O ano começa e o cajueiro começa também ele a ganhar flor e o fruto que vão colorir de amarelo e vermelho os campos da Guiné-Bissau.
Dizem os entendidos que o caju guineense é do melhor que se pode encontrar no mercado mundial e, talvez por isso, a sua cultura venha com os tempos a aumentar de expressão e a procura seja grande, tornando-se numa quase monocultura
CRÓNICA DE JOANA BENZINHO |
Não fora o facto de esta árvore tornar os campos durante determinado tempo menos férteis e poderia dizer-se ser ela um poço de virtudes e a grande janela de oportunidade económica para a Guiné-Bissau e os guineenses.
Apesar deste senão, a "dança" do caju mexe com toda a sociedade, dos maiores aos mais pequenos, dos mais pobres aos mais ricos entre Março e Agosto e garante os recursos para comprar a alimentação no resto do ano.
Quando o fruto amadurece, famílias inteiras dedicam-se à apanha do caju. O absentismo escolar das crianças torna-se uma evidência , todos os braços são poucos para ajudar os magros orçamentos familiares. Uns andam à jorna para os proprietários, outros apanham o que produz o seu pequeno terreno para entregar aos intermediários e exportadores, na sua maioria indianos.
É por esta altura que vemos muitas vezes as crianças com as bocas em ferida provocada pela acidez do fruto do caju que eles sorvem com alegria enquanto ajudam a família e enganam assim os estômagos tantas vezes vazios. É também este o tempo do sumo de caju que rapidamente fermenta e se transforma no muito apreciado vinho de caju que exige cuidado redobrado a quem anda na estrada e se cruza com um ou outro adepto mais fervoroso deste vinho, que fermenta rapidamente e que adquire um alto grau alcoólico.
Recolhido o caju é levado para armazéns onde é preparado para exportação para os países onde é transformado. Porque na Guiné algumas tentativas de transformação da castanha de caju não têm vingado. Dizia-me por estes dias um dos grandes negociadores e exportador que falta aqui o know how para que a transformação seja feita nas melhores condições e que acaba por ser mais vantajoso levar o fruto a granel para a India onde máquinas e funcionários experimentados transformam este "ouro" guineense num fruto seco de qualidade superior com lugar garantido no mercado.
Enquanto não for revertida esta falha que penaliza a economia nacional e os pequenos produtores, continuaremos a ver este caju 100% biológico a ser levado quase ao desbarato e a somar apreciadores pelo mundo inteiro que desconhecem muitas vezes a sua origem.
Mas em simultâneo, vivenciamos uma temporada de uma euforia generalizada pois são muitos cidadãos implicados em todo este processo de recolha do caju e, mesmo que recebam pouco ou nada pelo seu trabalho, amealham o pouco que lhes permite viver nesta Guiné onde tudo o que nasce da terra tem uma sabor e qualidade extraordinários. Haja quem ouse cultivar e transformar.
Sem comentários:
Enviar um comentário