VERA PINTO |
“Mas que vício! Nunca te disseram que é feito roer as unhas?!” certamente se identificarão com esta situação. Quem de nós nunca roeu as unhas numa situação mais stressante ou conhece alguém que o faça? O hábito de roer as unhas das mãos e/ou dos pés recebe o termo técnico de onicofagia. Trata-se na maioria dos casos, de um problema desvalorizado pela generalidade das pessoas e, infelizmente por muitos clínicos. Roer as unhas não deixa apenas danos estéticos. As mãos e os pés são excelentes portadores de vários microrganismos que encontram debaixo das unhas as condições ideais à sua sobrevivência. Ora, roer as unhas constitui uma excelente forma de transporte de vírus, bactérias ou fungos que podem veicular várias doenças. Roer as unhas pode também danificar a pele em volta da unha e em casos mais extremos ferir os dedos ou até mesmo a base das unhas (cutícula), abrindo uma porta de entrada para infeções. Algumas das consequências diretas mais desagradáveis da onicofagia passam por deformações nos dedos e da pele ao seu redor, bem como pela destruição da própria matriz ungueal e a futura ausência de unha. As deformações nas unhas causadas por este vício podem levar a constrangimentos na vida quotidiana e a limitações profissionais – restringindo o uso das mãos nas mais diversas atividades (por exemplo, escrever, desenhar, tocar instrumentos de corda, dirigir, etc.). Este hábito pode também prejudicar a musculatura do maxilar e a articulação da mandíbula, desgastando o esmalte dos dentes e tornando-os mais suscetíveis a fraturas, cáries e gengivites. A maioria das pessoas que roem unhas precisam de tratamentos ortodônticos. Para aqueles que, além de roer, também engolem as unhas, o cenário pode piorar, levando ao aparecimento de problemas gastrointestinais, como esofagite infeciosa (inflamação do esófago), gastrite e até apendicite.
O hábito de roer as unhas é comum em crianças a partir dos três anos e pode manter-se durante a infância, adolescência ou mesmo na vida adulta independentemente do sexo. Atinge cerca de 29% da população mundial e pode não ter uma explicação científica, pois nem sempre o facto de roer as unhas provém de algum tipo de distúrbio psicológico. Regra geral, as pessoas que sofrem de onicofagia recorrem ao vício quando estão frustadas, nervosas, ansiosas, sob qualquer emoção negativa, ou pelo contrário, perante períodos de tédio ou fome. Contudo, o hábito também pode ser causado pela imitação (crianças imitam adultos que roem unhas e ficam com esse hábito). Na maioria das situações, a onicofagia acaba por desaparecer ou deixar pequenos “tiques”, como uma mordiscadela de vez em quando. Em alguns casos, a mania cresce com o indivíduo até à idade adulta. Nessas situações, e também naquelas em que se encontram associadas disfunções psicológicas, emocionais ou sociais, é necessária a intervenção de um profissional que auxilie na cessação deste hábito. Mas isso nem sempre acontece, pois na maior parte dos casos as pessoas com onicofagia não procuram ajuda e muito menos pela onicofagia em si mesma. No entanto, este é um problema que pode e deve ser tratado quando se torna crónico e persistente. Mais do que uma mania a onicofagia deve ser encarada como um sintoma e não como uma patologia pelo que o sucesso do tratamento requer a identificação das situações que levam a pessoa a roer as unhas. Existem várias estratégias para ultrapassar este vício, como manter as unhas bem cortadas evitando que as pontas mal cortadas sirvam de tentação, arranjar, limar e pintar as unhas, ou mesmo usar vernizes de sabor amargo que travem o ato irrefletido quando se leva as unhas à boca. Porém, estes métodos por si só não garantem o controlo da onicofagia. Como qualquer vício, a força de vontade é imprescindível para quem pretende superar este hábito.
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