quarta-feira, 28 de setembro de 2016

NOVAMENTE, OS PROGRAMAS DE TALENTOS…

PAULO SANTOS SILVA
O tema já não é novo e já foi aqui abordado nestas páginas. Também já vem com algum atraso, relativamente ao “acontecimento” que despoletou esta crónica, mas valores mais altos se levantaram, relativamente ao tema da crónica anterior. 

Na altura, questionei os leitores se estes programas seriam um princípio, um meio ou um fim. Hoje, a abordagem será mais contextualizada num programa em concreto, que neste momento passa na nossa televisão pública. Estou a falar, obviamente, do “The Voice Portugal”.

Qual foi, então, o “acontecimento” que despoletou esta crónica e quais as questões que me suscitou?

O “acontecimento” foi a interpretação de uma Ave Maria de Caccini. Surge, logo aqui, o primeiro grande reparo. A produção de um programa deste tipo, não pode cometer um erro de palmatória como o de inserir como autor do tema, um “tal” de Caccine. Uma pesquisa básica e rápida no Google, demonstraria facilmente que tal compositor não existe. Falha grave.

Posto isto, a principal questão que a interpretação da concorrente me suscitou foi, muito simplesmente, até onde é que a liberdade interpretativa pode ir num tema como este. Será que pode ser interpretado em qualquer estilo, tendo como único limite a vontade do cantor em mostrar o máximo de dotes vocais no pouco tempo de que dispõe, tentado que se vire uma cadeira que seja?

Na minha modesta e pessoal opinião, não. Claramente que não. 

Giulio Caccini, foi um compositor que viveu entre 1551 e 1618, ou seja, em pleno Renascimento. Mas Bach, expoente máximo do período Barroco, funciona lindamente interpretado de uma forma “jazzística” ou misturado com ritmos africanos (pesquise no Youtube por Lambarena…). É verdade, mas a questão não esteve no estilo, esteve no caráter. Uma Ave Maria, como cântico religioso que é em honra de Nossa Senhora, não pode ser interpretado aos “berros”, como na minha opinião foi. Ainda que pudesse não ser cantado de forma lírica, deveria ter respeitado a essência da música e da sua mensagem.

Pior do que isso, foi perceber que para os jurados tudo isto foi absolutamente irrelevante, uma vez que alguns carregaram no botão para virar a cadeira, o que se por um lado, confirmo as minhas suspeitas de que pouco ou nada entendem do que estão ali a fazer (basta ouvir os “chavões” que alguns utilizam sistematicamente nas apreciações que fazem…), em relação a outros a quem reconhecia algum mérito e conhecimentos musicais, me dececionou.

Valha-nos, no entanto, que as alternativas nos canais generalistas a este programa se resumem a novelas ou reality shows onde se revelam segredos de malta que, aparentemente, só tem dois neurónios e um deles já deixou de funcionar há algum tempo!... 

Bendita RTP2 e todos os outros canais das operadoras por cabo, fibra e satélite!!!

No caso de ter ficado curioso relativamente ao tema, deixo-lhe um link para o ouvir numa interpretação “à séria”, de entre as muitas que felizmente se podem encontrar.


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