quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

INVESTIR EM ÁFRICA (?)

África é o 2º maior continente do planeta (tem 20% da área terrestre).
África é o 2º continente mais populoso (tem 15% do total de população do planeta).
África é o 2º continente que mais cresceu nos últimos 10 anos (entre 5% a 7%), depois da Ásia.
Não obstante representa apenas 4% do PIB mundial.

Como explicar este paradoxo?

RUI LEAL
Embora o continente Africano seja rico em recursos naturais, ao contrário do que sucede noutros pontos do planeta, parte das riquezas estão por explorar devido à escassez de investimentos em estudos geológicos.

O continente Africano tem água em abundância (rios, lagos, bacias hidrográficas e águas subterrâneas), só que encontra-se mal distribuída E tem uma costa de 45 000 km e 8 milhões de km/2 de terra arável, dos quais apenas ¼ é cultivado.

O crescimento deste continente está a ser realizado a várias velocidades, existindo inúmeras diferenças culturais, regionais, geográficas, políticas e económicas.

Basta verificar, a título de exemplo, as milhares de línguas que são faladas nos 55 países do continente africano.

O PIB africano, em termos reais, cresceu à média de 5% de 1996 a 2012 (mais do dobro dos 2% da média mundial), sendo capaz de resistir a choques externos, como foi o caso da crise financeira, em que o crescimento do PIB em 2008 se manteve nos 5% e em 2009 nos 3%.

Contudo este crescimento não é homogéneo: de 2000 a 2012 as economias da África subsariana cresceram 5,4% ao invés do Norte de África que cresceu 4,6%.

A título de exemplo, durante este período Moçambique registou um crescimento na ordem dos 7,4%/ano.



Como se explica este crescimento africano?



Parte destes resultados explicam-se pelo boom das commodities (matérias-primas).

Em volume, as exportações de matérias primas do continente Africano mais que duplicaram, desde 2000, estando na base de tal crescimento a alta dos preços impulsionada pela procura dos países emergentes, o que fez disparar as receitas.



Consequências deste crescimento explosivo



Aumento do investimento estrangeiro que, em percentagem do PIB, triplicou desde 2000, sendo que, em volume, passou de 7 mil milhões de dólares em 2000 para 35 mil milhões de dólares em 2012.

Embora 70% desse investimento seja concentrado nos países ricos em recursos naturais, desde 2003 que os projectos de investimento estrangeiro se dirigem a outros sectores como as finanças, serviços e telecomunicações.



Desafios actuais ao continente Africano



Transformar a riqueza no progresso do capital humano, a nível de conhecimento e de progressão no bem estar;

Manutenção de uma economia saudável quando o ciclo das commodities não é favorável (gestão da volatilidade das receitas, que pode ser feita mediante a criação de fundos soberanos – desde que invistam directamente no continente);

Reforço da qualidade das instituições.

Aumento da competitividade via investimento na sofisticação tecnológica e sobretudo nas infra-estruturas (salientando dentro destas os gastos com energia e transportes);

Evitar a tentação do consumo imediato (aplicar as receitas em investimentos e projectos de curto prazo);

Evitar a “doença holandesa” – quando o crescimento da riqueza mineral asfixia o crescimento de outros sectores (caso dos países do Golfo em que a distribuição dos rendimentos do petróleo é feito através da redução de impostos – taxa 0% - ou através de subvenções directas aos carenciados)



Ascensão do continente Africano será conjuntural?



Na nossa opinião as economias da África subsariana continuarão a crescer mais rapidamente que a média mundial, esperando-se que o continente africano albergue 12 das 20 economias mais dinâmicas do mundo.

A principal razão prende-se com questões demográficas, pois este é o 2º continente mais populoso do mundo, prevendo-se que a população africana continuará a crescer e representará ¼ do planeta em 2050.

Em 2010 apenas 5% da população tinha mais de 60 anos (versus Europa com 22% e América do Norte com 19%)

Hoje metade da população africana tem menos de 20 anos, pelo que estará activa, no mercado de trabalho, nessa altura.

Os economistas apelidam este fenómeno de “bónus demográfico”.

Por outro lado ainda assiste-se ao crescimento de uma classe média, que triplicou nos últimos 30 anos, sendo que esta classe e a classe média-alta valem 10% da população, podendo, assim, prever-se uma explosão no mercado de bens de consumo.

A título de exemplo, nos últimos 6 anos, a penetração de telemóveis sextuplicou (de 10% para 70%).



Por todo o exposto, consideramos que o continente Africano constitui um espaço privilegiado de investimento e crescimento, devendo estar em permanente monitorização na busca de novas oportunidades de negócios.

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