JOÃO MARTINS |
Eu acredito neste princípio.
Locard dizia de uma maneira geral que que o suspeito, por mais “habilidoso” que fosse, deixaria sempre algum vestígio no local do crime.
É claro que pode deixar vestígios que à condição do estado da arte actual podem ainda não ser identificáveis, ou servir como objecto de prova. Certo é que qualquer que seja o vestígio, por mais pequeno que seja, ele é produzido.
Existem vários estudos interessantes, e as polícias de todo mundo começam a desenvolver novas maneiras de detecção de suspeitos.
Fiquei espantado quando soube das evoluções que se estão a fazer nomeadamente na recolha da impressão digital, que se baseará num futuro próximo não da análise de uma impressão completa com coicidência de determinado número de pontos, mas apenas num determinado número de características de uma simples ranhura das centenas que possuimos em cada dedo.
Assim, se uma simples ranhura poderá vir a ser suficiente para a deteção, imaginemos as centenas senão milhares de outras interações que existem no resto do corpo sempre que este entra em contacto com um novo ambiente.
Na mínima hipótese o suspeito respira... quem sabe se no futuro esta troca gasosa não poderá ser objecto de recolha fidedigna e posterior prova?
Não mais importante que isso será também a sua “impressão” psicológica. A experiência de vida que o suspeito vivenciou no local do crime, os cheiros, as cores, as sensações ficam gravadas de maneira consistente na sua memória. É, de facto, também uma área interessante e que será de certeza bem explorada no futuro.
Em opinião própria, o princípio de Locard é um dos mais importantes princípios que devemos utilizar.
“Abriu-nos os olhos”, se me permitirem a expressão, para uma premissa que todos já sabíamos - não somos inertes.
Muitas vezes em consultório referem-me que estão totalmente recuperados dos seus traumas, das suas relações anteriores, das perdas e dos fracassos que sofreram no seu percurso de vida.
Se aplicarmos aqui Locard, isso não existe.
As pessoas mudam de acordo com as suas experiências. Não podemos esperar que depois de uma situação traumática o sujeito faça uma viagem no tempo e fique exactamente igual ao que estava.
Parafraseando Antoine de Saint-Exupèry, “Cada um que passa na nossa vida, passa sozinho, pois cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra. Cada um que passa na nossa vida, passa sozinho, mas não vai só nem nos deixa sós. Leva um pouco de nós mesmos, deixa um pouco de si mesmo.”
Assim, Locard com este principio ajuda-nos a reflectir sobre nós, sobre o nosso dia-dia e sobre aquilo que estamos a fazer que nos poderá estar a deixar “vestígios” nas nossas reais necessidades, nos nossos objectivos e no nosso futuro.
Estará o leitor a praticar o crime imperfeito sobre si mesmo?
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