JOANA BENZINHO |
A Guiné-Bissau, limitada a oeste pelo Atlântico, a norte e pelo Senegal e a Leste e Sul pela Guiné Conacri, é um país da África Ocidental que conta com um magnífico arquipélago constituído por cerca de 90 ilhas e ilhéus , os Bijagós, um tesouro ainda escondido do turismo de massas e dos circuitos internacionais.
Mas na sua costa continental também podemos encontrar pequenos paraísos perdidos, como a praia de Varela.
Perdida entre uma extensa paisagem de cibes na fronteira com o Senegal, fica esta praia, detentora de um extenso areal completamente selvagem bordado de palmeiras que quase vão beber ao mar.
Chegar aqui não é fácil. Aliás talvez seja este o encanto da Guiné, as permanentes dificuldades que se apresentam a quem quer explorar os seus tesouros naturais, tornam a chegada a qualquer um destes locais muito mais empolgante.
Varela, encontra-se em terra de Felupes de Casamansa e está separada do Senegal por um pequeno canal de água mas na realidade fica longe de tudo e de todos. Até ao Senegal, entre picadas acidentadas e uma travessia de piroga para um porto improvisado, pelo menos uma hora e meia de viagem com passagem num posto fronteiriço militar nem sempre receptivo a turistas. De Bissau, a capital, até Varela nunca contar com menos de 4 horas de estrada. Uma viagem de 122 km em alcatrão, que se faz muito bem exigindo-se apenas atenção redobrada para se desviar dos buracos, patos, porcos, cabras, galinhas ou vacas que se passeiam pela estrada, precede 53km de picada, entre São Domingos e Varela. Este percurso pode
fazer-se em duas horas, por vezes mais, quando os buracos ou a água tomam conta da estrada de terra e areia, ou por vezes menos, quando remetemos para segundo plano o amor ao carro.
A vegetação envolve-nos desde o primeiro minuto da picada e durante todo o percurso com alguns macacos ou esquilos a atravessar-nos o caminho aqui e ali. De quando em vez crianças correm a par com o carro a pedir canetas ou tabuadas.
Varela borda a estrada que termina num pequeno desfiladeiro sobre o Atlântico, ao lado de uma ruína que foi em tempos idos um hotel de charme. Dele apenas nos resta imaginar como seria inesquecível ver o magnífico por do sol de África na sua esplanada sobranceira ao oceano.
A praia de Varela, com as suas águas quentes e o branco das areias, por vezes interrompido pela presença das vacas que ali apanham sol ou dos javalis que se vão banhar no leve rebentar das ondas, transporta-nos para um outro tempo e espaço onde o silêncio apenas é interrompido por uma ave ou outra que por ali procuram peixe nos seus elegantes voos a pique.
Este extenso areal de Varela encontra-se a determinada altura ladeado num dos lados pelo sal do atlântico e pelo doce de uma
Lagoa do outro lado. E aqui a explosão de cantos e das cores das aves impõe-nos um silencio contemplativo involuntário. Entre flamingos, pelicanos e outras tantas aves, uma paisagem de nenúfares e de todo um
ecossistema a funcionar no seu pleno mostra-nos como Varela esconde um tesouro natural que se impõe preservar. Preservar da exploração das areias pesadas que ali se tem feito e que tem matado peixes, destruído bolanhas e a paisagem. Preservar da erosão costeira que tem vindo a roubar metros e metros de costa ao longo das ultimas décadas. Preservar da pesca intensiva de lagosta e pescado pelos vizinhos senegaleses. Preservar de um potencial turismo sem regras que pode vir a destruir esta praia de beleza rara.
Porque, já o devíamos ter aprendido com os erros que cometemos repetidamente pelo mundo, que não há segundas oportunidades para preservar natureza primárias destruídas pela mão do homem.
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