MÓNICA AUGUSTO |
Um novo ano letivo está prestes a começar e com ele recomeça a azáfama escolar, regressam as rotinas para as famílias, mas começa também uma nova aventura para os professores, em particular para os que estão em início de carreira que todos os anos se a cada ano são confrontados com uma nova realidade: outros alunos, outros colegas, outra escola. O início do ano letivo é que efetivamente marca a entrada num novo ano, a mudança de ano civil pouco significado tem.
Tantas vezes referida a condição precária dos docentes do ensino básico e secundário, nunca é demais refletir sobre as vidas destas pessoas, sobre as motivações que as fazem, durante anos, deambular de escola em escola, de localidade em localidade, mudando constantemente de residência ou percorrendo centenas de quilómetros diários (não é exagero), na tentativa de conciliar as vidas pessoais e familiares com a vida profissional. Certamente não é a ambição, não é a busca de uma vida financeiramente estável, nenhum jovem consciente escolhe ser professor com estes objetivos.
A escolha de ser professor é uma escolha emocional, só se pode ser (bom) professor por vocação, e é uma profissão verdadeiramente compensadora. Os dias podem ser difíceis, a exaustão falar mais alto, mas a entrada na sala de aula, o conseguir cativar, ainda que por instantes, a atenção de uma turma, são momentos que fazem esquecer as dificuldades da profissão. Muito para além de ensinar, trata-se de poder contribuir para a formação de personalidades ainda em processo de construção, saber que se vai ser recordado, ainda que seja difícil muitas vezes reconhecer visualmente um aluno passados alguns anos a abordagem comum: “Foi meu professor!” faz despoletar um mecanismo de memória e de orgulho. O orgulho na profissão, o orgulho na constatação de que realmente somos lembrados e o orgulho de ver que aquelas vidas seguiram um rumo e que, de alguma maneira, tivemos nela algum papel. Por vezes fica uma sensação de vazio, quando constatamos que aquelas vidas não tiveram o rumo desejado, que se desviaram do trilho, mas a reflexão e a ideia de que demos o nosso melhor alivia a inquietação, ainda que fique sempre a sensação de que poderíamos ter feito mais...
No ensino superior, ainda que a realidade seja outra, não é muito diferente, o sentimento é o mesmo, a diferença da faixa etária, as preocupações com o desenvolvimento da carreira e com uma série de funções levam à exaustão e não permitem um acompanhamento tão próximo, mas o gosto pela profissão faz com que a relação professor-aluno se mantenha com base nos mesmos pressupostos, um bom professor é-o por vocação em qualquer nível de ensino. Por muito que nos esmeremos na aquisição de conhecimentos científicos a sua transmissão sairá gorada se não imprimirmos empenho e gosto a cada aula, nesse caso trata-se de mera reprodução de factos.... A noção de que de que determinados conteúdos devem ser tratados de forma diferenciada, o não assumir de uma atitude sobranceira, a perceção das reais dificuldades dos alunos e o estarmos atentos e disponíveis podem marcar a diferença. Tantas vezes confrontados com a dualidade professor ou investigador, ainda que complementares não são sinónimos. Por mais admirável que seja o trabalho de um investigador, por mais fantástica que seja a descoberta, por mais reconhecimento que se obtenha por parte dos pares, é um percurso solitário, onde se imprime muito de nós, muitos conhecimentos técnicos, mas que não nos permite mostrar a nossa essência. A tarefa de ensinar, de transmitir dá um outro sentido à investigação, não serão só os pares a julgar os nossos feitos. Mais do que em conferências e seminários, é em contexto de sala de aula que se dá o verdadeiro julgamento, que percebemos se o nosso trabalho, a nossa investigação é significativa, se suscita interesse num público menos restrito, se tem validade para a sociedade. Também aqui a marca do orgulho em saber que conseguimos ensinar algo, o orgulho em vê-los seguir em frente, cheios de sonhos e utopias próprios da juventude e de quem está a começar uma carreira que tantas vezes se desenha tão bonita.
Nada mais compensador pode existir numa profissão do que o reconhecimento. A nossa sociedade subestima o papel do professor, mas o que realmente importa é a certeza que todos nós tivemos pelo menos um professor que nos marcou e que fez a diferença, afinal o reconhecimento dos alunos é o mais importante, é para eles que trabalhamos, são eles o foco da nossa ação, muito para além dos números do sucesso ou do insucesso escolar estão os alunos enquanto pessoas, estão as personalidades que se formaram, que ganharam asas e voaram e que... ainda nos reconhecem!
Muito bom Mónica. Beijinho. Dani
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