quinta-feira, 27 de outubro de 2016

BURNOUT: O MONSTRO QUE HABITA EM NÓS..

MARIA AMORIM 
Burnout, a quem eu chamo o monstro e começo por dizer ...que habita em nós... sim, porque ninguém está livre de um dia entrar em Burnout, queimando-se literalmente, como a palavra indica. Porque Burnout deriva da palavra inglesa to burn out, que é como quem diz queimado de fora, ou totalmente queimado. 

Nos dias que correm, em que as exigências profissionais são cada vez mais, o reconhecimento profissional é cada vez menos e os salários são cada vez mais curtos, torna-se mais fácil a este pequeno monstro encontrar terreno propício para fazer estragos, sobretudo emocionais. O Burnout encontra terreno fértil sobretudo nos profissionais que lidam com pessoas, e, na sua atividade profissional, interferem ou influenciam diretamente a vida dessas pessoas, como é o caso de professores, assitentes sociais, médicos, bombeiros, policias, advogados, jornalistas e enfermeiros, e destes posso falar com conhecimento de causa.

Ser Enfermeiro exige cultivar a arte de cuidar e, cuidar exige tensão emocional constante, uma atenção permanente, em todas as suas dimensões. 

O Enfermeiro sente-se, na maioria das vezes, como se estivesse num fogo cruzado… 

O bem-estar do doente exige de si, os chefes exigem de si, a organização exige de si…

Todos esperam dele o melhor dos desempenhos, muitas vezes sem reconhecimento por esforços desmedidos.

O enfermeiro sabe que, na verdade, ele é que é o grande responsável e defensor do doente, sabe que, se cruzar os braços, quem sofre é o doente, não a organização.

Ele é só mais um...

Mesmo quando está a fazer o trabalho de dois, ou parece que os doentes se multiplicam, sabe que os doentes precisam de si...

E, num misto muitas vezes explosivo de sentimentos, o monstro silencioso começa a acordar 

…mas precisa da conjunção de alguns fatores para despertar... 

Burnout, a que eu, meio a brincar chamo monstro, é... Um estado de esgotamento físico e mental cuja causa está intimamente ligada à vida profissional, segundo Freudenberger, que foi o primeiro a observa-lo em si próprio e a estuda-lo depois.

É sobretudo um estado de tensão emocional e stress crônico provocados por condições de trabalho desgastantes.

Carateriza-se por exaustão emocional, em que a pessoa se sente exausto, sem força para enfrentar o dia a dia de trabalho, e tem uma permanente impressão de que está a trabalhar acima dos seus limites, por despersonalização, em que existe distanciamento emocional e indiferença em relação ao trabalho e ainda por redução da realização pessoal, em que desaparecem as perspectivas para o futuro, e aparecem sentimentos de incompetência e frustração. 

Evidentemente que existen fatores que predispoem ao aparecimento do Burnout, sobretudo quando existe já e tambem sobrecarga profissional, tais como insegurança em relação às tarefas, falta de condições para exercer o trabalho, emprego precário que gera sentimentos de insegurança, equipas em que não existe entreajuda, chefia que não suportam o trabalhador, os sentimentos de injustiça, ambiente de trabalho desmoralizador ou desmotivador.

Algumas causas relacionadas com o estilo de vida, quando há trabalho excessivo, sem tempo suficiente para relaxar e socializar, quando as espectativas criadas são muito elevadas, quando se assumem muitas responsabilidades, sem ajuda suficiente de outros profissionais, quando o sono não é suficiente, e também quando não existe retaguarda familiar. A personalidade do profissional é preponderante para o despertar do monstro, ou então para o aquietar e manter adormecido, personalidades com tendência perfeccionista, ou então com uma visão pessimista de si e do mundo, que têm necessidade de controlar, ou dificuldade em delegar tarefas, pessoas ansiosas, ou que não sabem dizer não, muito idealistas serão terreno mais propicio ao desenvolvimento do sindrome. A chamada personalidade do tipo A terá mais probabilidades de desenvolver Burnout, e neste tipo de personalidade as pessoas serão mais inquietas, mais insatisfeitas, com grau de ambição acima do que obtêm, falam com entoação emotiva e explosiva na conversação normal, envolvem-se em múltiplas funções, sentem um desejo contínuo de ser reconhecidas e de progredir, sao incapazes de relaxamento satisfatório, mesmo em épocas de folga, ou possuem ainda uma acentuada impulsão para competir.

São reconhecidos doze estagios no Burnout e são:

• Necessidade de se afirmar ou provar ser sempre capaz

• Dedicação intensificada.

• Descuido com necessidades pessoais

• Recalcamento de conflitos

• Reinterpretação dos valores (a única medida de auto-estima é o trabalho, desvalorização da família e amigos)

• Negação de problemas e desvalorização dos outros (cinismo, agressão)

• Recolhimento

• Mudanças evidentes de comportamento

• Despersonalização

• Vazio interior

• Depressão

• Colapso físico e mental 

O seu desenvolvimento é incidioso, normalmente, no inicio existe um estado de stress, de fadiga recorrente, com alguns problemas de adapatação menores, e ainda com problemas físicos ligeiros. Progressivamente aparece irritação fácil, impaciência, as relações com os outros ficam tensas, aparece a desilusão em relação ao trabalho, uma autocrítica culpabilizante até que a vida pessoal se começa a tornar tão insatisfatória como a laboral.

O monstro acordou e começa a tomar conta do seu território, com alguns sinais de alarme que devem ser tidos em conta, antes que seja tarde demais, distúrbios do sono, problemas digestivos, baixa importante da energia física, dificuldade de concentração, propensão para acidentes, desilusão em relação à profissão, apatia, falta de produtividade, atrasos sucessivos, reacções interpessoais frias... Antes de chegar à indiferença e posterior perda de controlo sobre o trabalho, é necessário pedir ajuda ou ser ajudado.

A melhor forma de manter o monstro adormecido é apostar na qualidade de vida, fora do trabalho, valorizar o tempo de descanso, dedicar-se a atividades que proporcionem prazer, procurar o auto conhecimento, saber onde deve agir para manter o equilíbrio físico e mental que permita enfrentar as pressões do trabalho de forma positiva, fazendo do stress um motor de desenvolvimento profissional. Ter presente que o equilíbrio é a melhor forma de manter o monstro a dormir....

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