quarta-feira, 28 de setembro de 2016

AS REGIONAIS ESPANHOLAS E O PSOE

RUI SANTOS
A Galiza e o País Basco escolheram no passado domingo os respectivos parlamentos regionais. Estas eleições podem ser vistas como a resposta dos eleitores não só à forma como as suas regiões estão a ser governadas, como também ao actual impasse político do Estado espanhol. Os socialistas foram os grandes derrotados das regionais galegas e bascas. Foi sem margem para dúvidas o partido que mais votos perdeu relativamente às eleições anteriores realizadas em 2012.

Na Galiza, tal como as sondagens previam, o Partido Popular (PP) venceu com maioria absoluta ao eleger 41 deputados (em 75), mais 3 que o necessário para governar em maioria. Alberto Núñez Feijóo, o líder reconduzido nos destinos da Galiza, foi o grande vencedor das eleições. No cargo desde 2009, Núñez Feijóo já anunciou que este será o seu último mandato e já se fala que poderá suceder a Mariano Rajoy, um outro galego, à frente do PP espanhol. Não terá sido por acaso que Núñez Feijóo se distanciou de Rajoy durante toda a campanha, não querendo aparecer ao lado do líder do governo espanhol. Com certeza que esta atitude não foi tomada levianamente. A coligação En Marea (Podemos, Esquerda Unida, Anova e vários movimentos de cidadãos) elegeu 14 deputados, os mesmos que o Partido Socialista da Galiza (PSdG), o braço galego do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), mas este obteve menos 17 mil votos que a En Marea. O Bloco Nacionalista Galego concorreu coligado com a Federación Obreira Galega e o Partido Comunista do Pobo Galego, sob a sigla BNG-NÒS, e elegeu 6 deputados.

Relativamente às eleições regionais de 2012, o PP manteve o mesmo número de deputados, a votação da En Marea manteve os eleitores da força política que a antecedeu – AGE – e foi buscar votos ao PSOE e ao BNG.

As sondagens atribuíam a vitória no País Basco aos conservadores nacionalistas moderados do Partido Nacionalista Basco (PNV) e o mesmo veio a acontecer. O PNV elegeu 29 deputados (em 75), mais 2 do que em 2012. Em segundo lugar ficou a coligação EH Bildu (composta por vários partidos de esquerda e independentistas) com 17 deputados, menos 4 que os conquistados em 2012. Depois de ter vencido no País Basco as eleições legislativas de 26 de Junho, o Podemos surgiu coligado sob a designação Elkarrekin Podemos (Podemos, Ezker Anitza e Equo) e obteve 11 deputados. Como não existe histórico de participação anterior em eleições regionais, a comparação face às últimas eleições tem de ser feita recorrendo às legislativas de Junho. Sendo assim, o Podemos perdeu 177 mil votos no País Basco. Enquanto isso, o PSE-EE (socialistas bascos; designação pela qual concorre o PSOE nas eleições no País Basco) elegeu 9 deputados quando em 2012 tinha eleito 16 deputados. Foi a força política mais penalizada pelos eleitores bascos. O PP ficou-se pela quinta posição também com 9 deputados – perdeu 1 relativamente às eleições de 2012 – e menos 17 mil votos que o PSOE. A abstenção foi de 37.74%. em 2012 foi de 34.17%

A vitória de Núñez Feijóo consagra-o como politicamente e dá ânimo a Mariano Rajoy que luta para reabilitar a sua imagem junto do eleitorado espanhol, capitalizando para si a vitória do PP galego. Resta saber se os processos judiciais em curso contra dirigentes do PP, alegadamente envolvidos em casos de corrupção, irão estragar o plano de Rajoy para ampliar o seu eleitorado.

A situação dos socialistas na Galiza é terrível para o PSOE espanhol. Sem militância activa por parte dos seus membros e ultrapassado em número de votos pela coligação En Marea. No País Basco a situação não é muito diferente. Desde 2009 que o PSOE tem visto grande parte do seu eleitorado fugir para o EH Bildu.

Todos estes factos mostram a crise que o PSOE atravessa. Pode-se falar numa «pasokização» do PSOE? Este é um desafio que Pedro Sánchez tem pela frente: estancar a perda de eleitorado para partidos à sua esquerda. E se o PSOE perde eleitores para partidos à sua esquerda, não consegue atrair eleitores vindos do centro.

Por sua vez, a situação do Podemos é diferente. Pablo Iglesias, o seu líder, elogiou a ascensão do partido na Galiza e no País Basco. Utilizando o Twitter, afirmou que a coligação galega En Marea se tinha transformado na «primeira força da oposição» naquela região espanhola, ao passo que no País Basco o Podemos é «a primeira força de âmbito estatal», atrás do PNV e do EH Bildu, mas à frente dos socialistas e dos populares. Pode-se dizer que muita da comunicação realizada pelo Podemos gira em torno do fim do bipartidarismo espanhol e tem cativado eleitores descontentes com os partidos mais «tradicionais».

Espanha já teve duas eleições gerais e vai a caminho de uma terceira no espaço de 1 ano. Se a situação não for debloqueada até 31 de outubro próximo, o rei Felipe VI terá de dissolver o parlamento nacional e convocar novas eleições.

Perante os resultados na Galiza e no País Basco, o PSOE vê a sua posição enfraquecida junto do eleitorado e dos dirigentes de outros partidos, incluindo aqueles com quem, hipoteticamente, poderia coligar-se. Agora, Pedro Sánchez, pede ao partido umas eleições primárias para obter um voto de confiança junto dos seus militantes e apoiantes. Tal acto eleitoral deverá ocorrer dia 23 de Outubro mas antes terá que ser aprovada pela direcção socialista numa reunião a ter lugar no próximo sábado.

Sánchez esta muito desgastado junto dos líderes regionais que veriam com bons olhos uma mudança na direcção do PSOE. Pela primeira vez, assume que a sua liderança é questionada no seio do partido e que existem diferenças entre os militantes sobre qual o projecto político que deve ser apresentado pelo PSOE. Contudo, o tempo que vai de 23 a 31 de Outubro é curto para que Sánchez consiga encontrar parceiros para oferecer uma alternativa de governo a Espanha.

Os espanhóis anseiam por um governo e o PSOE, caso persista na sua posição, poderá pagar caro a sua teimosia ao opor-se a um governo do PP, ou liderado pelos populares. Após as eleições de Dezembro de 2015 era natural que o PSOE procurasse uma solução «à portuguesa», isto é, mesmo perdendo as eleições poderia encontrar parceiros políticos que viabilizassem o seu governo. Contudo isso não se verificou. A mesma situação foi criada no escrutínio de Junho deste ano. O PSOE não vence as eleições nem consegue arranjar apoio parlamentar junto de outras forças partidárias. Sánchez faz lembrar um menino mimado que só brinca com os outros se puder escolher o brinquedo que quiser. Parece-me difícil, para não dizer impossível que Sánchez consiga uma solução até 31 de Outubro e só lhe restará abster-se quando um governo liderado pelo PP, mais que provável vencedor de umas novas eleições, for sujeito a aprovação no parlamento espanhol. Caso contrário, poderá ser o fim da sua liderança. O PSOE não ganha as eleições, não forma governo com o PP e não consegue coligar-se com outros partidos políticos para viabilizarem um governo socialista. Sánchez ainda não percebeu que a sua teimosia fará com que cada vez mais socialistas espanhóis passem a votar Podemos, entrando o PSOE num caminho idêntico ao do grego PASOK que foi «devorado» pelo Syriza. É preciso saber perder e por os interesses do país à frente dos interesses partidários e Pedro Sánchez, com toda a sua arrogância e vaidade, não o sabe fazer.

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