TIAGO CORAIS |
Na passada quarta-feira, comemoramos os 106 anos da nossa querida República e por isso, este será o tema da minha estreia na BIRD Magazine. A República, do latim RES PUBLICA, "coisa pública", nasce nos seus primórdios das três forças reunidas: LIBERDADE ao Povo, sabedoria e COMPETÊNCIA dos seus Governates/Representantes reconhecida pelo Povo e IGUALDADE de tratamento para todos na JUSTIÇA. Ou seja, desde os seus primórdios a REPÚBLICA está centrada nos CIDADÃOS e para os CIDADÃOS, assente em três pilares: a LIBERDADE, a DEMOCRACIA e a JUSTIÇA.
A Revolução Francesa, amplia o ideal Republicano sustentado no tripé: "Liberdade, Igualdade e Fraternidade". O conceito FRATERNIDADE "transforma" o Homem num "animal político", que faz escolhas conscientes em sociedade, todos são iguais e devem ser tratados de forma igual, não existem hierarquias que lhes limitem ou lhes diferenciem, nem existirá descriminação quanto ao sexo, "raça", cor, origem, opções religiosas, orientação sexual. Tomos somos "irmãos" e todos temos deveres uns com os outros. Enfatiza por isso o colectivo, a dimensão da CIDADANIA e é a chave para a realização da FELICIDADE SOCIAL. A IGUALDADE decorre da FRATERNIDADE e a LIBERDADE é a consequência das duas. É este trio que dá direitos sociais, políticos e individuais.
A República Portuguesa, herdeira dos valores da Revolução Francesa, apresenta-se com a promessa de UNIR A NAÇÃO, apostar na EDUCAÇÃO, na CIÊNCIA, trazer o PROGRESSO e o BEM-ESTAR ao Povo Português. Ou seja, "inspirada" na frase de Antero de Quental: "O pensamento e a ciência são republicanos, porque o génio criador vive de liberdade e só a República pode ser verdadeiramente livre."
Muitos de nós desvalorizamos os feitos da 1ª República, mas ela teve uma agenda muito reformista para a época, não só em termos de DIREITOS SOCIAIS: o direito à greve, direito à assistência social (protecção em casos de doença e velhice), direito ao descanso semanal, mas também na EDUCAÇÃO e na CIÊNCIA, com a fundação de mais de 1.500 escolas, das Universidades do Porto e Lisboa. Ou seja, tentou lançar as pedras para que se "cumprisse" a trilogia da República, trazendo coesão social, igualdade de oportunidades, liberdade de pensamento e opinião através do conhecimento e do saber.
No entanto, também é verdade que 1ª República não cumpriu o prometido na sua plenitude, especialmente porque não conseguiu trazer a estabilidade social e democrática. A República só foi cumprida com o 25 de Abril e é importante, num momento de desânimo, quase habitual, sentido por nós duas vezes por século nos últimos 200 anos, compararmos alguns dados como estávamos e o que alcançamos. Por exemplo na educação antes da 1ª República tínhamos uma taxa de analfabetismo de 70% e hoje, não só praticamente está erradicada, como 45% da população pelo menos completa o ensino secundários (dados do site PORDATA). Segundo o estudo da OCDE "A VIDA DESDE 1820" (2014), a esperança média de um português era menor 23 anos do que um Norueguês há 100 anos e hoje é só de 2 anos. Isso deve-se claramente à criação e ao investimento no nosso Serviço Nacional de Saúde. Outro dado, que se sobressai neste estudo da OCDE é que o nosso país nos últimos 50 anos é um dos países que mais cresce, o PIB português quase que duplicou, segundo palavras de Nuno Valério, investigador do Instituto Superior da Economia e Gestão em Lisboa: <<foi dos que mais cresceu, passando de 'medianamente desenvolvido' para 'altamente desenvolvido'>> .
Estes dados demonstram que a República, foi extremamente positiva, em especial nos últimos 50 anos, mas com o "Novo Milénio", qualquer português percebe que estamos a perder terreno, a nossa dívida está maior comparativamente com o PIB do que quando se deu a nossa bancarrota em 1892, o poder de compra diminui, os portugueses vivem pior, a emigração disparou que conjugado com uma taxa de natalidade baixa, é a própria sobrevivência do nosso Portugal que está em causa. Além disso, temos a sensação que a nossa Justiça não funciona, a comunicação social em vez de informar manipula, nas redes sociais em vez de se potenciar a reflexão e o debate de ideias, predomina o "julgamento popular". Por sua vez, os partidos políticos, em vez de valorizarem e promoverem as suas ideias, ou até, se re-organizarem para serem capazes de apostarem na INOVAÇÃO DE NOVAS POLÍTICAS que mobilizem os CIDADÃOS, preferem o "ping-pong" do mal-dizer do adversário. A abstenção já praticamente que ronda os 50% em quase todas as eleições, as pessoas não acreditam nos políticos, não percebem as mensagens, ou preferem aderir à "moda" de renegar o "animal político" que somos, de se desresponsabilizarem das decisões colectivas, de não se interessarem pela CIDADANIA e de acharem que não precisam de intervir, porque isso não lhes dá nada. Durante estes 50 anos, apesar dos feriados, não fomos capazes nas escolas, no espaço público de promover os nossos ideias Republicanos, criamos uma sociedade que valoriza a COMPETITIVIDADE INDIVIDUAL em detrimento, da COMPETITIVIDADE COLECTIVA, esquecemos que o segredo do sucesso económico e social, está na CIDADANIA e por isso, a DEMOCRACIA está doente e é preciso VOLTAR A CASAR A NOSSA REPÚBLICA COM <<A PORTUGUESA>>.
Excelente reflexão!
ResponderEliminarApesar de tudo o que possamos pensar, i.e. de estarmos longe e nossa "meta", foi já percorrido um longo caminho que convém ninguém se esqueça. A insatisfação e exigência foram algumas das característica humanas que nos permitiram percorrer esta "estrada".
Quando a dúvida a levanta, nada melhor do que olhar para trás e ver o tanto que avançamos. Haja ânimo e perseverança para continuarmos com vigor o nosso caminho.
Um abraço forte do teu amigo de "viagem", PGP