MÁRCIA PINTO |
Nem sempre o que a legislação prevê acontece no dia-a-dia. O desafio da educação inclusiva vai além de colocar crianças, adolescentes e adultos dentro da rede escolar; ela envolve também a garantia de condições adequadas para a aprendizagem. Mas será que o sistema público, que já enfrenta tantas dificuldades, está pronto para a educação inclusiva?
Na escola inclusiva professores e alunos aprendem uma lição que a vida dificilmente ensina: respeitar as diferenças. Esse é o primeiro passo para construir uma sociedade mais justa e verdadeiramente inclusiva.
Mas o que é realmente a inclusão?
É a nossa capacidade de entender e reconhecer o outro e, assim, ter o privilégio de conviver e compartilhar com pessoas diferentes de nós. A educação inclusiva acolhe todas as pessoas, sem exceção. É para o estudante com deficiência física, mental, para os sobredotados, para todas as minorias e para a criança que é discriminada por qualquer outro motivo. A inclusão é estar com, é interagir com o outro.
A inclusão traz benefícios não só para o estudante mas também para os alunos e professores.
Assim, a escola tem que ser o reflexo da vida do lado de fora. O grande ganho, para todos, é viver a experiência da diferença. Se os estudantes não passam por isso na infância, mais tarde terão muita dificuldade em ultrapassar os preconceitos. A inclusão possibilita aos que são discriminados pela deficiência, pela classe social ou pela cor que, por direito, ocupem o seu espaço na sociedade. Se isso não ocorrer, essas pessoas serão sempre dependentes e terão uma vida social incompleta. Nós não podemos ter um lugar no mundo sem considerar o do outro, valorizando o que ele é e o que ele pode ser. Além disso, para os professores, o maior ganho está em garantir a todos o direito à educação.
O que precisa a escola para ser verdadeiramente inclusiva?
Em primeiro lugar, um bom projeto pedagógico, que começa pela reflexão. Apesar do que muitos possam pensar, inclusão é mais do que ter rampas e casas de banho adaptadas. A equipa multidisciplinar da escola inclusiva deve discutir o motivo de tanta repetência e indisciplina, de os professores não conseguirem obter os resultados desejados e de os pais não participarem. Um bom projeto valoriza a cultura, a história e as experiências anteriores da turma. As práticas pedagógicas também precisam ser revistas. Como é que as atividades são selecionadas e planeadas para que todos aprendam? Atualmente, muitas escolas diversificam o programa, mas esperam que no final todos tenham os mesmos resultados. Os alunos precisam de liberdade para aprender com o seu ritmo, de acordo com as suas condições. E isso deveria ser válido para os estudantes com deficiência ou não.
A escola precisa se adaptar para a inclusão?
Além de fazer adaptações físicas, a escola precisa oferecer atendimento educacional especializado paralelamente às aulas regulares, de preferência no mesmo local. Assim, uma criança cega, por exemplo, assiste às aulas com os colegas que vêm e, noutro horário, treina a mobilidade, locomoção, uso da linguagem braile. Tudo isso ajuda na sua integração dentro e fora da escola.
No entanto, palavras bonitas e sonhos sem ações, não mudam nada. Por isso, é necessário impulsionar essa mudança, é preciso conhecer a lei, que garante a todos os portadores de necessidades educacionais especiais uma educação de qualidade. É pertinente assegura uma escola que se adapta aos alunos, que conheça quais são os seus anseios e necessidades, para que eles estejam preparados para a vida, para que os seus conhecimentos adquiridos na escola não sejam desperdiçados, mas sim eficazes para sua realidade existencial.
Assim, o assunto é fundamental, para ser discutido por todas as pessoas envolvidas com a educação, e que procuram uma sociedade com menos desigualdade social, oportunidades para todos, uma educação que dê prioridade ao ser e não ter e uma realidade igualitária. A inclusão é acima de tudo a transformação da prática pedagógica de todos os profissionais de educação.
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