JORGE NUNO |
Há muito que ando para escrever uma crónica pequena e não consigo. Tenho consciência que quanto maior for a crónica menos as probabilidades de ser lida, já que há a tendência natural para desencorajar a leitura até ao fim, mesmo que o tema seja entusiasmante para quem escreve e para quem lê; e só gosto de escrever sobre o que me entusiasma. Assim, faço hoje um apelo interno à minha capacidade de síntese para a encurtar e, reparo, com esta introdução já ocupei [até aqui] seis linhas e vou escrever sobre algo que não me entusiasma, já para não aplicar a palavra “fascina”! Vamos então ao que interessa, se é que interessa.
Em surdina, tenho andado a remoer: “como é possível, num país com a grandeza dos Estados Unidos da América, o Partido Republicano não ter conseguido eleger um candidato credível e consensual, de modo a sentir-se que será o presidente de todos os americanos?”; “como é possível um candidato presidencial [o mesmo, de referido partido] avançar para uma campanha, baseada no improviso, sem a estratégia do próprio partido?”; “como é que um candidato, com aquele perfil, foi capaz de vencer as eleições presidenciais?”; “como é possível um candidato eleito agitar tanto o mundo, deixando-o à beira de uma ataque nervos?”; “como é possível o presidente cessante dizer adeus à Casa Branca com um índice de popularidade de 60% e um presidente a tomar posse no cargo com o referido índice nos 40%?”; “como é possível um candidato eleito ter aberto frentes de hostilidade contra países da União Europeia, países tradicionalmente amigos, e fazer um novo inimigo de estimação – a China?”; “como é possível um país, com serviços de inteligência e meios tecnológicos sofisticados, deixar que outro país – com quem mantém uma “guerra fria” de muitas décadas – consiga desvirtuar a intenção de voto e, depois disso, surgir como país amigo?”.
Bem posso questionar!...
Valha-nos ao menos, por cá, a vitalidade e popularidade do interventivo presidente Marcelo Rebelo de Sousa, que, mantendo-se em elevado estado de graça, surge a todo o instante em todo o lado, distribuindo afetos, beijos, abraços e tirando selfies sempre com um sorriso, incluindo apanhar roupa da corda a uma idosa, enquanto dialogava com ela, ou uma ida ao encontro de sem-abrigo, numa noite gelada. Este perfil, faz com que seja o político mais perto do povo (apesar de sempre ter pertencido às elites) e obtenha o maior índice de popularidade de toda a classe política; no final do ano anterior, chegou a bater todos recordes de popularidade (desde que existe o barómetro da Universidade Católica Portuguesa), com uma notoriedade de 99% e 97% de avaliações positivas, através de inquirição do CESOP – Universidade Católica. Então o contraste é claramente enorme quando se pensa na má imagem de Cavaco Silva na hora de saída do cargo, avaliado com a nota negativa de 7,7 pelo mesmo barómetro. Não admira que o Observador tenha considerado o atual presidente da República como a Figura Política do Ano (2016).
Apesar de nós, portugueses, termos a tendência para sermos muito rezingões e acharmos que tudo está mal… eu acho que Portugal é um país muito especial. É fácil gostar-se deste país, e não é só pelo sol, paisagem e gastronomia. É que mesmo em plena vaga de frio, a assolar toda a Europa, o que mais brilha é o calor humano, com o presidente português no topo da pirâmide, enquanto durar o estado de graça. Mas esse estado de graça cultiva-se e, seguramente, não é semeando ventos!
Obs.: se a crónica não ficou assim tão pequena é porque, afinal, entusiasmei-me!
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