GABRIELA CARVALHO |
Na crónica de hoje escrevo sobre um tema que muito se tem abordado na área da Gerontologia: O ENVELHECIMENTO ACTIVO.
Considerando os vários aspectos sobre o envelhecimento e as mudanças no perfil populacional, torna-se fundamental investir em políticas que promovam melhores condições de vida às pessoas idosas, para que a longevidade seja alcançada com qualidade de vida (Vasconcelos, Lima, & Costa, 2007).
Neste sentido, e para transmitir uma mensagem mais abrangente do que a do envelhecimento saudável,a Organização Mundial de Saúde (OMS) introduziu em 2002 o conceito de Envelhecimento Activo definindo-o como “o processo de optimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objectivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas” (OMS, 2005).
Segundo Fernández Ballesteros (2002, como citado em Torres & Marques, 2008), este conceito apresentado pela OMS é inovador e “ (…) reflecte a importância que os factores psicológicos e psicossociais associados a factores de ordem social assumem na formulação de intervenções promotoras da adaptação face ao envelhecimento” (Torres & Marques, 2008).
Aprofundando o conceito de Envelhecimento Activo, importa referir que a palavra “activo” para a OMS refere-se à participação contínua nas questões sociais, económicas, culturais, espirituais e civis, e não apenas à capacidade das pessoas idosas estarem fisicamente activas ou de fazerem parte da força de trabalho. Neste sentido, a pessoa idosa tem que continuar a participar na sociedade, sentindo que continua a fazer parte dela, intervindo e contribuindo para o seu desenvolvimento (Torres & Marques, 2008).
Além disso, a perspectiva deste conceito assenta numa abordagem do ciclo de vida, reconhecendo que as pessoas idosas são um grupo heterogéneo, tendendo a aumentar a diversidade entre os indivíduos com o aumento da idade (OMS, 2005).
Neste sentido o Envelhecimento Activo apresenta uma variedade de “determinantes” (como pode ser observado pela figura 1) que interagem e se influenciam mutuamente.
Assim sendo, os determinantes transversais - Género e Cultura – evidenciam que a cultura influência a forma de envelhecer, considerando-se que valores culturais e tradições são significativas para a forma como a sociedade vê o envelhecimento (OMS, 2005). Enquanto o género funciona como uma “lente” através da qual se considera ou não que determinada política está adequada para homens e mulheres. A este nível importa salientar que além das diferenças genéticas entre os sexos, os comportamentos também são determinantes para a esperança de vida e a morbilidade diferencial entre homens e mulheres (Ribeiro & Paúl, 2011).
A par destes determinantes transversais, existem todos os outros que têm influência directa na forma como se envelhece activamente, sendo também influenciados pelo tipo de envelhecimento.
Neste sentido, os determinantes relacionados aos sistemas de serviços de saúde e social, devem considerar a perspectiva do curso de vida visando a promoção de saúde, prevenção de doenças e acesso homogéneo aos serviços de saúde e de cuidados em geral (OMS, 2005).
Por seu lado, os determinantes comportamentais, relacionam-se com a adopção de estilos de vida saudáveis e a participação activa no próprio cuidado. Segundo as pesquisas, nunca é tarde para iniciar este comportamento, sendo que os hábitos tabágicos, o sedentarismo, a alimentação, a saúde oral e o alcoolismo devem ser mudados em qualquer fase do ciclo de vida, obtendo-se sempre resultados benéficos (OMS, 2005).
Relativamente aos determinantes relacionados com o próprio individuo, importa destacar a biologia e a genética (que explicam a razão pela qual as pessoas idosas adoecem mais do que os jovens) e os factores psicológicos (a inteligência e capacidade cognitiva são fortes preditores de um envelhecimento activo e de longevidade, bem como a auto-eficiência) (OMS, 2005).
Por seu turno, os determinantes relacionados ao ambiente físico podem fazer a diferença entre a dependência e a independência para qualquer indivíduo, especialmente para as pessoas idosas. Este determinante inclui os meios de transportes, a urbanização, a arquitectura dos ambientes, o acesso aos serviços e a facilidade em utilizá-los, bem como as condições de saneamento (OMS, 2005).
Os determinantes que se relacionam com o meio social englobam o apoio social (organizações não-governamentais, a indústria privada, os serviços profissionais voltados para saúde e serviços sociais); as questões da violência e dos maus-tratos (para a prevenção é necessário que haja uma abordagem multidisciplinar envolvendo a justiça, serviços sociais e de saúde, líderes espirituais, advogados e as próprias pessoas idosas); e a educação e alfabetização (baixa escolaridade é associada ao aumento dos riscos para deficiências, morte e desemprego entre as pessoas idosas). A este nível, importa salientar que existem estudos que mostram que os jovens que aprenderam com idosos têm atitudes mais positivas e realísticas quanto à geração mais velha (OMS, 2005).
Por último, os determinantes económicos, também são fundamentais no processo de envelhecer de forma activa e incluem a renda (são mais vulneráveis as mulheres idosas onde os rendimentos tendem a ser menores, no entanto, para ambos os sexos este factor determinada o acesso a alimentos nutritivos, moradia adequada e cuidados de saúde); a protecção social (especificamente a relação com a família: a família auxilia monetariamente a pessoa idosa ou a família é auxiliada pela pessoa idosa ou a família é muito ausente/ não existe este apoio); e o trabalho (se todos pudessem ter oportunidades de trabalho dignas, chegariam à velhice com capacidade para participar da força de trabalho) (OMS, 2005).
Por tudo isto, o objectivo do envelhecimento activo é aumentar a expectativa de uma vida saudável e a qualidade de vida para todas as pessoas idosas, independentemente da sua condição frágil, fisicamente incapacitante ou que requeira cuidados (OMS, 2005).
“Mais do que acrescentar anos à vida, a Terapia Ocupacional proporciona vida aos anos.”
Referências Bibliográficas:
- Organização Mundial de Saúde (2005). Envelhecimento ativo: uma política de saúde. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde.
- Ribeiro, O., C. Paúl (2011). Manual de Envelhecimento Activo. Lisboa, Lidel - edições técnicas, lda.
- Torres, M. & Marques, E. (2008). Envelhecimento activo: um olhar multidimensional sobre a promoção da saúde. Estudo de caso em Viana do Castelo. Lisboa: VI Congresso Português de Sociologia.
- Vasconcelos, K. R. B. d., Lima, N. A. d., & Costa, K. S. (2007). O envelhecimento ativo na visão de participantes de um grupo de terceira idade.Fragmentos de cultura, 17, 439-453.
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