quinta-feira, 8 de setembro de 2016

PROCESSOS DE INTERNACIONALIZAÇÃO - O QUE PERGUNTAR?

RUI LEAL
Quebrando um pouco a ronda que tenho vindo a fazer pelos vários países integrantes da CPLP no que toca às condições, incentivos e requisitos específicos do investimento em cada um desses países, é tempo de fazer uma pausa e reflectir se a sua empresa está, ou não, preparada para se internacionalizar.

No âmbito da minha actividade profissional noto que todos os empresários com quem falo ou com quem trabalho, e cujas empresas não estão internacionalizadas, mas que ambicionam “dar esse salto”, não estão minimamente preparados para esse passo, ou não estão totalmente conscientes das dificuldades que vão encontrar.

Um processo de internacionalização é algo de extremamente delicado e sensível, devendo ser muito bem estudado e ponderado, de forma a que essa tentativa de crescimento não venha a comprometer o presente e a estrutura base que suportará todo o processo.

Assim sendo, existem 3 questões básicas que qualquer empresário deve colocar no momento de avançar com a sua empresa para novos mercados (sobretudo internacionais).

Onde?

A primeira questão a ser colocada relaciona-se com quais os mercados prioritários para certa empresa num processo de internacionalização.

É importante que as empresas não embarquem em mercados da moda, façam as suas análises criteriosas, sempre de acordo com as especificidades dos seus produtos e/ou serviços.

Dever-se-á levar em linha de conta indicadores gerais de mercado, tais como:

- factores políticos, onde se inclui a estabilidade governativa e as políticas económicas e fiscais;

- factores económicos, como o PIB, crescimento da economia, desemprego, níveis salariais, taxa de inflação, etc.;

- factores sócio-culturais, tais como questões demográficas, padrões de consumo, hábitos de vida, etc.;

- factores tecnológicos, tais como os níveis de inovação e disponibilidade de comunicações móveis e internet, por exemplo;

- factores ambientais, tais como regras impostas sobre poluição, reciclagem, etc;

- factores legais, como seja o conhecimento minimamente suficiente e abrangente da legislação e regulamentação na área em que se vai actuar;

De seguida teremos os vários indicadores sectoriais.

Aqui a empresa já procurará dados específicos sobre o sector onde se insere a sua actividade, como seja o valor do mercado, dados sobre a sua concorrência e adaptações que possam ser necessárias de realizar por motivos de ordem técnica, cultural ou até regulamentar/legal.

Por fim a empresa deverá levar em conta os chamados indicadores internos.

No fundo são os seus recursos e competências para abordar os diversos mercados.

Analisando estes recursos e competências com as especificidades os vários mercados propostos ou sob análise, rapidamente se perceberá qual o mercado que irá ficar melhor posicionado para ser objecto do processo de internacionalização.

Como?

Esta questão prende-se com a forma de entrada no mercado que pode ir de uma abordagem mais simplista até às formas mais complexas de investimento e participação.

- Exportação directa:

É a forma mais comum e simplista de internacionalização, sendo todas as operações dirigidas pela empresa, tendo todo o contacto com os clientes.

Exige imensos recursos e um conhecimento profundo dos mercados.

- Exportação indirecta:

Faz-se mediante o recurso a importadores nos mercados locais que já têm acesso a canais de distribuição perfeitamente definidos e estruturados.

Aqui a empresa apenas tem um interlocutor (o importador local) o que a faz incorrer em menos custos. No entanto pouco ou nenhum controlo tem sobre a distribuição e acaba por perder informação sobre o mercado.

- Subsidiárias comerciais:

No fundo consiste na abertura de filiais ou sucursais. Implicam um maior envolvimento financeiro, mas constituem um primeiro passo para a instalação física da empresa noutro país.

Poderá revelar-se bastante eficaz em termos de vendas, sendo muito valorizado pelos clientes finais.

- Franchising e licenciamento:

São formas contratuais que uma empresa pode estabelecer com parceiros locais mediante os quais, a empresa cede, em troca de compensações financeiras, modelos de negócio previamente montados e estudados, ou marcas e/ou patentes.

- Joint-Venture:

A empresa irá criar, juntamente com o parceiro local, uma terceira empresa no país de destino.

No fundo consiste na união de duas ou mais entidades empresariais que, sob a forma jurídica de uma nova sociedade, irão desenvolver o negócio/indústria pretendido;

- Investimento directo estrangeiro

Aqui estamos perante a criação de uma empresa de raíz, no país de destino, detida maioritariamente pela empresa nacional que pretendeu internacionalizar.

Esta opção exige mais investimento e envolvimento temporal, bem como um risco muito maior que todas as anteriores formas referidas, mas também é aquela que, quando bem sucedida, poderá ser mais recompensadora.

Quando?

A última questão a colocar prende-se com o momento certo para a abordagem dos mercados internacionais, na perspectiva do grau de preparação ou maturidade da empresa.

Terá aqui a empresa de perceber se consegue lidar com as diferentes variáveis e imprevistos de um processo de internacionalização, longo penoso e bastante exigente em termos financeiros e pessoais.

A empresa terá de ter em conta a distância física aos mercados de destino, as barreiras à entrada (processos alfandegários), taxas de câmbio, sistemas legais e financeiros, bem como até políticos e institucionais.

Significa que a empresa tem de perceber se está suficientemente madura e preparada para enfrentar estes desafio de forma consistente e integrada.

É esta questão particular que as mais das vezes é olvidada e cuja ausência de resposta ou de consideração poderá ditar um fim prematuro e trágico num processo que, potencialmente, teria tudo para dar certo, não fosse a impreparação da empresa para o momento em causa.

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