PAULO NETO |
O desânimo ludibria-se desde o pré-tempo das cavernas, assim como o medo, seu plausível sucedâneo, pelos exorcismos que o homem atremoujado na descoberta de um mundo hostil vai congeminando para coexistir com o desconhecido e o pânico dele oriundo.
Se orkos era em grego uma espécie de sermão ou litania, exorkizein poderia ser obrigar a jurar o nome de Deus, ou pura e simplesmente um modo de arrenegar os muitos satãs que existem dentro de alguns.
Também já o português de 500, ao leme das naus encontrara numa transcendente dimensão – “Aqui ao leme sou mais de que eu: sou um povo que quer o mar que é teu…” – a coragem para desafiar os mostrengos dos “tectos negros do fim do mundo” e todos os Adamastores sopradores de tormentas. Metáfora do que mais vos convier…
É pois natural que o Homem contemporâneo continue na demanda, tão mais porfiada quão próximo da revelação, apocalipse ou catástrofe final julga estar, do exorcismo de suas crescentes angústias, hoje, já com todas as tecnologias híper sofisticadas ao seu alcance e mercê (?) mas, condicionado, limitado, transcendido por uma mor maleita: o seu semelhante, aquele sub-hominídeo que tem na ara a cupidez, a desmedida ambição no seu cálice e a despudorada ausência total de escrúpulos no seu paramento.
Contra esse, ou esses, o colectivo soçobra, verga-se, cangote aceitado, acicatado pela ferroada da aguilhada dos modernos chips, deixando-se dominar por um demonismo cego, cruel, frio que a aridez sáfara de alguns determina, impõe e executa para a malignidade de muitos.
Como os exorcisar? Ou combater? Ou eliminar?
O homem das cavernas, à luz das fogueiras, nas sombras ágeis projectadas nas paredes lobrigou uma primeira dimensão estética – talvez da dança…
O homem actual teme a sua sombra, pois já não destrinça a sua realidade da sua virtualidade. E a virtualidade pode ser, de tão pérfida, só letal.
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