RITA TEIXEIRA |
Na tapeçaria da vida, ao longo dos anos, vamos tecendo uma manta de retalhos retirados da arca dos sentimentos. Se todos estendermos as nossas mantas, veremos uma planície multicolor, na qual abundarão as cores alegres do amor, da amizade, da esperança, da felicidade e um ou outro retalho mais sombrio de dor, de desânimo e de abandono. A minha manta sempre foi muito colorida, mas nestes últimos anos, as cores sombrias foram-se sobrepondo às mais alegres, quando familiares e amigos me foram abandonando e as lágrimas que eu derramava sobre a manta, enfraqueciam os fios dos afetos que ligavam as cores do amor.
Ao longo desta doença, na procura da fé em Deus, pensando que não a tinha, fui descobrindo que a fé em Deus, não significava que tivesse que forçosamente ir à missa dominical nem assistir às cerimónias religiosas. A fé em Deus é muito mais profunda. Essa fé insinuou- se lentamente na minha vida e, para surpresa minha, ela entrou, sem bater à porta e sem pedir licença foi direitinha até ao meu coração e acomodou- se confortavelmente. Dali, assistiu a muitos momentos de completa revolta, de tristeza profunda, de muita angústia, de uma solidão vasta e imensa, de carência afetiva assim como se alegrou ao escutar as gargalhadas frenéticas,assistir alguns momentos de alegria e euforia, de vibrar com pequenos e intensos momentos de felicidade, de um regresso à infância com as brincadeiras da rua. Eu aprendi imenso com as vissicitudes da minha existência. Assim, peguei num saquinho lindo dos sentimentos, enfiei lá dentro, todos os meus arrependimentos e atei com o cordão dos agradecimentos. Guardei num cantinho do coração, à beira da esperança e dos sonhos. Sou uma sonhadora e luto para concretizar e tornar real o inimaginável.
Sonho e volto a sonhar. Sonho com almas autênticas e verdadeiras. Sonho com a felicidade e a paz na minha alma. Sonho que a amizade com interesse me deixe em paz e que quem nada tem para oferecer, entre e permaneça na minha alma! À minha doença chamo a doença dos afetos.
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