LUÍSA VAZ |
Nestes últimos dias a imprensa portuguesa tem estado focada nas cerimónias fúnebres de Mário Soares. Seria demasiado fácil seguir essa linha dando mais ênfase ao facto de o senhor ter falecido aos 92 anos de idade e fazer uma retrospectiva do seu percurso mas isso já foi feito por jornalistas, cronistas e programas de debate de forma exaustiva.
O que se retém desses três dias é que um socialista, agnóstico e laico vai a enterrar ao som do réquiem, num mosteiro numa parada com charretes, mais uma contradição numa vida onde se contaram algumas, portanto.
Enquanto isso do outro lado do Mundo, Obama faz o seu discurso de despedida enquanto Trump dá a sua primeira conferência de imprensa como Presidente-eleito onde não faltaram polémicas como seria de esperar.
A introdução fica a cargo do seu VP Mike Pence que foca rapidamente questões como: responsabilidade, as notícias falsas que têm vindo a lume, os homens e mulheres de grande relevância que fazem parte desta administração e apresenta Trump, que segundo ele falará de assuntos de extrema importância.
As primeiras palavras de Donald Trump referem as notícias falsas lançadas pelas agências secretas que este repudia veementemente.
Continua afirmando que na Economia, as grandes empresas de carros como a FIAT, a Chrysler e a Ford, estão de volta ao território norte-americano onde vão produzir e assim criar riqueza e postos de trabalho. Informa também o regresso das empresas de medicamentos bem como que se começam a desenhar leis nesta matéria dado ser uma área sensível.
Informa também que será criado um imposto nas fronteiras de elevado valor para desincentivar as empresas de saírem do território americano e produzirem os seus produtos noutros países. Segundo ele, as empresas são livres de se movimentar dentro das fronteiras norte-americanas mas não de se deslocalizarem para fora delas sob pena de serem penalizadas com este imposto quando pretenderem colocar os seus produtos no mercado norte-americano.
Anuncia também que se tem reunido com generais e almirantes da Força Aérea tendo em vista os programas que têm estado parados dos F-35 e também dos F-18.
Relembra que as apostas da sua Administração são a criação de emprego e fixação de empresas e a segurança. Reporta-se ao facto de a segurança interna americana ter sido alvo de hackers e ao mesmo tempo que admite que o governo russo, nomeando mesmo Putin, é responsável pelos mais recentes ataques cibernéticos.
Afirma também que os Estados Unidos já foram alvos da China e do Japão e que tal apesar de não ser admissível, é frequente e propõe que se reúnam os cérebros tecnológicos que se encontram no estrangeiro para criar uma defesa que combata esses ataques.
Segundo Trump, Putin afirma não ter tido nada que ver com os ataques cibernéticos e Trump reafirma a sua confiança no líder russo. Relembra que Hillary Clinton recebeu as questões que iam ser colocadas no debate e nunca fez nenhuma menção a isso e considera que se Putin o considera uma mais-valia e não um risco, isso só pode ser considerado positivo. Diz gostar de Putin e esperar que ambos consigam um bom entendimento mas ressalva que eventualmente isso pode não acontecer.
No que diz respeito às suas empresas, Trump é peremptório quando afirma que não tem negócios com a Rússia nem pretende ter da mesma forma que afirma que não tem quaisquer empréstimos a entidades russas.
Conta o episódio segundo o qual lhe tinham sido oferecidos 2 biliões de dólares para fechar um negócio com o Dubai que recusou o que demonstra, segundo ele que tem uma postura de não-conflito de interesses enquanto Presidente dos Estados Unidos. Afirma também que apesar de não gostar, nada o impediria de governar o país e os seus negócios.
A este propósito, a sua advogada, que pertence à firma de advogados Morgan-Lewis, faz uma declaração na qual explica passo-a-passo a estrutura que se desenhou para blindar Trump das suas empresas cuja direcção passará para as mãos dos seus filhos. Trump não será chamado em nenhuma resolução que a empresa tenha que tomar e não receberá nenhum tipo de informação pormenorizada sobre o comportamento de nenhuma das empresas que compõem o grupo enquanto estiver no exercício do cargo de Presidente dos Estados Unidos. Informa também que a filha Ivanka está completamente isolada de todos os negócios de família.
Da mesma forma, explica porque o império não será vendido e que os emolumentos que os governos estrangeiros pagarem nos seus hotéis irá reverter integralmente para o Tesouro norte-americano dando assim a possibilidade a todos os americanos de beneficiarem dessa soma.
Todos os bens móveis e imóveis de Trump serão passados para um Fundo recém-criado onde ficará até ao fim do seu mandato presidencial.
No que concerne aos veteranos de guerra, uma área que é bastante sensível para o povo americano, Trump afirma que através de David Shalking, serão firmados protocolos com a Cleveland Clinic e com a Mayo Clinic para que os veteranos possam ser tratados em caso de cancro com as melhores condições e com o respeito que segundo ele, não têm recebido.
No que toca ao Obamacare, Trump considera-o um desastre completo e afirma que será redesenhado e repensado para que ninguém saia prejudicado com estas alterações.
Afirma-se mais uma vez como germafobo e com a mesma convicção afirma que vai avançar com a construção do muro e que não pretende esperar um ano ou um ano e meio. Mantém também que será o México a pagá-lo através de reembolsos.
Trump evita questões como as alterações climatéricas e a ONU tentando manter-se dentro das questões de política interna e que segundo ele, são aquelas pelas quais foi eleito. Sempre igual a si próprio e num discurso não tão ostracizante quanto o de campanha, Trump continua a mostrar ao que vem deixando o Mundo em suspenso.
Por cá continuamos a fazer de conta que não vemos nem sentimos quer a subida dos juros na compra da dívida quer o discurso igual ao de Fevereiro de 2011 havendo desculpa para tudo e aparentemente nenhuma razão para alarmes enquanto continuamos à procura de heróis mesmo que já não estejam entre nós vendo-lhes só qualidades e nenhum defeito mas lá fora o Mundo corre, as decisões tomam-se e a vida avança a ritmo certo.
Até quando vai Portugal continuar fechado no seu pequeno mundo olhando para o lado quando não gosta do que vê cá dentro?
Sem comentários:
Enviar um comentário