de fome e de sede; 2) Livres de desconforto; 3) Livres de dor, ferimentos e de doenças; 4) Livres para expressar o comportamento natural e 5) Livres de medo e angústias. Desta forma o crime de maus tratos passaria a estar para os animais como o de ofensa à integridade física para as pessoas. Tal como existe o crime de homicídio este projecto prevê que passe a existir o crime de animalicídio. O PAN propõe que consoante a gravidade do ilícito e a prova de culpa, possam ser aplicadas penas como perda, a favor do Estado dos animais vítimas de maus tratos e a obrigação de programas específicos de prevenção de violência contra os animais. Propõe o aumento das penas para quem abandonar ou infligir quaisquer maus tratos físicos a um animal, mesmo que de pecuária. Propõe ainda alterações ao regime de fiel depositário, para que os infractores não possam ficar com os animais depois de constituídos arguidos, ou só excepcionalmente isso possa acontecer. Os arguidos devem ser responsáveis por todas as despesas inerentes aos animais que lhes sejam retirados durante o decurso da investigação e julgamento. As leis estão a ser discutidas em assembleia da república e a ser alteradas por forma a proteger os animais. 

Concordo com todas as alterações propostas pelo PAN. Mas, para haver aplicação das leis, é necessário acusar o agressor, é preciso haver coragem para denunciar um vizinho, um amigo, um conhecido ou mesmo um desconhecido. Nesta sociedade egoísta e indiferente, falta muitas vezes a coragem, o tempo ou mesmo a vontade de denunciar. É muito mais fácil ficar indiferente, fingir que não vemos animais a serem maltratados. Se o fazemos relativamente a violência doméstica, porque seria diferente com animais? Dá demasiado trabalho, ocupa demasiado tempo das nossas vidas atarefadas. E o que ganhamos com isso? 

Apesar de sermos uma população solidária, no que toca a apresentar queixas sobre maus tratos, ainda temos o medo de represálias, temos medo de estar errados e causar mau estar aos implicados. Apesar das leis estarem a ser alteradas para melhor, ainda há mentalidades para mudar.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

SUPERNANNY- UMA REFLEXÃO

LUÍS PINHEIRO
Depois de ter ponderado bastante sobre escrever uma crónica sobre este programa de televisão acabei por decidir faze-lo. Se por um lado, escrever sobre o tema dá força ao seu mediatismo, por outro, não refletir sobre ele faz com que sejamos todos coniventes com esta realidade. Esta reflexão não se focará na metodologia de trabalho da psicóloga, mas sim nas outras dimensões que este programa coloca em causa. O primeiro ponto que quero salientar é o superior interesse da criança, com uma exposição deste nível estamos realmente a preservar a identidade das crianças, o seu direito ao não escrutínio público, á transformação da sua esfera pessoal numa esfera pública? A meu ver não, pelo contrário, estamos a catalogar estas crianças, a tornar público o seu comportamento menos adaptativo como se fosse uma serie ou um filme, o respeito pela autonomia e a preservação da intimidade das crianças têm de ser um dos objetivos mais importantes numa sociedade.

O segundo ponto importante neste programa é a exposição dos pais, indo por partes, nos episódios já exibidos vemos famílias destruturadas e disfuncionais que vêm o programa como uma única saída para a resolução dos seus problemas. Explorar a dor, a falta de conhecimento, e de capacidade parental por um canal de televisão parece-me ser algo desumano e totalmente não ético, e indo um bocadinho mais longe, nota-se claramente a agenda sensacionalista que está a destronar o bom jornalismo no nosso país.

O paradigma atual das televisões está cada vez mais selvagem, onde é cada vez mais importante, chocar, chamar a atenção, levantar um descontentamento geral do que realmente trazer os assuntos e discuti-los de forma séria e responsável.

E para finalizar esta breve reflexão, quero acrescentar a importância de se discutir a parentalidade nos dias de hoje, os desafios que os pais passam. A parentalidade é uma área de conhecimento, assim sendo, a formação e a mudança são cada vez mais importantes. Mas mais importante do que discutir por discutir é a criação de uma discussão séria sobre o assunto, sem o objetivo de criar choque, mas com o objetivo de discutir coletivamente um dos maiores desafios da atualidade, criar uma próxima geração, que em termos de valores seja melhor que a nossa.

CONSCIÊNCIA SOCIAL E GLOBAL

JOSÉ CASTRO
A Consciência Social é uma das competências da Inteligência Emocional, que permite identificar as emoções dos outros à medida que se interage com eles. A utilização adequada desta competência, permitirá promover relacionamentos interpessoais positivos e construtivos. É pois mais um campo de desenvolvimento de todos nós, como seres perfectíveis, numa sociedade onde a descriminação, desrespeito, humilhação, coação psicológica, etc, faz (ainda) parte das relações interpessoais na vida quotidiana e no mundo do trabalho. Se o desafio já é grande, poderá ser colocado num patamar ainda mais exigente!

Nesse sentido, convido-o a alargar o campo de aplicação desta competência, para lá do Ser Humano, ou seja para Seres não humanos, daí a palavra Global. Fará sentido?

Na Declaração de Cambridge sobre a Consciência, assinada na presença de Steven Hawking, a 7 de julho de 2012 pode ler-se:

“(…)A ausência de um neocórtex não parece impedir que um organismo experimente estados afetivos. Evidências convergentes indicam que animais não humanos têm os substratos neuroanatómicos, neuros químicos e neurofisiológicos de estados de consciência juntamente com a capacidade de exibir comportamentos intencionais. Consequentemente, o peso das evidências indica que os humanos não são os únicos a possuir os substratos neurológicos que geram a consciência. Animais não humanos, incluindo todos os mamíferos e as aves, e muitas outras criaturas, incluindo polvos, também possuem esses substratos neurológicos.(…)”.

Assim, e como sempre, baseado em evidências científicas, constata-se que afinal não estamos sós no mundo das emoções! (De referir que para muitos não eram necessárias evidências científicas, pois já o tinham constatado, através das suas relações (intensas) com os animais de estimação ao longo da vida). Quem nunca teve um cão ou um gato que era mais um elemento da família? Que afinal “compreendia” e fazia-se “compreender,” que demonstrava as suas emoções básicas (ou mesmo sentimentos!) pelos seus donos? Neste mundo de Seres (sencientes) todos à sua medida interagem e demostram as sua emoções e afetividade. Curiosamente, eles demonstram elevada “consciência social” produzindo em nós uma satisfação de bem-estar, de companhia e segurança. Quem já não viu os seus efeitos em hospitais, em lares de idosos, em creches, etc? Peca por ainda não ser uma prática comum.

Vamos refletir mais um pouco.

Para muitos, mais importante do que os animais serem mais ou menos conscientes, é sofrerem quando lhes é infligida dor. Presumo que neste ponto teremos o seu consenso.

Gostaria de ver o seu animal de estimação em sofrimento? Gostaria de objetivamente produzir sofrimento deliberado no seu animal de estimação? Presume-se que o leitor dirá que jamais faria isso! (além de ser um ato ilegal).

Mas podemos ir mais longe!

E se não for o seu animal de estimação, mas sim um simples animal da rua ou da natureza? Já produziria sofrimento nele? Já não se importava de o ver sofrer? Já manifesta, aqui, algum tipo de “especismo”? Afinal já não é a abolição do sofrimento uma prioridade que pesa no seu comportamento, independente da espécie do animal? Poderá o sofrimento infligido ser aceite mediante o tipo de utilização do mesmo? Quantas vezes refletiu sobre isso?

Vamos ainda mais fundo? Ou já estamos na medida certa? Mais um passo ainda mais “arriscado”…

Gostaria de “implicitamente” promover o sofrimento animal? Ou seja, não ser o leitor a fazê--lo, mas pagar para que alguém o faça por si? Provavelmente ainda continuaremos com o especismo quando permitimos a sua utilização para lazer, desporto, alimentação, etc. Mas não se ser diretamente responsável pelo sofrimento torná-lo-á menor? Ou evitar o sofrimento deixou de preocupação em relação a alguns animais sencientes?

Em que nível está a sua Consciência Social e Global? Quando esta reflexão começou a ser incómoda para si? Porquê? Alguma vez já se tentou visualizar no lugar do animal? Que emoções sentiria? Estas são algumas das questões que deve fazer a si próprio e procurar uma resposta honesta e verdadeira! 

Caro leitor se ainda não tinha refletido sobre o assunto em causa e este artigo lhe permitiu fazê-lo, já valeu a pena. Não importa a idade que tenha! Podemos sempre evoluir! Todos nós vamos passando de nível para nível, como degraus de escada que nos levam para um patamar superior de paz interior. Em que degrau se encontra? Que vai fazer para subir a escada?

Não deixa de ser curioso que em dezenas de anos de democracia só recentemente os animais deixaram de ser “coisas” e passaram a ser “seres vivos dotados de sensibilidade e objeto de proteção jurídica.” O avanço do conhecimento humano só faz sentido quando nos orienta para um nível de Consciência e Ética superior aplicada a todos os Seres!

DIREITOS TELEVISIVOS E O FUTEBOL PORTUGUÊS

JOÃO RAMOS
Os preços dos direitos televisivos têm vindo a crescer de forma significativa nos países da Europa e inclusivamente em Portugal. Porém, com a redução do número de subscrições, muitas companhias estão em dificuldades financeiras, o que significa, que no próximo ano, é esperada uma redução do valor pago pelas transmissões do campeonato italiano e a estagnação do valor afeto à liga Espanhola. Com a proliferação de formas alternativas de assistir aos jogos, os fans de futebol estão a deixar de subscrever os canais premium desportivos, o que está a impelir a generalidade das companhias a cortar nos gastos com transmissões, com sérias implicações, nas contas dos clubes. Em França, onde se esperava um aumento significativo, a Altice, em delicada situação financeira, prometeu não corresponder às expectativas dos clubes.

Em Portugal, a dimensão da liga e a sua projeção internacional é extremamente reduzida, o que levará a que mais cedo ou mais tarde, as operadoras sejam obrigadas a renegociar os contratos, em prejuízo dos clubes. Com as dificuldades financeiras da Altice e as alterações ocorridas nas fontes de receita de Isabel dos Santos, temo que NOS e MEO não sejam capazes de honrar seus compromissos. Provavelmente, os nossos emblemas terão menos recursos no futuro para investir em planteis de qualidade, gerando uma perda de valor, que tenderá a reduzir a nossa capacidade competitiva no cenário Europeu.

NUTRICIONISTA NA AUTARQUIA

DIANA PEIXOTO
Há muito tempo que se estuda a influencia que o meio ambiente, meio cultural e social têm nas escolhas alimentares. Ora, determinadas escolhas alimentares, vão condicionar a saúde e o bem-estar do indivíduo.

O nutricionista é um técnico superior de saúde que tem também como função atuar na modulação do espaço social alimentar. O poder local, isto é, a autarquia, com a sua autonomia e crescente responsabilidade na área da qualificação do estado de saúde e bem-estar dos seus munícipes, é o espaço ideal e imprescindível para o nutricionista desempenhar com qualidade o seu papel. As Câmaras Municipais, com a atuação e cooperação deste profissional de saúde, vão de encontro a uma maior qualidade e proximidade à população e suas necessidades.

Ao percebermos aquilo que influencia os hábitos alimentares, somos capazes de prever aquilo que são as determinantes passíveis de ser trabalhadas pelo nutricionista inserido no espaço com capacidade interventiva junto da população, no sentido da moldagem desses determinantes.

Há variadíssimas doenças que têm na sua origem a componente ambiental, como a obesidade, diabetes, hipertensão arterial, dislipidemias, entre outras. Portanto, a causa destas doenças está também no Meio! Assim sendo, a sua prevenção pode estar na modelação do meio ambiente, intervindo no sentido de melhorar o estado de saúde da população.

No seguimento desta ideia, podem e devem ser criadas políticas locais de incentivo à produção e promoção de produtos com benefícios para a saúde da população.

Reconhecendo que a chave para uma atuação eficaz a qualquer nível passa pelo estar próximo da população, tem vindo a acontecer a transferência de competências nas áreas da Educação, Saúde e Ação Social para as autarquias.

Segundo a Srª. Bastonária da Ordem dos Nutricionistas, Drª. Alexandra Bento, “o Nutricionista é o profissional de saúde com formação universitária que trabalha no âmbito das Ciências da Nutrição e Alimentação, fazendo o estudo, orientação e vigilância da nutrição e intervindo no domínio da adequação, segurança e qualidade alimentar. Aplica os princípios derivados da biologia, fisiologia, ciências sociais e comportamentais e os provenientes das ciências da nutrição, alimentação, gestão e comunicação no sentido de promover a saúde da população”.

A atividade do Nutricionista na autarquia pode ser dividida em cinco pilares, dos quais:

Formação/Informação sobre alimentação e nutrição com programas de educação em diversas áreas – boas práticas, higiene, segurança, alimentação saudável, alimentação para diferentes grupos de doente);

Gestão do fornecimento das refeições das escolas, assegurando a higiene e qualidade alimentar e participando ativamente neste processo;

Intervenção na produção local, promover alimentos da região, dinamizar mercados, feiras e exposições, com resultados na saúde e económicos;

Investigação e pesquisa sobre os dados antropométricos e estado nutricional da população; atualidade legislativa e normativa dos programas nacionais de saúde da área, adaptando à realidade local

e Comunicação de todo o trabalho, criando impacto, inovação e construção da mudança na população e no concelho.

Na área do grande Porto, a aposta no nutricionista autárquico tem sido exponencial. Casos como Maia, Vila Nova de Gaia, Matosinhos e Gondomar são casos de exemplos para as demais autarquias.

A autarquia ficará com mais poder, e o nutricionista inserido terá o papel de cuidar do cidadão e da sua alimentação.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

DA FLOR DE JANEIRO NINGUÉM ENCHE O CELEIRO

ANABELA BORGES
Podia dizer que me encontro cheia de ânimo para o novo ano que começa. Mas não seria verdade.

Não agora, que os dias são escuros e frios, que temporais infinitos agitam os corações do mundo.

Eu nunca poderia sentir-me cheia de ânimo no mês de Janeiro, em nenhum mês de Janeiro dos que até hoje vivi (falo dos que tenho memória). Além do clima frio, do mês interminável, com dias e semanas intermináveis, há sempre alguma coisa menos boa que acontece na minha vida em Janeiro.

Sempre senti o mês de Janeiro, lá fora, como um lar impossível de habitar, por isso hostil, por isso desabrigado.

Sempre me pareceu, o Janeiro, um mês difícil e imenso – extenso, difícil de passar.

E, ainda para mais, em Janeiro tenho de desmontar decorações do Natal (o mês de Dezembro passa tão veloz!), festa que é, para mim, a mais apreciada do ano.

O tempo psicológico é tramado. É muito mais cruel que o tempo do calendário, bem o sabemos todos nós.

Se eu mandasse, baixaria uma lei que decretasse o mês de Janeiro como o mês da hibernação. Eu hibernaria, de bom grado, com as minhas gatas. Fecharia os olhos, a boca, a alma. Fecharia quase tudo. Faria um esforço mínimo, não exigindo, assim, gastos de maior. Uma média luz, uma cama sempre aberta, uma água, um chá, um pouco de alimento (o mínimo necessário), uma música a tocar baixinho… seriam os redutos essenciais. Um livro aberto. Ah, isso sim, teria de ter livros para abrir e deixar o meu espírito derramar-se no espanto daquelas palavras lá guardadas, em segredo, até que eu as soltasse.

Assim passaria eu, sem tanto pesar, sem tanto desânimo, sem tanto esforço, o longo e penoso mês de Janeiro.

Utilizo como título para o texto um provérbio alusivo ao mês de Janeiro – “da flor de Janeiro, ninguém enche o celeiro”, pois, de facto, onde já se viu, num país com o clima como o nosso, eu ter no meu jardim os cactos cheios de vivacidade (planta que só gosta do Verão), as orquídeas, os jarros e os lírios em flor (quando habitualmente só rebentam no Verão), as camélias já perdidas, todas derramadas no chão (quando costumam aguentar até à Páscoa) e as laranjeiras a darem a segunda colheita de laranjas do ano? Dias de um sol mais luminoso que o de Junho e, ao mesmo tempo, dias de geada, de zero graus pela manhã. Oh, Janeiro, andas cá para nos enganar! Apanhaste um Verão prolongado e agora fazes a tua vingança – sorris com essa ventania toda, enches os rios, revolves as marés. Desabitas as pessoas e os bichos. Destróis.

Eu, de facto, não gosto do mês de Janeiro. É um mês que não me passa a direito, que não se desenvolve nos carris do tempo, que fica emperrado e cheio de escuridões.

Sabes, Januarius, ou deus Jano, ou lá que raio de estirpe herdaste para seres dos meses o mais amargoso para mim, sabes? Não me enganas com as tuas duas caras – não me enganas com uma cara a olhar para trás (o passado) e a outra para a frente (o futuro) – ou, por outras palavras, com “um olho no cego e o outro no burro”. Queres tudo, afinal, e a mim só me interessa o aqui e agora… 

E eu bem suspeita sou para falar, que nasci em Janeiro.

Seria mais feliz se pudesse hibernar.

E um Janeiro verdadeiramente amistoso, que me fizesse mudar de opinião para sempre, esse trazia-me cá uma pessoa de volta, que bem longe está, atravessado o Atlântico que está. Isso sim seria um Janeiro em grande.

Ainda há-de vir o Janeiro que me faça gostar de Janeiro.