domingo, 18 de setembro de 2016

JUÍZ FARAÓ

LUÍS ARAÚJO
Desde tempos imemoriais que esta nova vaga de juízes rock-stars que pulula nos tribunais me causa uma certa urticaria.

Dizer que tenho muita dificuldade em entender tal fenómeno seria um eufemismo, porque na realidade, nem com mel chupo esse rebuçado.

A figura do juiz justiceiro, que brande bem alto a espada, atacando os ricos e poderosos, esquecendo-se demasiado ostensivamente da venda e da balança é muito popular, o povo delira com a queda de políticos poderosos e dos donos disto tudo, o que nem seria mau, não fosse este o mesmo povo que delira com a Casa dos Segredos, e o piquenique do Continente com o Tony Carreira.

Carlos Alexandre em recente entrevista deu um grande exemplo a todo um país, o exemplo de um excelente momento para estar calado. o exemplo do que não deve fazer um juiz, muito ao estilo do Ronaldo ou do Messi quando na marcação de um pénalti se lembram de acertar na barra, ou mandar a bola às ventas daquela senhora que está calmamente na ultima fila a tirar selfies pois também aí eles mostram o que não deve fazer um jogador da bola.

O Tribunal Central de Instrução Criminal é um local de hipérboles. Como só lá vão parar os casos mais importantes é logo chamado pela imprensa de TICÃO, os juízes que lá estão são os Super Juízes e se mais tempo dessem aos jornalistas mais rótulos parvos inventavam. 

São os Juízes das Liberdades, porque o poder lhes emana directamente da Constituição, tal como o poder dos faraós emanava directamente dos Deuses, parece.

Ora, há uma coisa ou outra que me fazem alguma confusão, pois entendo que estes juízes que são dois, mas durante muitos anos foi só um, devem ser, têm que ser - Primus Inter Pares - melhores que os outros, pois, invariavelmente, com grande poder vem grande responsabilidade

Carlos Alexandre, pelo contrário clamou ter poucas habilitações, poucas competências sociais e errar em 2/3 das decisões (parece-me muito), mandou uma boca a José Sócrates e piscou um olho saudosista à PIDE. Eventualmente terá faltado apalpar o rabo à apresentadora e fumar um charro, sem inalar, claro.

Melhor - que neste caso é pior - não poderia ser, um verdadeiro manancial de tonterias by Carlos Alexandre.

De facto o Super-Juiz queixou-se (gabou-se?) de não progredir na carreira porque, entre outras coisas, “não tinha pós graduações”, o que automaticamente o coloca atrás de qualquer puto com o ranho no nariz que tenha acabado de sair da universidade já com um mestrado no bolso.

Amigos também tem poucos e pelos visto só em dias de sol, férias não faz e passa os tempos livres fechado em Mação, que é uma daquelas típicas terras portuguesas com 6 casas, a igreja e o balcão da Caixa Geral de Depósitos

Eu, por acaso sempre tive esta ideia de que um dos focos principais do Direito era a regulação de relações sociais, não percebo muito bem como pode alguém com tão pouco contacto social, regular algo mais complicado do que se há-de almoçar ervilhas ou lentilhas.

É que chamar “filho da puta” a alguém não é igual no Porto e em Lisboa, como tão bem ensinou Pinto da Costa - com todas as letras - a um jornalista do Correio da Manhã em célebre reportagem de 2010, os habitantes de Bisalhães que trabalham o barro preto com mestria auto-intitulam-se “paneleiros” e “kona” é uma marca de bicicletas americana.

Aqui há uns anos atrás uma amiga minha, professora, expulsou um aluno tão rápido da sala de aulas que este nem teve tempo de explicar que "fonix" é o nome de um pacote da vodafone. O pai do aluno explicou, aos berros no dia seguinte à directora da escola.

Uma professora que se engana expulsa um aluno, não fará grande mossa, Carlos Alexandre, quando do alto da sua lustrosa beca se engana envia alguém para a cadeia, permite uma busca domiciliária, autoriza uma escuta telefónica. 

Invariavelmente provoca danos na esfera pessoal daqueles que era suposto defender. Metamorfoseia-se de protector em algoz, é um Clark Kent a bater nos cidadãos de Metrópolis e a dar palmadinhas nas costas dos vilões o que, segundo o próprio, acontece bastas vezes, quando refere que 2/3 das suas decisões são validadas pelas instâncias superiores, o que é porreiríssimo, excepto para os 33% que foram para a cadeia, viram a PJ invadir-lhes a casa às 7 da manhã, ou têm as conversas com a amásia sujeitas a escrutínio mais ou menos publico.

Eu, por mero acaso tenho mais habilitações que o Juiz Carlos Alexandre, portanto podia concorrer a desembargador, tenho mais amigos (principalmente em dias de chuva), por isso com muito mais acuidade posso aferir se é normal ou não ter dinheiro em nome destes, fico bastante irritado quando só acerto 2/3 das vezes e gosto mais de bufas (apesar do cheiro) do que de bufos.

Há no entanto, algo que nos une, o gosto pelas entrevistas, eu, que posso, não dou, ele que não devia poder, dá.

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