CARLA SOUSA |
Lembro-me de me perguntar: “Quem é aquela?“, quando te vi entrar em casa pelos braços da mãe.
Antes já tinha entrado em pânico porque o pai e a mãe tinham desaparecido. E de repente entraram em casa contigo.
Eras pequenina, frágil e não me deixavam pegar-te ao colo.
Cedo iniciamos uma relação, escolhi-te o nome, e amei-te.
Cresceste rápido! Brincamos muito com barbies e chateámo-nos por diversas vezes porque não me deixavas pegar nos teus brinquedos. Fazias birras e na maioria das vezes vencias e eu ficava calada. Criamos histórias de faz de conta intermináveis. Fizemos dramas sobretudo quando tínhamos que dividir a mesma cama. Desde cedo percebemos que eramos diferentes mas que havia algo inexplicável que nos unia e fazia com que não fosse possível sentir o sentimento de solidão.
Passado algum tempo a mãe apareceu com outra irmã nos braços e aí partilhámos o cuidado e o amor para com outra pessoa.
Escolhemos o nome, brincamos com ela e fizemos dela muitas vezes o nosso nenuco. Discutíamos porque eu era crescida e podia pegar nela ao colo e tu, mais pequena, nem por isso.
A família cresceu. Nós crescemos. E também lhe demos a conhecer a nossa vasta coleção de barbies.
Lembro-me da mãe nos vestir de igual e de ficarmos chateadas com isso. Mas hoje quando vemos as fotos desatamos às gargalhadas.
A mais nova foi-nos imitando. Ainda bem que nos imitou mais nas coisas boas e que ela gostava!
Hoje somos diferentes e temos personalidades completamente diferentes mas, apesar de todos os conflitos, estamos juntas.
Somos três irmãs bastante próximas e é evidente a ternura que sentimos umas pelas outras.
Ter um irmão é ter uma relação que é para a vida.
A relação é de emoções fortes, desinibidas, negativas e ambivalentes.
Esta relação define-se pela intimidade que começa na maioria das vezes pelas brincadeiras de conhecimento e faz de conta.
Ter um irmão é ter uma história longa de brincadeiras de faz de conta, de compreensão, de rivalidades, conflitos, ciúmes e de situações de afastamento e aproximação.
Ser irmão é uma ter a oportunidade de ter uma relação calorosa de afeto, intimidade e alguns conflitos à mistura.
A relação com os irmãos na infância ajuda-nos na preparação para relações e outros papéis futuros.
É verdade que muitos irmãos são verdadeiros amigos e é verdade que noutras fases da nossa vida os possamos sentir como estranhos. Isto pode acontecer devido ao facto de cada um como ser individual ir experienciando fora desta relação outras vivências, com amigos, na escola, no trabalho.
É comum haver uma aproximação quando estão a passar por situações semelhantes nas diversas esferas da vida, ter um namorado, ter um trabalho, casar, ter filhos.
Quem tem a oportunidade de ter um irmão sabe que viveu comportamentos positivos e negativos, cumplicidades, ciúmes, inveja, rivalidade e competição.
O ciúme entre irmãos moralmente pode ser visto como algo condenável mas que pode estar presente sobretudo quando chega um novo irmão.
Diz-se que o ciúme é feio, os pais, muitas vezes e outros familiares dizem isso à criança. Não é benéfico para a criança ouvir isto. Tentam até explicar-lhe que quem aí vem é um irmão que vem para brincar, ser o melhor amigo.
No entanto, o ciúme manifesta-se, e é normal que a criança estranhe a presença de um novo elemento na sua família.
Pode, inclusive, sentir alguma intolerância em relação ao irmão, voltar-se contra ele, contra os pais, ou então deslocar esta agressividade para o meio envolvente.
Pode haver também uma regressão, com comportamentos mais infantilizados, medos e algumas dificuldades de adaptação que antes não existiam, voltar a fazer xixi na cama, linguagem mais infantilizada…
Pode haver também comportamentos de oposição em relação aos pais com a intenção de atrair a sua atenção. Começam a surgir queixas dos professores porque o comportamento é negativo, porque está mais inquieto ou com dificuldades de aprendizagem.
Por outro lado, uma maneira de reagir passivamente é ficar calado, apático, preguiçoso.
Tudo isto pode e deve ser identificado para que estes sentimentos novos possam ser canalizados e trabalhados de forma adequada.
Os pais devem identificar e valorizar as características positivas de cada um dos filhos. Deve-se sempre valorizar e não comparar. É comum os pais compararem os filhos e, muitas vezes, em vez de ser estimulada uma relação saudável e afetuosa, é criado um distanciamento.
Os filhos são diferentes mas podem construir uma relação íntima de irmãos com laços fortes de amor para a vida, suportando todas as diferenças.
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