quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

BRRR. QUE FRIO

VERA PINTO
“Que frio está lá fora!” é a frase de ordem que precede a saudação dos utentes que entram na farmácia. Intensificam-se os alertas que visam a protecção contra o frio e não é para menos. Portugal é o segundo país da Europa com mais mortes pelo frio. As baixas temperaturas têm efeito vasoconstrictor, ou seja, estreitam os vasos sanguíneos e aumenta o risco de ataque cardíaco em pessoas com tensão alta ou predispostas para o problema. Invernos secos e muito frios, como o que estamos a viver, seca drasticamente a pele. Quanto mais exposta a epiderme, mais frágil fica e, por isso, maior a agressão. Em casos extremos, podem mesmo ocorrer queimaduras, em particular por neve. Os casos de conjuntivite propagam-se mais facilmente no inverno e, com o tempo frio e seco a situação agrava-se. Doentes diabéticos descompensam com as baixas temperaturas e a insuficiência respiratória piora com frio e humidade. Contudo, os danos mais marcantes do frio são sobre o sistema imunitário. O ar frio e seco têm efeito imunossupressor e torna-nos mais vulneráveis a gripes e constipações. Para fugir do frio e da chuva acabamos por dar connosco no meio de “ajuntamentos” de pessoas, seja em centros comerciais ou outros locais em que partilhemos o mesmo espaço o que facilita a propagação do vírus. O pico de mortalidade pela gripe este inverno foi o mais elevado da última década. “Mas afinal, porque fiquei doente?”- Perguntaram-me. A resposta pode ser estranha, mas é muito simples. Ficamos doentes porque temos defesas. O nosso corpo é nada mais nada menos que a máquina mais perfeita que podemos conhecer. Perante qualquer situação de ameaça são activados mecanismos que visam a nossa protecção, sempre no sentido da sobrevivência. O que nós chamamos de sintomas das doenças não são mais do que as respostas a uma eventual agressão. Espirros, tosse, dor de garganta, pingo, nariz entupido, febre que tanto nos incomodam são formas do nosso corpo se defender dos microorganismos. Febre ou pirexia consiste na elevação da temperatura corporal no sentido de matar os invasores e não para nos causar mau estar. A tosse ou espirro não liberta parte do nosso espírito como acreditavam os nossos antepassados, mas visa expulsar os microorganismos agentes das infecções. O pingo ou rinorreia consiste no corrimento excessivo do muco nasal. Esse muco serve de barreira à entrada de corpos estranhos. A dor de garganta é devida a inflamação, processo que faz parte da resposta imunológica e, cujas características se devem a um aumento da irrigação sanguínea na zona afectada e chamada de células de defesa. Nos casos mais simples, o tratamento tem como objectivo proporcionar um maior conforto ao doente e evitar a ocorrência de complicações. Este deve ser muito bem equacionado uma vez que vamos actuar sobre respostas do sistema imunitário. Gripe não se trata com antibiótico. Aproveito uma vez mais para recapitular. É com grande satisfação que cada vez mais me apercebo da consciencialização das pessoas a este nível. Todavia, muito trabalho tem ainda que ser feito. Os antibióticos não são úteis no tratamento da gripe, pois actuam só sobre bactérias. São apenas usados se a gripe evoluir para infecção bacteriana (por exemplo, pneumonia). Em saúde prevenir é mesmo o melhor remédio. E neste campo, a vacinação é a melhor forma de prevenir a doença e as suas complicações. Reduz muito o risco de contrair infecção e se a pessoa vacinada for infectada terá uma doença mais ligeira. Relembro que as autoridades já alertaram para a segunda vaga de gripe e que as pessoas pertencentes aos grupos de risco que ainda não se encontrem vacinadas o podem e devem fazer. Outras medidas gerais de protecção consistem em manter o conforto térmico, ou seja, agasalhar-se de acordo com a temperatura ambiente; seguir as regras de etiqueta respiratória, não respirando para cima dos outros, tapar a boca e o nariz com o braço ou lenço de papel sempre que sentir que vai tossir ou espirrar e deitar o lenço usado ao lixo, sem o reutilizar; lavar frequentemente as mãos; evitar ajuntamentos e manter uma alimentação saudável. Se tratarmos bem do nosso corpo ele vai responder-nos da mesma forma, não se esqueçam!

Sem comentários:

Enviar um comentário