“Uma árvore em flor fica despida no Outono.
O belo transforma-se em feio,
A juventude em velhice e o erro em virtude.
Nada fica sempre igual e nada existe realmente.
Portanto, as aparências e o vazio existem simultaneamente”
MARIA CERQUEIRA |
As alterações demográficas que marcam as sociedades modernas conduzem ao envelhecimento da população, colocando ao estado e às famílias desafios novos para os quais não estão preparados (Conferência Internacional sobre Envelhecimento - 15/10/2010).
O envelhecimento pode ser definido como o processo natural, dinâmico, progressivo e irreversível, da estrutura biológica, psicológica e social dos indivíduos que, iniciando-se mesmo antes do nascimento, se desenvolve ao longo do ciclo vital (Direção Geral da Saúde, 2005).
O envelhecimento não é um problema…mas uma parte natural do ciclo de vida, é um fenómeno real e complexo, sendo desejável que constitua uma oportunidade para viver de forma saudável e autónoma o mais tempo possível, para isso, é importante que cada pessoa encare a velhice como um projeto e não como um destino, isso pressupõe que cada um planeou com antecedência esta fase da vida, de forma a dar-lhe sentido (Moura, 2012).
Com a esperança de vida a aumentar, torna-se urgente criar estratégias através das quais se torne possível reinventar o percurso de vida, proporcionando aos nossos idosos uma qualidade de vida mais feliz e digna, é um problema de saúde pública que exige a nossa atenção e reflexão, pois leva-nos por caminhos cada vez mais reais e objetivos. Por isso temos o dever de sensibilizar e principalmente sensibilizarmo-nos para esta realidade, vivida de perto por nós e com os nossos.
Existe o mito de que a velhice é uma etapa de restrições, privações e sofrimentos, o que não é verdade, pois os idosos podem usufruir de bem-estar e saúde até o final da vida, tudo vai depender da forma como viveram e como cuidaram de si mesmos ao longo dela. As doenças podem surgir em qualquer fase da vida, o que ocorre nesta fase são algumas limitações que, se bem administradas, não impedem que o idoso tenha uma vida plena, saudável e feliz (Tessari, 2006).
A maioria dos idosos não vive, existe. E existe sem ser visto! É esta a nossa realidade. Mas o idoso é uma pessoa, ainda com muito para oferecer…desde que se lhe proporcione um envelhecimento ativo, procurando aquilo que é fundamental para a sua realização como ser humano…com necessidade de amor, das relações com os outros…de amar e ser amado e, necessidade de deixar uma herança, um legado, um rasto da sua passagem neste mundo, que é a sua necessidade espiritual, um sentimento de realização…de ter atingido uma finalidade e, sentir-se bem consigo próprio!
A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou o Relatório Mundial de Envelhecimento e Saúde em 2015. O documento apresenta alguns conceitos e novas formas para um envelhecimento saudável. O Relatório recomenda mudanças profundas na maneira de formular políticas em saúde e prestar serviços de saúde às populações que estão a envelhecer. O compromisso da enfermagem para com os cuidados de saúde primários encontra-se incorporado no Código Deontológico do ICN para Enfermeiros, adotado pela primeira vez em 1953 e revisto regularmente, que afirma que “os enfermeiros têm quatro responsabilidades fundamentais: promover a saúde, prevenir a doença, restabelecer a saúde e aliviar o sofrimento”
Como Enfermeira dos cuidados de saúde primários, gostava, nas crónicas seguintes, partilhar com os leitores as lutas e dificuldades, tendo consciência que serão iguais a tantas outras sentidas por outros profissionais e por pessoas que vivenciam a experiência de cuidar dos outros ou dos familiares em momentos difíceis da vida, principalmente na trajetória final da existência...
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