VERA PINTO |
Para esta edição da BIRD decidi escrever sobre um tema que me identifico bastante e sobre o qual tenho uma visão muito própria. Consiste na valorização do EU e no poder da força de vontade aplicado à área da saúde. Já tenho partilhado a minha opinião com várias pessoas e agora decidi dividir com todos os leitores da revista. Mediocrizarmo-nos serve para colher a pena dos outros. E pensem lá? É isto que nós pretendemos? Já experienciaram a sensação do “eu fui capaz”, do “eu tenho força para” do “ainda bem que tentei”?
Dizer eu não consigo, sem sequer ter tentado é fácil! Culpar os outros, sem avaliar o próprio comportamento é fácil! Desistir de algo só porque dá muito trabalho é fácil. Assumir os nossos erros é muito, muito difícil! Vivemos numa época de facilitismos, da lei do menor esforço, onde o umbigo assume as funções de uma outra estrutura vital. O doente, por definição está doente e como tal, cabe aos outros resolver o problema de saúde. A ineficácia do tratamento será sempre do profissional de saúde que com certeza cometeu alguma negligência. Certo? Não! Completamente ERRADO! Para que algo resulte é necessário motivação e força de vontade. Esta decisão que só depende de cada um de nós aplica-se a todas as áreas e a saúde não é excepção. A experiência pessoal e profissional tem-me mostrado que talvez seja este o segredo do sucesso e a explicação para o que muitos chamam de milagre. É imperativo que o doente assuma um papel activo na sua recuperação, que coopere com os demais profissionais, pois ele será o mais beneficiado nesta simbiose. Educar o doente e dotá-lo desta responsabilidade torna-o capaz, concede-lhe poder e aumenta a probabilidade do correcto cumprimento do tratamento, aumenta a probabilidade de adesão à terapêutica. Promover adesão ou cumprimento da terapêutica é competência de todos os profissionais de saúde, mas a última palavra pertence sempre ao doente. Adesão ao tratamento consiste no estabelecimento de um compromisso entre paciente e profissionais de saúde. Nós, farmacêuticos, cedemos a informação acerca do uso correcto dos medicamentos, informamos que medidas não farmacológicas podem auxiliar o tratamento, comprometemo-nos a esclarecer as dúvidas, mas em troca exigimos a verdade. Se a medicação não é administrada correctamente, isto é, na dose exacta, a horas certas, durante o período de tempo necessário e se as medidas preventivas e/ou de apoio não são cumpridas, dificilmente conseguiremos alcançar os objectivos traçados. A motivação e apoio que disponibilizamos no sentido de ganhar a colaboração do doente é algo de que nos orgulhamos imenso e embora não possa ser retratada fisicamente, está sempre lá como se de um medicamento “oculto” se tratasse.
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