DUARTE NUNO VASCONCELOS |
O imaginário é um reservatório gráfico, uma galeria de imagens e textos, de valores e pontos de partida que se intrometem na maneira de perceber o que está à nossa volta. Possui um compromisso com o real (interpretação, representação) e não com a realidade (natureza das coisas em nós mesmos).
Ter uma ideia representa configurar algo e, inesperadamente, o acaso motiva a descobrir, a expressar e a desejar procurar. O artista passa a ser mais espectador do que autor e, em vez de errar ou de resolver, contempla e faz contemplar.
No acto de "pôr no gráfico", no produto, nas linhas da pauta ou no branco das telas, há infinitos trilhos a seguir, num emparelhamento entre imprevisibilidade (diversidade) e inevitabilidade (eficiência) com o atributo de ser "durante" que a própria obra nos aconselha.
Se, por um lado, o acaso é a ausência de determinação do actor, é possível que a obra não tenha sido produzida para um fim artístico (sem valor activo). De qualquer forma, a situação pode ser explorada no próprio acto da descoberta do significado acidental e ser moldada na sua expressão.
Mas, por outro, o acaso pode ser calculado e até instigado pelo criador.
Importa perceber que os valores exigidos para a arte de hoje, tangencial, já não almejam uma obra ideal definitiva ou acabada. Assim, pensemos não apenas na probabilidade de, ao acaso, efectivarmos uma obra, mas também, transformar, através do acaso, o entendimento do que pode ser essa mesma arte.
"Seria possível obter um poema, apenas sorteando palavras de um dicionário?"
Sem o acaso tudo seria monótono, porém não acredito no acaso, mas que existe, existe.
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