HERMÍNIA MENDES |
22 de Outubro, era o dia do aniversário do meu pai.
Um dia muito especial. O dia de aniversário dos meus pais, 4 de Setembro da minha mãe e 22 de Outubro, do meu pai, foram sempre dias especiais.
Todas as datas eram especiais na nossa casa.
O meu pai era a pessoa com um humor fantástico e ao mesmo tempo um coração derretido. Com a minha mãe, comigo e com a minha irmã e com as duas netas que conheceu.
Choveu. E hoje pensei durante todo o dia, que não me lembro de chover no dia de anos do meu pai.
Certamente que há-de ter chovido muitas vezes, mas eu odeio chuva, abomino o inverno. Entristece-me, deprime-me. E todas as lembranças do meu pai são boas, alegres, trazem-me saudade, mas fazem-me sorrir.
Éramos uma família muito engraçada. Divertiamo-nos, falávamos muito e ríamos de tudo e de nada.
O meu pai dizia muitas vezes que éramos como os palermas: dizíamos as maiores parvoíces e ríamos...
Fomos muito felizes.
Eu tinha uma absoluta adoração pelo meu pai. Lembro-me de ser muito pequena e estar sempre à espera de ouvir o barulho do motor e depois ver chegar ao portão o Carocha vermelho escuro do meu pai. Ia a correr, sentava-me no banco da frente, agarrava-me à pega do tablier e ia de nariz encostado ao vidro, até à porta de casa. Que momento de felicidade.
Aos sábados de manhã íamos aos correios, que eram em frente á estação de caminho de ferro. Levávamos a nossa amostra de cão, o bólinhas, que era o primeiro a sair do carro e só entrava já em andamento. O meu pai arrancava e segurava na porta para o bólinhas saltar. E lá íamos os três. Á frente, sem cinto, num divertimento inigualável.
Depois nasceu a minha irmã e lá continuavamos noutro Carocha, também vermelho. Tirávamos a chapeleira e metiamo-nos na mala ínfima.
Os nossos pais levaram-nos a conhecer tudo.
Ambos sabiam muito de História de Portugal e não havia monumento que nos escapasse. Guerras, Batalhas, Reis, Palácios, Castelos. O que aprendemos..
Crescemos, estudamos, fomos ambas para Coimbra e lá estavam sempre os nossos pais.
A levar-nos de Amarante a Coimbra em dias de temporal, a aparecerem aos Domingos para almoçar, quando por causa dos exames, não podíamos vir a casa.
Adoravam-nos, adoravam os nossos amigos. Tínhamos e temos, uma sala enorme, com uma mesa também enorme, onde fazíamos grandes lanches e jantares, jogávamos às cartas e ao loto (no Natal), pela noite dentro.
Os nossos pais deram-nos tudo o que se pode dar a um filho. Tudo.
O nosso pai foi um grande Homem. De uma dignidade inatacável. De uma bondade sem fim, mas também muito bonito.
Moreno, de olhos castanhos, muito grandes e expressivos e um sorriso que raramente o abandonava.
Era o nosso pilar, o nosso faz-tudo, aquele que nunca nos abandonava.
Mas deixou-nos, vencido por um cancro fulminante, que lhe escondemos de todas as formas possíveis.
Fechou os olhos nos meus braços, no quarto da minha casa que será toda a vida o seu e onde dormíamos em camas separadas por uma mesa de cabeceira, que me permitia vigiá-lo toda a noite, sem que se apercebesse da minha aflição.
Nesse tempo, quando conseguia dormir, eu ficava a olhá-lo. A recordar tudo isto e muito mais. Cada dia das nossas vidas, cada conversa, cada piada e gargalhada.
Que saudades meu Pai! Que saudades meus pais! Deixaram-nos em 14 meses e nós julgavamo-los eternos!
Nesse dia, deveríamos ter jantado todos. Como fazíamos todos os dias, de resto. Como devíamos ter continuado a fazer até serem velhinhos...Se a vida tivesse deixado
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