ANABELA BORGES |
Regressei à biblioteca escolar.
Como ainda esta semana alguém simpaticamente me recordou, é sempre bom podermos regressar aos sítios onde fomos felizes.
Desde o dia 1 de setembro, assumi o cargo para desempenhar funções de professora bibliotecária. É a segunda vez que sou chamada a cumprir funções na área das bibliotecas, o que, confesso, constitui motivo de um certo gaudio e maravilhamento para mim, já que se trata de um trabalho com o qual me irmano de uma forma singular e bastante simbiótica.
Partindo do conceito central de que a Biblioteca Escolar (BE) constitui um contributo essencial para o sucesso educativo, sendo um recurso fundamental para o ensino e aprendizagem, deve ser dado especial destaque ao desenvolvimento das literacias e à capacidade de aprendizagem ao longo da vida, como formas de adaptação às mudanças emergentes na sociedade actual, que todos esperam ser para melhor.
A Biblioteca Escolar ergue-se como um espaço social, um local onde convivem pessoas de diferentes graus académicos, pertencentes a uma variada tipologia de profissionais, faixas etárias, níveis económicos e sociais, diversas escolaridades, além dos segmentos da comunidade escolar em geral (famílias, autarquia, parcerias…).
Nesse sentido, a sua organização e funcionamento devem seguir as técnicas e tecnologias adequadas, tratando-se um espaço onde se trabalha a formação de hábitos de trabalho e a regulação de atitudes, o que, como acima refiro, contribui para a manutenção da aprendizagem ao longo da vida.
Frequentar a Biblioteca Escolar, ou, pelo menos, ter acesso aos seus serviços, é um processo que se deve formalizar desde a idade pré-escolar do ensino, estendendo-se forçosamente aos diferentes níveis de escolaridade.
O professor bibliotecário deve ser alguém com experiência profunda sobre a forma como as pessoas aprendem, alguém que constantemente reflecte sobre a sua prática e encontra formas de a melhorar. Ao verificarem que o professor bibliotecário pode ter acesso à informação, processá-la e disponibilizá-la, e até, de uma forma crítica, transformá-la em conhecimento, vai-se verificando uma gradual mudança de mentalidade por parte dos utilizadores das bibliotecas e da sociedade em geral.
Na verdade, o professor bibliotecário não pode ser visto como um mero funcionário da BE, mas, antes, na linha de visão de Ross Todd, como um “especialista em aprendizagem”, predisposto a dar o seu melhor, a evoluir na sua formação e a poder contribuir seriamente para o sucesso escolar dos alunos, ajudando-os a superar as suas dificuldades, intervindo nos diferentes grupos disciplinares e criando mais e novos recursos que possam ser proveitosamente utilizados no contexto de sala de aula. Na mesma linha, Ross reforça a importância do professor bibliotecário, afirmando que quando este e os outros professores trabalham em conjunto, os alunos acabam por atingir “altos níveis de literacia, de leitura, de aprendizagem, de resolução de problemas e competências de informação e comunicação.”
Tudo isto é bonito de se ouvir, mas não pode ficar só no papel.
A BE deve contribuir para a efectiva construção do conhecimento e melhoria do sucesso escolar. E isso apenas se consegue com trabalho diário, aturado e persistente, porque o trabalho da biblioteca é infindável. Mas tal como toda a ESCOLA vive também mergulhada em papéis, que não livros; documentação, que não hi(es)tórias; papelada, que não o desfiar das páginas do mundo do conhecimento; parafernálias de papelagem; pragas de papéis impostas pela Rede de Bibliotecas Escolares, sob a tutela do Ministério da Educação.
Cada vez mais, a BE tem que ser vista como um espaço de conhecimento e não como um depósito de informação, pois não basta tê-la (a informação), é mesmo necessário aprender a transformá-la em conhecimento. É neste sentido que a BE forma, diariamente, utilizadores, para que saibam aproveitar de modo inteligente e rentável a informação disponível.
A BE é um espaço privilegiado para os utilizadores tirarem o máximo partido num sentido construtivo, proporcionando-lhes excelentes condições para se tornarem autónomos e independentes.
O papel transformativo da BE consiste num processo que visa formar os utilizadores para as diferentes literacias. Para que isso seja possível, é necessário determinar as necessidades de (in)formação dos alunos, encontrar formas de resolver problemas, levá-los a ler por prazer e a utilizar eticamente e de forma eficaz as informações e as ideias disponíveis.
Encontros com escritores, dramatizações, recitais e olimpíadas de leitura são apenas algumas das actividades que a BE deve dinamizar, para fazer desfilar palavras, personagens, livros, autores, declamadores, poetas, actores, enfim… Fazer um tempo de magia, viagem e aventura, leituras que nos transportem no tempo e no espaço, de acordo com a sensibilidade de leitores e ouvintes.
É indiscutível que os ambientes digitais constituem um potencial muito vasto de trabalho e de lazer. É também indiscutível o impacto que o paradigma digital tem na BE, nas práticas e na forma como gerimos e processamos a informação.
Como refere Ross Todd, é preciso transformar a informação disponível na BE em conhecimento efectivo; nessa altura, estaremos, sem dúvida, a contribuir para o sucesso escolar dos alunos.
Parafraseando a Dr.ª Teresa Calçada, que foi coordenadora da RBE, “o professor bibliotecário é o agente que representa o lugar, por excelência, onde estão os melhores recursos de informação de toda uma escola, sejam eles analógicos, digitais, multimédia.”
Encara-se, assim, o professor bibliotecário como um gestor de informação, que tem como objectivo principal formar leitores em todas as literacias. Vamos ao trabalho!
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