sexta-feira, 26 de agosto de 2016

ARTE COM DITADURA POSTIÇA

DUARTE NUNO VASCONCELOS
Levantamo-nos e sujeitamo-nos a um vazio criativo.

Habituados a olhar diariamente para o espelho, permitimo-nos acalentar a ideia de que o que ele reflete é a realidade e tudo o resto é pura cópia.

Este pensamento irracional nega o que é real e torna-se fantasioso. Do mesmo modo, atualmente, fazer arte é um exercício feito de maneira tão óbvia que envergonha o banal. Porque é que a falta de rigor e a carência de inteligência são os valores contemporâneos aceites? Tudo que se faz passa a ser arte e ao alcance de todos e de cada um? Quantos mais, pior e menos será sempre mais (e raras são as vezes em que a qualidade é proporcional à quantidade)!

A obra fala por si, deve ser livre e, só assim, o artista será revelado e relevado a um patamar de inspiração intemporal.

Destacarmo-nos desta rede bem armada requer o maior dos trabalhos e muita inteligência, mas só dotados que criam verdades narradas em pinturas, esculturas, composições musicais ou em literatura, conseguem resistir ao tempo e ser a certeza de uma criação para além de ela mesma.

Todos os outros, nos tempos que correm, não deixarão de ser promessas encenadas em busca de contempladores que não pensam por si.

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