terça-feira, 23 de agosto de 2016

O MEU MÊS DE AGOSTO

REGINA SARDOEIRA
Estou cansada do mês de Agosto. Estou saturada de andar nas ruas, nas estradas, nas praias e ser obrigada a abrir caminho por entre multidões. Estou absolutamente aturdida pelo ruído absurdo de tantas pessoas, em amálgama, ocupando todos os espaços. Até parece que a cidade deixou de pertencer-me, transformada num arraial perpétuo, numa festa continuada, num desfile imparável de muitas máscaras engalanadas. 

Claro que - reconheço-o - o problema sou eu e não os outros, todos esses que se deleitam neste contínuo vai e vem, sem aparente conteúdo. E sei bem que são as férias deles todos e que merecem o meu respeito, por isso mesmo. 

Apesar disso, aspiro pela calma amena do tempo comum, esse que reconduz as pessoas a si mesmas e ao seu ritmo e que decerto as mostra como realmente são. Ou talvez não. 

Por mim, gosto de fruir as esplanadas, a praia, as ruas, as estradas e as lojas sem atropelos, podendo mover-me sem pressa ou relaxar sem hora marcada. 

Julgo que sempre assim foi, pelo menos desde que me lembro, e de desejar ansiosamente sair uns dias, metade do mês, pelo menos, e descansar deste corrupio, num local diferente. Muitas vezes, também, esse local diferente, estava pejado de multidões. Mas eram outras e podia descansar destas. 
E estranho estas reflexões. 

Afinal, todos sentimos a necessidade do delírio das férias, todos queremos usufruir do tempo e dos espaços, todos temos direito à evasão e à liberdade. Se, no final, acabamos todos juntos a disputar o terreno do nosso lazer, o mesmo terreno para o mesmo lazer, talvez nos falte imaginação, ou decerto somos demasiado egoístas para partilhar. 

De qualquer modo, por razões que me escapam parcialmente, estou cansada, repito, do mês de Agosto e do ruído de muitas férias.

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