JORGE NUNO |
Ao cair do (p)ano de 2016, um artigo do Jornal de Notícias dá conta que um produtor do Reino Unido descobriu que as suas cabras produzem mais de 20% de leite do que o habitual, quando expostas ao tema “All I want for Christmas is you”, de Mariah Carey. Segundo o site brasileiro Canal Rural, isto acontece porque “as músicas de Natal costumam ser calmas, lentas e cheias de boas vibrações”.
Acho que os portugueses também apanharam boas vibrações neste Natal, pois os seus índices de confiança ultrapassaram os do ano 2000. Segundo a manchete do jornal Correio da Manhã, também em final de ano, dá conta da “Fúria consumista – Portugueses gastam 210 milhões por dia no Natal”, com o valor total de levantamentos em máquinas ATM e pagamento através de TPA a ultrapassar os 5,7 mil milhões no Natal e Ano Novo, e ainda faltavam uns dias para acabar o ano. O jornal britânico “Financial Times”, pela mão do jornalista Peter Wise, aponta ao primeiro-ministro português “índices de popularidade [de fazer inveja] que outros políticos do centro-esquerda europeu apenas podem sonhar”, entendendo que este confundiu os críticos, por ter superado as expetativas, apesar do “modesto crescimento económico” e do “frágil setor financeiro”.
A propósito do setor financeiro, ouve-se, insistentemente, que o BCE – Banco Central Europeu está a ser pressionado para que não apoie os países periféricos, onde se inclui Portugal. Não será por acaso que estão a subir os juros da dívida portuguesa, a 10 anos, encontrando-se nos 4%, o que faz com que Portugal pague mais de 8 mil milhões de euros só de juros anuais.
A TVI24 noticiou que o fogo de artifício na passagem de ano na Madeira teve o dobro dos disparos de 2006, tendo sido disparadas 132.000 peças. Já naquele ano o “Guiness World Record” tinha atribuído o título de “Maior Espetáculo Pirotécnico do Mundo” à passagem de ano na Madeira. O Governo Regional da Madeira terá despendido 800.000 euros em oito minutos de diversão. Em contrapartida, terá contribuído para que a ocupação hoteleira tenha ultrapassado os 92%. A “estragar” a festa, mais uma vez a PGR – Procuradoria-geral da República investiga se existem indícios da prática de crime na adjudicação do material pirotécnico (cerca de 70% de produção nacional) e na execução orçamental.
Já em 2017, o Jornal de Notícias, tem como título de um artigo: “Nunca se investiu tanto em escritórios em Portugal”, para em letras mais pequenas se poder ler “Investimento imobiliário no segmento comercial foi de 1,3 mil milhões de euros em 2016 e espera-se que este valor seja ultrapassado em 2017”.
Como vem sendo habitual, com o novo ano surgem os aumentos dos custos com a electricidade, gás, transportes, telecomunicações, portagens… enquanto o IAS – Indexante dos Apoio Sociais (congelado desde 2009) crescerá 0,7%, passando de 419,22 euros para 422,15 euros, traduzindo-se num aumento inferior a 3 euros mensais, o que significa 13,5 milhões de euros retirados em 2017 aos cofres do Estado.
Um estudo recente do Observatório da Natalidade e do Envelhecimento em Portugal, tendo como coordenador Telmo Vieira (ISEG), envolveu uma amostra de 1335 pessoas, com 35 ou mais anos, e aponta que quase 70% dos inquiridos não tem qualquer tipo de poupança para a reforma e que 7% dos reformados entrevistados não podem comprar os medicamentos prescritos. O estudo, a juntar-se a outros, reforça que “é preocupante a sustentabilidade do sistema de previdência social em Portugal”.
Também já em 2017, o Jornal de Notícias faz manchete: “Insolvências – todos os dias há 30 portugueses a abrir falência [declarados insolventes pelos tribunais]”. Continuando a ler, fica-se a saber que foram afetadas 11006 famílias, sendo que 635 aderiram ao PER – Programa Especial de Revitalização, continuando o GAS – Gabinete de Apoio ao Sobreendividado [da DECO] a receber estes pedidos de ajuda. Haverá 26030 registos de casos de sobreendividamento nos primeiros dez meses de 2016. Segundo a coordenadora do GAS – Natália Nunes –, numa entrevista concedida ao jornal Correio da Manhã, 15% dos que pediram ajuda são reformados com baixo rendimento, mas também há pedidos de ajuda entre quem tem “empregos precários e com salários muito baixos” e considera que “a situação financeira das famílias não teve alterações que acompanhem este aumento da procura de crédito, que é preocupante”.
Apesar da situação ser preocupante, prefiro ver esta onda de optimismo. Na minha adolescência fixei uma frase, que guardo até hoje, e que rezava assim: “Um pessimista é um pateta triste; um otimista é um pateta alegre”. Estava cansado de ver tanto pateta triste; sinceramente, prefiro os patetas alegres. Deve sentir-se as influências semelhantes às das cabras. Com tanta música de Natal a espalhar “boas vibrações” pelas ruas, só pode! E esta “boa onda” deixa-nos antever os resultados das próximas eleições autárquicas.
Posso deixar um sorriso pateta...? (convém dizer que fico sempre assim, de cara-meio-à-banda, sempre que leio algo que me agrada e, como bónus, me faz sorrir... :) )
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