sábado, 8 de outubro de 2016

SETE CIDADES: EM BUSCA DO SILÊNCIO PERDIDO

CARLA LIMA
Sete Cidades é uma freguesia portuguesa pertencente ao concelho de Ponta Delgada, na Ilha de S. Miguel, nos Açores. Tem aproximadamente 20 km² de área e 800 habitantes. Localiza-se no interior da caldeira do vulcão das Sete Cidades. O nome da freguesia tem raízes nas lendárias Sete Cidades do Atlântico.

Nas Sete Cidades existe uma Lagoa com o mesmo nome. Esta Lagoa é dividida por uma ponte que faz com que pareçam duas, uma verde e outra azul. Este fenómeno tem a ver com a paisagem circundante e o céu e os seus reflexos. Mas existem diferentes lendas para explicar este facto. Escolhi esta por ser a minha preferida.


“Conta a lenda que há muitos, muitos anos, no lugar onde hoje fica a freguesia das Sete Cidades, existia um grande reino onde vivia uma jovem princesa de olhos azuis, muito bela e bondosa. A princesa gostava muito da vida no campo e uma das suas actividades favoritas era passear pelos campos, sentindo o cheiro das flores, molhando os pés nas ribeiras ou apenas apreciando a beleza dos montes e vales que rodeavam o reino. Um dia, durante um dos seus longos passeios, a jovem princesa passou por um prado onde pastava um rebanho. Ali perto, tomando conta do seu rebanho, estava um simpático pastor de olhos verdes, com quem a princesa decidiu conversar. A princesa e o pastor falaram muito. Falaram dos animais, das flores, do tempo e de todas as coisas simples e belas que os rodeavam. Depois deste encontro, os dois passaram a encontrar-se todos os dias para conversar. Os dias e as semanas foram passando, e a princesa e o pastor continuaram a encontrar-se diariamente no mesmo lugar onde se tinham conhecido. Com o passar do tempo, foram-se apaixonando e acabaram por trocar juras de amor eterno. Mas a notícia dos encontros da princesa com o pastor acabaram por chegar aos ouvidos do rei, que não ficou nada satisfeito. Queria ver a sua filha casada com um príncipe de um dos reinos vizinhos e, por isso, proibiu-a de voltar a ver o pastor. Por respeito ao pai, a princesa aceitou esta cruel decisão, mas pediu-lhe que a deixasse ir só mais uma vez ao encontro do pastor, para se poder despedir dele. Sensibilizado, o rei disse-lhe que sim. A princesa e o pastor encontraram-se pela última vez nos verdes campos onde se conheceram…Mais uma vez, passaram o tempo a falar longamente sobre o seu amor e igualmente sobre a sua separação. Enquanto conversavam, choravam também. 
E choravam tanto, que as lágrimas dos olhos azuis da princesa correram pelo vale e formaram a lagoa azul; já as lágrimas dos olhos verdes do pastor caíram com tanta intensidade que formaram a lagoa de água verde. Por fim, os dois amados despediram-se e as lágrimas choradas pela sua separação formaram duas lagoas que ficaram para sempre juntas - tal como os dois enamorados, nunca se poderiam unir, mas também nunca se iriam separar. Uma é a Lagoa Azul, a outra é a Lagoa Verde: são chamadas de "Lagoas das Sete Cidades". Nos dias de sol mais brilhantes, as suas cores são tão intensas que quase se consegue imaginar o olhar apaixonado do pastor dirigido para a sua princesa.”


Só mais uma curiosidade. A Lagoa das Sete Cidades é considerada uma das 7 Maravilhas Naturais de Portugal.

Sendo a freguesia muito pequena existem poucos sítios, sem serem paisagísticos, a visitar. Uma das atracções é a Igreja de São Nicolau, inaugurada em 1852 e de estilo arquitectónico neogótico. Uma particularidade é a alameda de criptomérias que nos leva à Igreja e que em dias de chuva e nevoeiro lhe confere um “ar misterioso”.

Outra das atracções é o Túnel das Sete Cidades. Este Túnel localiza-se entre as Sete Cidades e os Mosteiros, que ficam à beira-mar. Terá sido construído entre 1930 e 1937 e tem cerca de 1200 metros, para permitir o escoamento das águas das lagoas, evitando que a freguesia fosse inundada. Antigamente também servia para as populações das duas localidades irem de uma freguesia para a outra e ainda para trocas comerciais.

Aos mais aventureiros que decidirem fazer esta travessia convem levarem lanternas, botas de cano e não ter medo de ratos.

Para dormir, não faltam opções para todas as carteiras. Desde turismo rural, até sítios mais caros, como é o caso do Sete Cidades Lake Lodge, que são bungalows de luxo no meio da natureza.

Para comer também não faltam restaurantes ou tasquinhas com as comidas típicas.

Mas o melhor mesmo das Sete Cidades é a paisagem pitoresca e o silêncio. E também a ruralidade e a “inocência” deliciosa do campo. Na minha opinião, acho que é dos poucos sítios na ilha que o turismo “em excesso” ainda não fez mossa. Conseguimos fazer um piquenique num sítio esconso numa das margens da Lagoa sem sermos abalroados, de repente, por um autocarro de turistas. Não tenho nada contra o turismo em massa, mas acho que foi demasiado repentino e em certos sítios não me sinto na minha ilha…Foi um desabafo!

Mas não podemos falar em Sete Cidades sem mencionar o Miradouro da Vista do Rei. Este Miradouro situa-se antes de começarmos a descer para a freguesia. E é um ponto de paragem obrigatório devido à vista maravilhosa sobre a Lagoa das Sete Cidades, a costa sudoeste e o Oceano Atlântico. Este miradouro deve o seu nome ao facto de naquele local terem estado o rei D. Carlos e a rainha D. Amélia apreciando a vista, aquando da sua visita a São Miguel, em 1901.

Para terminar tenho de falar no Hotel Monte Palace, que se situa neste Miradouro . Que também acaba por ser uma atracção turística devido à sua triste história e também ao seu “ar sinistro”.

O Hotel Monte Palace, antigo 5 estrelas, foi o primeiro Hotel de luxo dos Açores.

Funcionou cerca de ano e meio, de Abril de 1989 até finais de 1990. Permaneceu fechado até 2011 sob a vigilância de guardas e cães que, por falta de pagamento, abandonaram o edifício, ficando este entregue ao caos total e ao vandalismo.

O Hotel possuía 88 quartos, dos quais uma suite presidencial, 4 grandes suites de luxo, 4 quartos duplos com saleta, 27 quartos duplos e 52 suites juniores. Possuía ainda 2 restaurantes, um bar, três salas de conferência, uma discoteca, um banco, um cabeleireiro, cofres fortes, uma tabacaria, boutiques e outras lojas.

Eu cheguei a visitar o Hotel em funcionamento quando era pequenina e era LINDO! Mas, infelizmente, acho que veio antes do tempo.

Recentemente, o Monte Palace voltou a ser notícia por acolher uma obra do artista espanhol Javier de Riba, no âmbito do festival de arte pública Walk&Talk.

Para terminar só tenho a dizer que quem procura um refúgio do rebuliço da cidade ou do dia-a-dia ou precise de descansar e “desopilar a cabeça”, não há lugar como as Sete Cidades.

“O silêncio é um amigo que nunca trai.”

Confúcio

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