segunda-feira, 15 de agosto de 2016

A CULTURA NA GUINÉ-BISSAU

JOANA BENZINHO
A Guiné-Bissau é um país predominantemente animista, apesar da grande expressão muçulmana e da matriz católica de uma pequena franja da população. É essa a razão que leva a que, à excepção das etnias muçulmanas, se celebre a morte de uma maneira tão especial e distinta daquela que conhecemos em grande parte dos mais de duas dezenas de grupos étnicos representados neste país da costa ocidental africana.

Num país onde a esperança média de vida ronda o meio século e se morre muitas vezes por coisa pouca devido à falta de um sistema de saúde eficaz, é comum cruzar-mo-nos com a realidade do final da vida e todo o cerimonial que carrega o "Choro". Este momento é de celebração e festa em honra do defunto que junta familiares e amigos próximos numa festa que dura vários dias, normalmente os dias que duram os mantimentos levados para esta cerimónia. Diz-se por vezes em tom critico que as famílias gastam na morte o dinheiro que em vida do falecido não tiveram para lhe pagar a medicação da farmácia, mas a realidade é mesmo esta. No Choro a despesa é grande na compra dos animais que vão servir de refeição dos presentes assim como de vinho, refrescos e tudo o que mais venha a ser servido. No choro toca-se o bombolom, tambor mítico entre os guineenses que antigamente servia de mensageiro para dar noticias de interesse à população e até para partilhar informações entre Tabancas (aldeias) relativamente distantes. Se morria alguém em determinado local a noticia era "tocada" no bombolom e os sons interpretados nas Tabancas até onde o vento propagava o som. No Choro o bombolom é usado com o objectivo de evocar o defunto num momento em que é comum ver as pessoas presentes a dançar freneticamente num quase transe.

Passado um ano do falecimento, a família mobiliza-se para organizar um novo momento festivo a que se chama "Toca choro" e que não é mais que um novo ritual de evocação do defunto. 
Esta cerimónia muitas vezes não se realiza logo ao fim de um ano por falta de meios financeiros da família para arcar com mais uma despesa mas deve ser feita, passe um, dois ou mais anos sobre a data da morte pois é dever moral da família.

O Toca choro mobiliza de novo os parentes e amigos para uma celebração que dura vários dias. A família pode comprar uma vaca ( ou várias, dependendo da importância e riqueza de que morreu e dos próximos que lhe sobreviveram), cabras, galinhas e há farta comida e bebida para servir aos presentes . É muito comum nestas festas o consumo do vinho de palma ou de caju que rapidamente fermentam e assumem um alto grau de alcoolemia. 

Não falta de novo o bombolom nem os cantares e dançares dignos de um registo pela sua beleza e candência que prendem qualquer um que assiste a este momento de celebração da morte. 
Na Guiné-Bissau celebra-se a morte como mais um episódio da vida e com estes cerimoniais - o Choro e o Toca Choro - cuida-se da partida em paz da alma daqueles que faleceram.

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