CATARINA DINIS PINTO |
Apesar de todas as lágrimas e tristeza, a luz sempre irá entrar pela porta castanha, velhas, desgastada da casa de Francisca.
Depois de todos os dissabores de um dia em que não falhará na curta memória. Em que a mesma porta se abriu… uma simples e breve carta quebrava a existência. Chegava a dor. Damião seu doce amor perdia a vida nas escuras e húmidas trincheiras da podridão da guerra…9 de abril de 1918…a batalha de Lys… tudo o que existia antes findou… sem deixar madrugadas que embalavam o tempo. Sem deixar palavras que aquecessem a alma humana. Partiu fora do tempo, na desordem da humanidade, no profundo desespero de viver. É triste e escuro recordar desta dor sempre tão presente agora.
Em seu pensamento Francisca dilacera as dores de sobreviver a sua catástrofe silenciosa e amarga. Não há mais pinturas, cor, calor ou escolha que a faça ser diferente do que é agora… Restos, pó humano de um sofrimento mesquinho e tantas vezes esquecido no decorrer das décadas.
Inútil falar-lhe de esperança se apenas em seus olhos pendem lágrimas profundas que vão até aos limites do oceano de tormentas.
Amar o que se perder, um destino cruel que não se pode aceitar ou procurar não o ver e entender, A morte sempre irá ser profunda, mesquinha para o nosso simples entendimento.
Amar e morte não tem possibilidade de rimar… Eternos opostos que se aniquilam e destroem universos. Desde então a larga e longa porta acastanhada, envelhecida pelo tempo, pelos sentimentos, pela dor e que hoje cobre-se de pó é a única que sobrevive a todas as intempéries. O resto são mil histórias, mil encontros secretos entre os dois….
Dedico a todos os combatentes e famílias que ao longo das guerras, das décadas e séculos nos fizeram evoluir, lutar por algo com sentido que se chama liberdade e que até hoje diariamente em imensos pontos do mundo alguém sofre por lutar pelos seus ideais.
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