JOAQUIM DA SILVA GOMES |
Em todas as regiões ocorreram, ao longo dos tempos, episódios que ficaram na memória de muitas pessoas. São episódios que não apresentam veracidade absoluta e, por isso, não entram na vertente rigorosa da história. Apesar disso, são episódios que, num determinado momento, caracterizam uma época ou uma localidade.
A região do Minho está também marcada por vários desses episódios, que algumas pessoas vão guardando e transmitindo às gerações futuras. Um desses episódios terá ocorrido, à entrada da Falperra, em Braga.
A história, verdadeiramente hilariante, e que envolve quatro irmãos e uma mulher, conta-se em poucas palavras:
- Numa freguesia próximo de Braga existiam quatro irmãos, todos do sexo masculino. Eram jovens, fortes e bons praticantes do “jogo do pau”. Frequentemente deslocavam-se pelas festas e romarias da zona, onde habitualmente entravam em torneios dessa natureza e, em quase todos eles, saíam vencedores. Para além de fortes, os quatro irmãos eram, na sua fisionomia, muito parecidos.
Na mesma freguesia, existia uma jovem muito sensual e bela, sobrinha do padre da freguesia. Todos os domingos, um pouco antes da missa, a jovem Maria do Canto, como então ficou conhecida, deslocava-se para a igreja, onde compunha com rigor e beleza o templo religioso, de maneira a que o seu tio pudesse celebrar a eucaristia da forma o mais agradável possível para os fiéis.
Como acontece com frequência nestas situações, a jovem tornou-se no centro das atenções dos quatro irmãos. Todos, sem excepção, sentiam-se atraídos pela Maria do Canto. A questão é que esta não revelava preferência por nenhum deles, deixando-os loucos de ansiedade e de paixão.
Com o tempo, a ansiedade e o mal-estar entre os irmãos foi aumentando, ao ponto de todos concordarem na resolução definitiva deste problema. Foi então que combinaram encontrar-se num sítio isolado, descampado, na zona onde actualmente é a freguesia de S. Martinho de Sande, para desse modo lutarem violentamente entre todos, de tal forma que só um deles sobrevivesse. Claro que o vencedor apresentar-se-ia junto de Maria do Canto, como verdadeiro herói, e dessa forma poderia casar com a jovem.
Na violência e no calor da luta, os jovens foram morrendo, um a um, fruto das atrozes cacetadas de que eram vítimas. O último dos quatro irmãos, vencedor, portanto, mas também gravemente ferido, teve ainda forças para se deslocar junto do pároco da freguesia, onde lhe contou o sucedido, tendo falecido poucos momentos depois.
O pároco, absolutamente aterrado com tal episódio, para mais envolvendo a sua sobrinha, ordenou que os quatro irmãos fossem enterrados no exacto local onde decorreu a violenta batalha, cobrindo cada um deles com uma enorme lage.
Com o passar dos anos, o episódio foi sendo do conhecimento público, de tal forma que as quatro pedras passaram a ser objecto de culto por todas as pessoas que por ali passavam. O próprio local onde decorreu este combate ficou conhecido como o ”Lugar dos Quatro Irmãos”.
Evidentemente que em episódios deste género, só acredita quem quer, tal como muitas outras lendas que proliferam pelo país. Mas que é um episódio notável, penso que ninguém duvida. E envolvendo aspetos hoje centrais em qualquer bom romance ou filme: paixão e amor, violência e dramatismo!
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