DIOGO VASCONCELOS |
Durante o nosso período escolar temos imensos sonhos, acreditamos que somos capazes de alcançar tudo, “o céu é o limite”, pensamos: “vou acabar a minha licenciatura e depois vou arranjar logo emprego na minha área”. Não, infelizmente não. Não é assim. De repente damos por nós num mundo repleto de “cunhas”, de “compadrios”, um mundo iníquo que não escolhe os melhores.
Dás por ti a pensar: “bastava uma oportunidade que eu agarrava”, um pequeno ensejo e eu mostrava todo o meu valor, todas as minhas capacidades. O mercado de trabalho no fundo é uma “selva” onde não te deves meter com o leão na hora da refeição. Os empregadores vilipendiam os recém-licenciados, “não têm experiência nenhuma no mercado de trabalho”, “não sabem fazer nada” dizem eles. Pois, talvez até podem ter razão, mas então a culpa é de quem?! Se muitos licenciados não estão preparados para a labuta é porque o ensino superior não os soube preparar. Teoria, teoria, teoria, mas não é isso que as empresas querem. Querem que saibamos implementar o que aprendemos no “terreno”.
Todavia, existe uma alternativa para a falta de experiência: ter a tão badalada “cunha”. Quem é que já não foi preterido em relação a outra pessoa com menos capacidade por um método pouco diáfano? Neste capítulo não somos muito diferentes dos Gregos ou dos Italianos, aliás é uma característica própria dos países do sul da Europa. Uma idiossincrasia. Se isso acontece mesmo dentro do Estado, por que razão não haveria de acontecer no seio da sociedade. Isto é ululante. E não estou a dizer que vivemos numa cleptocracia. Não, não vou tão longe.
Alguém incipiente numa área estiola à medida que vai sendo ultrapassado por indivíduos com menos aptidões, olhar para o lado e ver que aquele que “andou contigo na escola” arranjou um belo “tacho”, é lixado! Dás por ti a ter sentimentos de escárnio, de raiva ou a pensar como é que podes-te ser tão beócio ao ponto de não perceberes que não era a tua média da faculdade que te iria levar a lado nenhum. Fomos incautos durantes todos estes anos, uns verdadeiros sonhadores, só quando levamos mesmo com a porta na “tromba” é que descemos à terra.
No meu caso em concreto percebi isso à relativamente pouco tempo, sempre fui um aluno brilhante na faculdade, não fui absorta, não me deixei levar pelo celeuma, tentei medrar com as dificuldades que me foram aparecendo. Mas não, não foi suficiente, dei por mim num jogo de bastidores, um jogo falso, mesquinho.
Este texto não é para ninguém mirrar, antes pelo contrário. Esta situação não é inelutável, é combatida com pequenas ações, pequenas atitudes que mudam a própria sociedade. Perceber que quando aceitamos algo por uma questão de compadrio, estamos a pactuar com uma sociedade indómita e que mais cedo ou mais tarde, também nós estaremos do outro lado.
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