FERNANDO COUTO RIBEIRO |
Todos sabemos como ser felizes, mas ignoramos a nossa voz pela voz de outros e conseguimos, dessa maneira, justificar a nossa infelicidade. Justificar a infelicidade é meia felicidade, uma versão leve que nos permite sobreviver. Sim, sobreviver. Porque ser feliz pode matar.
A primeira coisa que todos sabemos é que ser feliz é particular. Não são os outros que nos dão felicidade, somos nós que partilhamos a nossa felicidade com os outros quando a temos para partilhar.
A segunda coisa que todos sabemos é que ser feliz é uma decisão. Temos que nos enfrentar em campo aberto, guerrear de peito exposto e aguentar a pele rasgada de golpes que nos infligimos na procura daquilo que somos, na busca daquilo que queremos, que depois haverá de sustentar as nossas opções no caminho de nós.
A terceira coisa que todos sabemos é que ser feliz é um caminho. Não há lugar nenhum onde possamos chegar, puxar uma cadeira e estender as pernas para, com um copo na mão, observar o nosso estado de felicidade. É preciso caminhar, um passo de cada vez; aguentar posição, um passo de cada vez; observar o tempo, um passo de cada vez; ver e fazer estrada, um passo de cada vez.
A quarta coisa que todos sabemos é que ser feliz faz parte da serenidade. O nosso entendimento não alcança o universo inteiro, haverá sempre lugares que não sabemos, que não dominamos e que temos de aceitar como fazendo parte das circunstâncias, apesar da nossa vontade e para lá da nossa influência e para lá da nossa existência.
A quinta coisa que todos sabemos é que ser feliz também é ser infeliz. Há uma necessidade de enfrentar o sofrimento da nossa existência e querer continuar para lá da consciência desse conhecimento. Deixar que o amor – sim, será sempre o amor – transforme lágrimas em riso e invente actos sistemáticos de bondade em forma de viver viajante no meio das nossas vidas.
Vivemos num mundo em que existe muita gente – muita gente mesmo – que não pode ser feliz porque a miséria material e existencial que os rodeia é tão brutalmente pesada que não há mais nada para fazer para lá de sobreviver e que, apenas sobrevivendo, são misteriosamente felizes.
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