MARGARIDA TEIXEIRA |
Desde crianças, são vários os sonhos que percorrem a nossa mente, diversas as influências e múltiplas as tomadas de decisões. Podemos até afirmar que prematuramente somos sujeitos a escolher o nosso futuro quando, por vezes, não temos ainda consciência do que isso implica ou a ideia concreta do que queremos ser quando “formos grandes”. Contudo, à medida que o tempo passa, começamos a definir aquilo que mais se enquadra connosco e a excluir as opções que, por diversas razões, não são as mais viáveis.
Eu, tal como todas as crianças, também passei por diversas fases onde tinha ideias distantes das atuais. Já quis ter várias profissões, mas há muito tempo que apenas uma permanece no topo dos meus sonhos e objetivos, ser médica. Ao contrário de alguns estudantes que são pressionados pelos pais a escolher certos cursos pelo prestígio, pelo futuro salario ou por tradição familiar, os motivos que me moveram foram totalmente genuínos e despromovidos de qualquer futura recompensa monetária ou estatuto social.
Vindo de uma família honesta e lutadora, sempre aprendi a lutar pelos meus sonhos, independentemente de quais fossem, pois mais vale viver realizada e feliz com o meu trabalho, do que recheada de remorsos por não ter optado por aquilo que era realmente a minha paixão. E assim foi, o meu gosto pelas ciências aliado à gigantesca vontade de querer ajudar as pessoas, culminou no grande objetivo que tenho tentado alcançar.
A escalada não é fácil, sem duvida que é necessário muita garra e vontade para não desistir quando os resultados não demostram o nosso esforço, ou quando o cansaço nos assombra. Para trás, ficam milhares de horas de estudo, fins-de-semana passados em casa a estudar das 8 às 22/23 horas, vários obstáculos, muitos testes, momentos de ansiedade, incerteza, receio…já para não mencionar o exaustivo estudo para os exames, as noites mal dormidas e os pensamentos pessimistas que a todo o momento nos tentam agarrar e desmotivar. A pressão causada por todos estes factores e a incerteza futura tornam-se, sem dúvida, na mais temerosa sombra que nos persegue constantemente.
E na verdade, tudo se resume a números. Pouco importa se gostamos realmente do que escolhemos, o que conta são apenas os valores e décimas que esse curso implica, e se temos a capacidade de ao fim de 3 anos, o alcançar. Aproveito esta afirmação para criticar a forma como os alunos são selecionados, já que é bastante redutor valorizar apenas a avaliação quantitativa. Um aluno e as suas capacidades valem mais que um número, e duas horas de exame, embora extremamente decisivas, nem sempre expressam o esforço e a paixão do estudante. Um 20 não fará de nós um bom profissional, e um 10 não demostra a incapacidade de um jovem. E a vocação? Qual é o seu papel? É realmente lamentável que o passado glorioso do nosso país não sirva de exemplo para a criação de um futuro igualmente brilhante, tal como Camões e Pessoa desejavam, para o qual é necessário agir e mudar certos aspectos, tal como este.
E passados os momentos de exame, somos milhares à espera do derradeiro momento em que veremos escrito numa folha “colocado” ou “não colocado”, o momento da verdade. Para muitos, o maior pesadelo, para outros o sonho no horizonte. É o instante em que todos se questionam se valeu a pena. E como o nosso amigo Pessoa em tempos afirmou, “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”. O mais importante é não desistir. Se não foi desta vez então teremos de continuar a lutar porque a ambição supera qualquer adversidade.
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