quinta-feira, 15 de setembro de 2016

EDUCAÇÃO: O GRANDE SALTO ATRÁS

PAULO GUINOTE
À medida que a preparação do ano lectivo avança e vou tendo conhecimento do que se passa em diversas escolas pelo país vou avolumando a sensação de que se está a passar um sensível retrocesso – ou não progresso – na forma de conceber o trabalho nas escolas e, em especial, o trabalho pedagógico diário com os alunos, tudo em nome de um “sucesso” que se quer alcançado à boa e velha moda das teorias em voga nas profissionalizações dos anos 90 do século passado.

Não escrevo do que desconheço, pois a maioria dos meus colegas de curso frequentou os Ramos de Formação Educacional criados nas Universidades ali por 1987 e que eu fui acompanhando de forma mais ou menos indirecta até eu ter feito a minha profissionalização (em serviço) em 1999-2000. Esses 15-20 anos desde a entrada em funcionamento em plenos das ESE até à constatação (embora não por todos) do esgotamento do modelo dominante em alguns sectores das Ciências da Educação nacionais foram de total domínio de um conjunto de teorias herdadas directamente das teorias pedagógicas emancipatórias dos anos 60 e 70 que nem sempre (quase nunca?) conseguiram acompanhar a mudança dos tempos ou sequer incorporar alguns dos contributos menos arcaicos com essa mesma ascendência (quando se lêem actualmente certas discussões em torno dos manuais escolares percebe-se até que ponto Michael Apple não foi lido ou percebido há 20 anos).

Quando se toma conhecimento concreto dos “planos para o sucesso”, feitos de acordo com uma cartilha que deveria ser ultrapassada, concebidos assim como única forma de conseguir mais recursos para as escolas, à custa de um regresso a um admirável mundo velho em que os mentores de agora se sentiram novos, sente-se um natural desânimo pela regressão imposta de forma generalizada ao nosso sistema educativo, teoricamente sob admiráveis princípios, mas na prática significando uma estagnação deprimente da forma de pensar a própria Escola Pública que tantos afirmam defender se for apenas a “sua” ou aquela que concebem como a única virtuosa, sendo que tantas vezes se afirmam pretensões inclusivas com modelos pensados para elites e completamente desfasados da realidade da escola de massas em que vivemos.

E deprime ainda mais ver um rosto jovem a cobrir tudo isto, como se fosse um precoce envelhecido, quiçá verdascado até se tornar crente verdadeiro. E há quem aplauda em nome da situação que tem de ser.

Não somos cegos conduzidos por cegos, mas os cegos que nos conduzem querem-nos cegos como eles. Caladinhos e sem memória. Como que lobotomizados. Anestesiados. Em nome do “direito ao sucesso” que tanto alimentou a clientela do IIE que parece ter voltado em força, desempoeirando as bibliografias que só não estavam engavetadas porque são desempoeiradas e requentadas a cada nova “formação”.



A todo este respeito, confesso-me nãostálgico.

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