MANUELA VIEIRA DA SILVA |
Há muito tempo que concentro o meu pensamento na análise e no estudo do comportamento de algumas pessoas no sentido de compreender o que as move. Dizem os cientistas que temos partes de genes de várias espécies de animais e que a evolução nos trouxe ao que somos hoje, animais e humanos. Em resumo simplificado, é assim. Mas gostaria de perceber se é apenas a educação, ou o meio em que nascemos, ou os genes que trazemos o que nos torna tão diferentes uns dos outros. Poderá ser a junção de todas as circunstâncias ou talvez não. Porque são uns mais parecidos com serpentes, outros com hipopótamos, outros com felinos, outros com elefantes, outros com aves, ou com macacos, etc.? Se formos a ver bem é disto que se trata. Há pessoas mais pacíficas, como o elefante, há outras matreiras, como o felino, há outras falsas como a serpente, etc. E eu pergunto-me se será dos genes, ou da data de nascimento, ou do karma que transportamos ao longo dos milénios da nossa existência, ou da memória colectiva que possuímos bem fundo no nosso Cérebro Reptiliano primitivo, que controla o nosso lado mais instintivo e animal, mas também do cérebro mamífero, que controla as emoções, e o Neocórtex, mais humano, que integra o raciocínio. Todos os seres humanos possuem estes três cérebros, a diferença que nos separa uns dos outros está em saber qual deles está mais activo em cada um de nós.
O Cérebro Reptiliano no ser humano tem as características e em tudo se assemelham às serpentes (répteis): lutar ou fugir. Não aprende com os erros, não tem sentimentos nem faz amizades sinceras e não tem capacidade de pensar. Copia, imita os outros no que lhe convém, é calculista e preconceituoso. É frio, territorial e agressivo, hierárquico e escravizador, obsessivo e autoritário, chegando mesmo a paranóico.
Realço resumidamente outras características da serpente que considero bastante interessantes em analogia com as pessoas-serpentes, ou, melhor, com aquelas cujo Cérebro Reptiliano é predominante: no Brasil, diz-se que as cobras têm peçonha (substância activa produzida para atacar e matar as presas, as cobras venenosas apenas usam o seu veneno para se defenderem); a pele é coberta de escamas e muda-se com regularidade; estudos comparados de fósseis de répteis e répteis actuais indicam que as serpentes foram perdendo as pernas e as patas quando passaram a viver e a caçar em tocas; como possuem uma mandíbula flexível, as serpentes não mastigam, permitindo-lhes engolir as presas por inteiro, com diâmetro superior ao seu. Haverá muito mais a dizer sobre a serpente – muitas vezes associada ao mal, à morte e à escuridão, por ser considerado um animal misterioso, traiçoeiro e venenoso, também é um símbolo muito rico em diversas culturas que pode representar o rejuvenescimento, a renovação, a vida, a eternidade e a sabedoria – mas não é o assunto central desta crónica.
Na mitologia nórdica europeia, segundo «Edda em prosa» de Snorri, Jormungand (2.º filho de Loki, deus do Fogo e da Magia, e de Angrboda, deusa do Medo) tem o aspecto de uma gigantesca serpente. Odin (deus dos Deuses e da Sabedoria) raptou os três filhos de Loki, sendo Jormungand atirado ao mar que rodeia Midgard, onde viveu desde então. A serpente cresceu tanto que seria capaz de dar a volta à Terra envolvendo-a num círculo e engolir a própria cauda (como a serpente Ouroboros), ganhando o nome alternativo de Serpente de Midgard ou Serpente do Mundo. É o símbolo da evolução voltando-se para si mesmo num eterno retorno.
Não deixo de mencionar a serpente que deu a maçã do conhecimento a Eva para que a comesse, que por sua vez a deu a comer a Adão. Perdida a inocência (no pecado original), tiveram de deixar o paraíso e, a partir daí, passaram a viver todos os tormentos da Terra.
Diz-se que a verdade dói. A verdade em vermo-nos, a verdade em ver os outros, a verdade da existência e que, apesar de tudo, o ser humano procura a felicidade e luta desesperadamente para a conquistar. Pelo que vejo nos media, na net, onde vivo, pelo mundo fora, o Cérebro Reptiliano está sobrevalorizado, parece mesmo que se sobrepõe aos outros cérebros, através da política, da publicidade, das guerras, do terrorismo, do consumismo, da economia, da corrupção, do crime em geral... Há um denominador comum em todo o mundo que é a competição, competição entre homens e mulheres, competição nos empregos, competição entre empresas, competição política, competição nas bolsas, competição nas escolas, competição entre irmãos... Nada se faz sem haver competição numa guerra psicológica desenfreada de invejas e soberbas, de humilhações e enganos. O Cérebro Reptiliano quer vencer a todo o custo, nem que para isso tenha de engolir a sua própria cauda para segurar, controlar, ter o poder superior sobre os outros, ser dono do mundo, ou do pequeno mundo que o rodeia, através do medo e da ignorância, escravo e prisioneiro do instinto mais primitivo. Hierarquias, etiquetas, estatutos, canudos profissionais (sem conhecimento), cunhas, nomes, bem-falantes, demonstrações ostensivas de sucessos (por vezes inexistentes)… numa sociedade em que mais vale o ataque que a defesa, em que quem não se impõe não é gente, ou mesmo quem não é igual é «anormal»… são imensos os sinais de manipulação reptiliana que destroem a humanidade e a Terra. Mais feliz é o cego que tudo compreende, do que aquele que tem olhos e nada vê!
Onde está a verdade do ser humano humanus est? Afinal o que é e quem é? O que nos torna diferentes dos animais? – Homo Sapiens, Homo Spiritus, Homo Humanum, Homo erudictus. Sabemos que ele existe, eu sei que há bastantes exemplares destas espécies de Homos, mas serão necessários muitos mais com vontade de fazer a diferença para inverter a marcha do Cérebro Reptiliano até chegar à sua inicial posição inferior e se autodesactivar, como num clique, em massa, para finalmente o Homem ser inteiro e viver a plena liberdade a que tem direito e, ao mesmo tempo, o dever de a sentir. Uma liberdade consciente e responsável iluminada pela centelha humana de paz e amor que caminha sobre a erva fresca da harmonia e da abundância onde a felicidade germina.
Esta é a mensagem que deixo para o Novo Ano 2017.
Feliz Ano Novo para todos os meus leitores e para a Bird Magazine!
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