MANUEL DAMAS |
Onde pára a Londres fleumática, sempre correta, que se tornou a imagem iconográfica de um povo…o londrino de fato e de guarda chuva, os clássicos autocarros vermelhos de dois andares, as cabines telefónicas igual e iconograficamente vermelhas, os extraordinários museus, os polícias ingleses com o típico capacete preto ovalado, o kilt que na realidade nunca foi inglês mas sim escocês, o chá acompanhado de scones, a corte britânica encimada pela insubstituível Rainha Isabel II mas, acima de tudo, a calma, a cortesia, a educação, a fleuma britânicas?
Claro que podemos alegar que a Inglaterra tem, hoje, uma população de 64,6 milhões de habitantes e que os tempos mudaram.
Acrescentar, inclusive, que a Migração anual atinge, na atualidade, cerca de 330 mil pessoas por ano. E no que se refere a Londres, cuja população ronda os 8,5 milhões de habitantes, cerca de metade não é inglesa.
Podemos até, elencar que serão efeitos indiretos da gentrificação (a tal que um caricato, para não dizer outra coisa, proto líder autárquico português tentou desvirtuar referindo-se a uma pseudo “gentrificação inversa” fato que até a mim, “open minded” deixou desconcertado, pela falta de contextualização mas acima de tudo, pelo inusitado e pela noção totalmente errada evidenciada no que ao conceito inicial se referia) e da miscigenação cultural. A acrescentar, também, os efeitos diretos e indiretos da aculturação.
Mas tudo isso basta para conceber semelhante adulteração de uma população?
De deterioração total de princípios e de valores?
Da emergência preocupante de factos e realidades socio culturais extraordinariamente preocupantes?
Tudo isso chega para que Londres seja, na minha opinião, a maior mentira melhor vendida em toda a Europa?
Reflitamos então…
Reportemo-nos a Londres, com as devidas e necessárias adaptações e extrapolações a todo um País que continua a insistir na designação Reino Unido quando é mais do que evidente que de unido nada tem, realidade totalmente desnudada com o recente Brexit e a mais do que evidente desmembração de tão falso conceito, com a Escócia a exigir a sua libertação, sob a batuta de Nicola Sturgeon e a Irlanda do Norte a agitar, também ela, a saída deste pretérito Reino Unido, mesmo que para assim se veja obrigada à amada mas simultaneamente odiada unificação com a República da Irlanda.
E nem sequer nos podemos esconder sob a desculpa de que Londres é, já, uma Cidade Estado a fazer lembrar a Antiguidade.
Senão vejamos…
Falamos de uma Londres que viu a criminalidade disparar nos últimos anos, atingindo números epidémicos e com predomínio dos crimes de esfaqueamento. Para que se saiba os mais recentes dados revelados, há dias, pela Polícia Metropolitana referem que mais de 4.000 (4015 para ser conciso) pessoas (das quais 1751 com idades abaixo dos 25 anos) foram vítimas de ataques com faca nos últimos 12 meses, atingindo os valores mais elevados dos últimos cinco anos, com 11 pessoas, em média, a serem vítimas de ataque com arma branca, por dia. Sim, por dia…
Acresce que os ataques com arma de fogo também aumentaram, ainda que em menor escala.
Falamos de uma Londres que viu os números de Doenças Sexualmente Transmissíveis disparar em 2015, com a Sífilis em lugar cimeiro, segundo dados revelados recentemente pela “Public Health England”, com 2811 novos casos diagnosticados (incidência e não prevalência) em Londres e com um preocupante aumento de 22% relativamente a dados em igual época mas em 2014. De referir que desde 2010 os casos detetados sofreram um aumento de 163% com os números, em Londres, a serem o triplo dos resultados detetados no resto do País. Acresce que 36% dos casos incidem na faixa etária dos 15 aos 24 anos, a comprovar a falta de qualidade da Educação Sexual que, ainda que existente, não tem visto a mensagem conseguir passar, quer em qualidade, quer em quantidade. Se incluirmos todas as Doenças Sexualmente Transmissíveis então chegamos a valores, para 2015, de 42 457 novos casos detetados em jovens só em Londres e um total de 118 774 para a totalidade da população londrina. Claro que, para esta realidade assustadora tem contribuído, também e em larga escala, a recente moda das “chemsex” (atividade sexual com múltiplos parceiros, desprotegida e sob a influência de drogas desinibidoras como a “crystal meth”). Há, mesmo, especialistas que aventam estarem estes dados sub avaliados pela diminuição que se tem observado na realização de testes de deteção de DST’s.
Falamos de uma cidade e em consequência de um País com um gravíssimo problema de alcoolismo, com especial incidência entre a Juventude, com as admissões hospitalares e mesmo as mortes por consumo exagerado de álcool a aumentar em simultâneo. Segundo dados da “Health and Social Care Information Centre” em 2014/15 1,09 milhões de pessoas (das quais 65% homens) foram internados em instituições hospitalares por problemas de álcool comparativamente com 1,06 milhões em 2013/14. Destes números resultaram 6830 mortes em 2014. Mas, mesmo assim, continua a decorrer em Londres a competição anual “Beer mile world classic competition” em que os corredores têm que beber uma cerveja a cada volta da competição em corrida de 4 voltas…
Falamos de uma cidade e em larga escala de um País em que 1 em cada 14 adultos foram vítimas de abuso sexual na infância, dados revelados recentemente pelo “Office for National Statistics” e quando se encontra a decorrer, desde 2014 o “Independent Inquiry into Sexual Child Abuse” (IICSA) para averiguar a situação do abuso sexual de crianças em Inglaterra nos últimos 60 anos. Por acaso ou talvez não este estudo, que tem um orçamento de 100 milhões de libras assistiu, já, à demissão dos dois últimos Presidentes da Comissão…
E muitos outros exemplos, dados e realidades poderiam ser chamados à colação.
Assim sendo, mais não resta do que dizer…
God save London.
God save England…if possible.
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