J, PEREIRA RAMOS E SUSANA FARIA |
Há cerca de 8 dias estava a passear na via pública quando repentinamente alguém se estatelou no chão.
Logo se juntaram dezenas de pessoas para ajudar a pessoa que tinha caído e que estava a contorcer-se, debatendo-se e a espumar pela boca. Tinha os olhos semicerrados e observou-se que
estava a urinar.
Cheguei-me ao doente, um homem de cerca de 30 anos de idade, e percebi imediatamente que estava perante uma crise epiléptica.
Mas o que é epilepsia?
É um dos distúrbios neurológicos mais comuns. Muitas vezes é a única manifestação de uma doença de outra forma inaparente, mas que persiste por toda a vida e requer assistência médica periódica. Em muitos casos, as convulsões complicam doenças clínicas e neurológicas concomitantes ou lesões cerebrais.
É de facto uma doença conhecida há vários séculos. Já a escolha dos escravos no antigo Egipto para trabalharem para os faraós eram testados com uma roda de carro de bois. (Os escravos deitavam-se no chão debaixo de um sol abrasador junto ao rio Nilo e uma roda de carro de bois suspensa por cima das suas cabeças a rodar durante cerca de 30 minutos. Ao fim desse tempo os escravos com os olhos abertos e que se levantassem podiam ir trabalhar para as pirâmides. Os que não conseguissem é porque tinham tido uma crise de “doença má”, termo que era dado a doença dos escravos com epilepsia não serviam e eram dados para comida aos crocodilos do faraó.
De facto o termo epilepsia refere-se a um grupo de distúrbios do Sistema nervoso central – SNC, que é caracterizado por episódios recorrentes de convulsões ao longo do tempo devido a um processo crónico subjacente. Uma pessoa com uma convulsão isolada ou recorrente por circunstâncias corrigíveis ou evitáveis não tem necessariamente epilepsia.
As convulsões são episódios curtos de sintomas que ocorrem quando se dão descargas eléctricas anormais no cérebro. Com base na causa e na região de origem dessa descarga, as convulsões podem apresentar sintomas distintos e ser diferenciadas em diversos tipos. Geralmente as convulsões são referidas como ataques ou crises. A epilepsia não é contagiosa nem uma doença ou atraso mental.
Pode desenvolver-se em qualquer idade, mas normalmente inicia-se na infância e na idade adulta.
Normalmente as convulsões duram cerca alguns segundos até há alguns minutos. Uma convulsão que dure mais tempo é chamada de grande mal epiléptico, é considerada uma emergência médica e é geralmente semelhante ao tipo de convulsões supracitado. Um tipo diferente de convulsão também pode ocorrer, pode ser precedidas por uma aura (sensação de que as convulsões estão prestes a acontecer), tal como sensação de formigueiro, a percepção de um odor estranho, ou alterações emocionais.
Há alguns critérios que permitem distinguir se estamos mesmo perante uma crise epiléptica ou de uma pseudo crise epiléptica, isto é, uma crise histérica. Na crise epiléptica do adulto há quase sempre aura , o doente fica com a face cianosada (roxa), quase sempre morde a língua, urina e mais raramente defeca.
Magoa-se na queda e apresenta cefaleia intensa (dores de cabeça fortes após a crise). Fica confuso não se recordando muito bem o que lhe aconteceu.
Há alguns fatores que os especialistas em neurologia apontam para a precipitação das crises de epilepsia nos adultos:
- Excesso de álcool e ou sua privação em doentes com alcoolismo cronico
- Fadiga física e psíquica intensa
- Luzes cintilantes emitidas em discotecas, nos computadores e nos
televisores.
- Infecções e Acidentes vasculares cerebrais- AVC.
- Privação do sono
Nas crianças as causas de epilepsia, são doenças como a toxoplasmose, rubéola, meningite, hipoglicemia (baixa de açúcar no sangue) hipocalcemia (falta de cálcio) e ainda alterações de desidratação e ou excesso ou falta de potássio no sangue.
Também a febre pode ocasionar convulsão febril (a mais frequente) que na maior parte dos casos deve-se ao descuido dos pais que agasalham demasiadamente a criança com febre, mas não se trata de uma verdadeira epilepsia.
A hidrocefalia, microcefalia, traumatismos durante o parto e pós parto na cabeça das crianças também podem ocasionar crises convulsivas.
As falsas crises epilépticas ou pseudo epilépticas não são verdadeiras crises. Elas são observáveis na maioria dos casos em mulheres histéricas e pacientes de ambos os sexos que estão simulando uma doença (neurose de compensação). Alguns pacientes com epilepsia verdadeira também podem ter pseudoconvulsões, dificultando ainda mais o diagnostico correto.
Abalos totalmente assincronicos dos membros, movimentos laterais repetidos com a cabeça, morder as mãos, chutar e tremer, impulsos pélvicos e posturas arqueadas em opistótono, gritos e conversas durante o episódio indicam que a convulsão é histérica, embora nenhuma dessas manifestações seja especifica.
Vários exames podem ser solicitados para esclarecer uma eventual
epilepsia tais como:
Electroencefalograma (EEG) Tomografia axial computorizada (TAC) e a
Ressonância magnética (RMN) são estes os exames mais frequentes
solicitados
Se testemunhar uma crise convulsiva generalizada, com queda e abalos musculares generalizados:
1. Permaneça calmo e vá controlando a duração da crise, olhando periodicamente para o relógio
2. Coloque uma toalha ou um casaco dobrado debaixo da cabeça da pessoa
3. Quando os abalos (convulsões) pararem coloque a pessoa na posição lateral de segurança
4. Permaneça com a pessoa até que recupere os sentidos e respire normalmente
5. Se a crise dura mais do que 5 minutos, chame uma ambulância
NÃO introduza qualquer objecto na boca nem tente puxar a língua (a teoria de que as pessoas podem "enrolar a língua" e asfixiar não tem fundamento), NÃO tente forçar a pessoa a ficar quieta e NÃO lhe dê de beber.
Num doente que nunca teve nenhuma crise epiléptica ou falsa crise epiléptica, deve consultar o seu médico de família o mais rapidamente possível para estudar a causa ou causas do aparecimento destes sinais e sintomas.
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