RITA TEIXEIRA |
A minha vida levou uma reviravolta de noventa graus em 2009. Fui-me apercebendo, de dia para dia, que o meu organismo não funcionava normalmente. Pensava eu, que era o stress a afetar a minha vida profissional. Cansava-me facilmente e sentia que a voz tinha falhas, mas atribui aos nódulos nas minhas cordas vocais. Marquei uma consulta na minha médica, que auscultou-me e disse que a zona do pescoço estava sob forte tensão. Receitou valium e para descansar. Não podia, já que exercia o cargo de coordenadora de diretores de turma. Era esse cargo, que me levara a tal situação, o mesmo cargo não me permitia descansar. Subitamente, tudo se desmoronou e a saúde estava a pregar-me uma partida! Foi um corre-corre entre médicos, hospitais, exames médicos e análises clínicas, até ao diagnóstico de uma doença neuromotora. Lentamente, dia após dia, os movimentos do meu corpo iam-se retraindo e eu, sem saber nada e nada podia fazer. Como tenho um irmão residente nos Estados Unidos da América, viajei até lá e fui a um hospital conceituado, onde, finalmente diagnosticaram a doença esclerose lateral amiotrófica. Sofri com o prognóstico, mas a alma chorou intensamente ao constatar que, a minha filha, com catorze anos de idade, entendera tudo. Semanas mais tarde, o meu irmão surgiu em casa com um médico para me ver e as hipóteses que tinha de sobrevivência ou um tratamento para retartadar o seu avanço. Ele demonstrou interesse nos últimos dois anos da minha vida. Eu relatei a situação do ensino em Portugal, especificando a revolta dos professores. Expus a minha revolta com os parceiros de profissão e a não aceitação da submissão deles após uma greve com uma adesão superior às espetativas do governo e dos próprios sindicatos. A rejeição de avaliar os professores, quando as minhas competências, enquanto professora de alunos do segundo ciclo, poderiam não ser satisfatórias, quanto mais avaliar o desempenho profissional dos professores; dar tudo por tudo para desempenhar o cargo de coordenadora dos diretores de turma, cargo este que eu não aceitara de boa forma, virado para a burocracia e não para desempenhar atividades com alunos, a minha paixão, no papel de docente de inglês e língua portuguesa. Surpreendida, ouvi o que nunca pensara ouvir! Eu não deveria levar o meu papel de professora tão a sério, porque isso contribuira para o avanço da minha doença! O gene da doença já o tinha, mas com o stress que vivera a doença acelarara e chegara ao ponto em que ele me via! Perante esta doença, resta-me dizer ao ministério da educação do governo de José Sócrates, e às duas ministras da educação, um bem haja pelo vosso desempenho, pelo sucesso em levarem à reforma antecipada milhares de professores. Quanto às doenças de centenas de professores e outros que ficaram na miséria ou em situações precárias, dou-vos excelente por terem atingido os vossos objetivos!
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