JOSÉ LO FERREIRA |
A utopia que sempre foi um elemento determinante na prática política, foi afastada como matriz do comportamento e ação dos seus atores. Na realidade, a política, tal como a conhecemos hoje, foi capturada pela economia. Em vez de ser espaço de grandes confrontos de ideias, continua cada vez mais sujeita aos ditames das relações de mercado, e, inclusive, os seus principais protagonistas políticos, por força desta lógica, foram sucessivamente reduzidos a meros produtos, para serem consumidos e descartados. Do outro lado vemos cidadãos-eleitores reduzidos à figura de consumidores, cujas opções são muitas vezes influenciadas pelo marketing político: onde a postura, imagem e o dramatismo emocional vão fazendo caminho.
Neste figurino, pouco importa o conteúdo das mensagens mas antes a forma como elas são transmitidas. O debate outrora ideológico e tendo em conta aspetos da vida concreta dos cidadãos, passou a ser travado no campo administrativo e no controlo do mesmo, destacando-se aquele candidato que convence o eleitor a que é o mais capaz de efetuar um choque na gestão da pesada máquina pública como inimiga de uma gestão racional. Ao mesmo tempo, verificamos que o corporativismo domina quase sempre os órgãos e muitas das suas decisões e votações tem como motivação interesses corporativos, ficando para segundo plano o interesse coletivo. Poderemos dizer, portanto, que a política se tornou num centro de negócios, sujeita como tantos outros, ás leis conjunturais do mercado.
A agregação das novas tecnologias de comunicação à prática política, tais como as pesquisas quantitativas, todas oriundas de práticas comerciais, arrastou a política para o campo do marketing, onde as ideias escasseiam ou faltam. Ao contrário do passado, não se exige a um político que tenha opinião própria. Basta-lhe conhecer, através de pesquisas, quais os desejos e a lógica que beneficia a decisão do eleitor, e, através dessas técnicas propagandísticas, captar o seu voto . Isto, somando-se à montagem de uma competente e bem oleada rede de relacionamentos institucionais quase sempre resulta, sem dúvida, numa equação perfeita para um bom resultado eleitoral. Mais racionalizado do que antes, o processo eleitoral para qualquer cargo público, pode, certamente, ter um desfecho previsível. É necessário apenas que os atores nele envolvidos se tornem profissionais das ferramentas postas a sua disposição. Com leituras constantes, vão ajustando o discurso àquilo que aparece como o pensamento da maioria dos eleitores que procuram, fazendo as mudanças necessárias sem nenhum compromisso com valores ou idéias que antes tenham professado.
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